Confesso que resisti um pouco a fazer este tipo de coisas, mas à falta de assunto melhor, confesso, decidi-me a este excercício. Portanto, desde já vou avisar que isto vai ser mais longo do que o habitual. Mas afinal de contas, é apenas a visão pessoal de algo que toda a gente fez ou está a fazer neste gelado final de ano um pouco por toda a blogosfera automobilistica: as eleições para os melhores pilotos do ano.
Foi uma temporada longa e algo polémica, onde ganhou o que errou menos. Mas para mim, agrada-me esse "factor humano". Não sou fã de "máquinas" embora saiba que mesmo aquelas temporadas ditas dominadoras tem o seu lado bom, pois as máquinas que dominam mais rapidamente se tornam lendas. Mercedes W196, Lotus 79, McLaren MP4/4, Williams FW14 e Ferrari F2004 são os melhores exemplos de máquinas lendárias em temporadas chatas. Mas agora vou falar do meu "top cinco" de 2010, mais uma menção honrosa. E para isso, vou começar do fim.
Quinto lugar - Robert Kubica
Pouca gente julgava no inicio do ano que Robert Kubica iria fazer algo numa Renault que estava a "arrumar as malas". O "Crashgate" ainda estava fresco na memória, Fernando Alonso pouco ou nada tinha conseguido com o chassis anterior e no final da temporada passada tinha vendido 75 por cento da equipa à Genii Capital, de Gerard Lopez. Para piorar as coisas, o segundo lugar tinha sido "leiloado" e a melhor oferta caiu a Vitaly Petrov, que assim se tornou no primeiro russo a correr na Formula 1. Com Kubica a vir de uma má época na BMW Sauber, pensava-se que tinha caido numa nova armadilha, mas afinal... até conseguiu muito com o chassis que tinha à mão.
Kubica acabou com 136 pontos e o oitavo lugar do Mundial. Conseguiu três pódios e andou regularmente nos lugares da frente, tendo conseguido pontuar em quinze das dezanove ocasiões, com uma volta mais rápida no Canadá. Conseguiu ser superior a Vitaly Petrov e conseguiu também valorizar uma equipa que no inicio do ano estava era séria candidata a desaparecer no final da temporada. Afinal, a temporada de 2010 poderá ter dado uma nova vida ao piloto polaco, um sinal de que a sua carreira não andou para trás. Vai-se ver como será a temporada de 2011, caso a Renault consiga projectar um carro digno do motor que traz...
Quarto lugar - Mark Webber
Tenho plena consciência de que colocar Mark Webber num "top five" é um exercício de risco. Mas não posso ignorar o facto de que ele esteve perto de alcançar um título mundial inédito, e tenho também consciência de que até pode ter sido a sua unica oportunidade e de que pode passar à história como "o novo Clay Regazzoni" ou um "novo Carlos Reutemann". Mas quer se queira, quer não, Mark Webber teve o seu melhor ano de sempre, ganhando por quatro vezes, fazendo cinco pole-positions e conseguindo o terceiro lugar do campeonato. Tudo isso, claro, num chassis Red Bull.
Houve uma altura em que Webber aproveitou bem as "asneiras" do seu jovem companheiro Sebhastien Vettel, e houve o famoso comentário "nada mau para um segundo piloto" após a sua vitória em Silverstone, e parecia que bastaria ser regular para conseguir aquilo que Alan Jones tinha conseguido trinta anos antes. Lutou até ao fim, é certo, mas o seu acidente na Coreia e a excelente parte final da época por parte do seu companheiro fez com que perdesse essa oportunidade. E a sua corrida em Abu Dhabi, demasiado cinzenta para um candidato ao título, fez pensar nos exemplos do passado acima referidos, pois para além do facto de ser um bom piloto num carro excepcional, já tem 34 anos, quase onze a mais que o seu jovem companheiro Sebastien Vettel.
Contudo, quer queiramos, quer não, Mark Webber fez uma época excepcional.
Terceiro lugar - Lewis Hamilton
A razão pelo qual coloco Lewis Hamilton no lugar mais baixo do pódio tem a ver mais com o seu estilo de pilotagem do que com os resultados conseguidos pela McLaren, bem como o papel de "joker" que teve na parte final da temporada, quando as suas hipóteses de título passaram a ser meramente matemáticas. O chassis não foi o melhor do ano e Hamilton desistiu na pior altura possivel - Itália e Singapura - quando era um bom candidato ao título. Está aqui mais graças ao seu estilo de condução que paradoxalmente, o colocou fora do título.
Com Jenson Button como novo companheiro de equipa, com o numero um no seu carro, muitos julgavam que Hamilton o iria bater facilmente, dado que ele seria "o braço" da McLaren. Conseguiu superar Hamilton, venceu três corridas, mas foi muito mais dificil do que ele julgava, pois Button levou duas para casa e deu muita luta.
Com a entrada de Button na equipa de Woking, e a entrada dos novos regulamentos na Formula 1 também se viu com clareza o estilo do piloto britânico, pois a sua agressividade fez desgastar os pneus mais rapidamente, em claro contraste com a maior frieza e calculismo do campeão do mundo de 2009. Aproveitou bem os problemas dos seus adversários a meio do ano para vencer duas corridas consecutivas e algumas pole-positions, sendo a mais polémica no Canadá, e parecia que ele poderia ser o principal adversário dos Red Bull. Mas os seus excessos de pilotagem fizeram desperdiçar essa vantagem alcançada no meio do ano, pois caso fosse mais "conservador", muito provavelmente teria acabado numa melhor posição do que o quarto lugar final.
E em relação a Button: superou-o, mas por pouco.
Segundo lugar - Fernando Alonso
Fernando Alonso gera paixões e ódios. Quase toda a gente louva o seu estilo de condução e a sua capacidade de retirar o melhor do seu carro, mas em relação ao factor humano, ou se ama ou se odeia. Sente que para render ao máximo tem de ter toda a equipa à sua volta, e parece que a Ferrari é a sua equipa ideal, pois faz tudo para ajudar o seu piloto a alcançar os objectivos que tem a cada temporada: ganhar tudo. A tradição, o dinheiro e o prestigio obrigam a isso, e quando a Scuderia o garantiu, no final de 2009, espanhois e italianos festejaram a sua contratação, convencidos de que o título de 2010 era deles.
O chassis era bom, e o piloto das Asturias era capaz de tirar o melhor partido dele, e parecia que as indicações dadas na corrida de abertura, no Bahrein, pareciam dizer isso. Mas a longa temporada demonstrou que as coisas não eram bem assim. Primeiro, os problemas técnicos, com os motores a rebentar em catadupa, e depois os problemas em algumas corridas, bem como alguns erros crassos dele (qualificação no Mónaco) na equipa (corrida de Silverstone), causaram dúvidas. Mas depois veio a polémica do GP da Alemanha, onde o seu bom fim de semana nos treinos foi ensombrada pela vitória "fabricada" pela equipa, quando o seu companheiro Felipe Massa teve de ceder. Apesar de ser uma decisão da equipa, Fernando Alonso pagou por tabela.
Mas irónicamente, foi ali que começou a sua melhor parte da temporada. Nas oito corridas seguintes, salvo a sua desistência na Belgica, venceu quatro corridas e subiu ao pódio em mais três ocasiões, que foi numa altura em que estiveram "na corda bamba" devido ao limite dos motores. Houve provas excepcionais, como Singapura e Coreia do Sul, e mesmo quando os Red Bull estavam em dia sim, ele era o primeiro dos outros, conseguindo pontos preciosos para o campeonato. Contudo, a má tática da Ferrari em Abu Dhabi, ao "marcar" Webber, dando "rédea solta" a Sebastien Vettel, fez com que perdesse o título. E o seu gesto de desespero perante Vitaly Petrov, que simplesmente fez o seu trabalho, foi apenas um sinal de frustração de que esteve perto, mas não conseguiu.
Primeiro lugar - Sebastien Vettel
Sim, ele é o campeão. Mas merece-o porque trabalhou para lá chegar, aproveitando o excelente chassis desenhado por Adrian Newey. Pode ser muito cedo para sê-lo, pois apenas têm 23 anos - tornou-se no mais jovem de sempre, batendo Lewis Hamilton - mas merece-o totalmente. Isto é o culminar de todo um potencial que demonstrou desde meados de 2007, quando correu na Toro Rosso em substituição do americano Scott Speed. Depois de ter corrido no GP dos Estados Unidos pela BMW em substituição do acidentado Robert Kubica, e ter terminado no oitavo lugar, a Toro Rosso foi o estágio ideal para demonstrar o seu talento, e aos 21 anos venceu o GP de Itália, numa Monza totalmente alagada pela chuva.
Vendo bem as coisas, no momento decisivo, ele conseguiu. Ao vencer três das últimas quatro provas do ano (poderia ter conseguido o pleno se o motor Renault não tivesse rebentado na Coreia), demonstrou ter aquela fibra de campeão. E também aquela excepcional ponta final também compensou os erros crassos que cometeu em provas como a Turquia, onde colocou o seu companheiro de equipa fora de combate, na Grã-Bretanha, onde tocou nele, partiu o nariz e perdeu tempo, e na Hungria, onde sofreu uma penalização devido a ter demorado demasiado tempo para reagir ao Safety Car. Em suma, teve três momentos para esquecer, equilibrados com três corridas memoráveis.
E para além disso, Vettel é campeão do mundo nas perferências dos fãs. Tem um estilo descontraído e brincalhão, para além de ser incrivelmente rápido nas qualificações (conseguiu nove pole-positions) e parece adorar genuinamente ser piloto de Formula 1, tal como Lewis Hamilton. São ambos competitivos e adoram o que fazem.
Menção Honrosa - Kamui Kobayashi
Aqui poderia caber também Nico Hulkenberg, mas eu vejo as coisas por toda a temporada e não por esta ou aquela corrida. O ponto alto do alemão foi a pole-position no Brasil, mas o japonês deu nas vistas ao longo do ano, com as suas ultrapassagens no limite em sítios como Valencia, Suzuka e até... Abu Dhabi. Mas o japonês de 24 anos, que a Toyota lhe deu uma oportunidade nas duas últimas corridas de 2009, agarrou-as bem e lhe deu uma chance de correr em 2010, pela Sauber. A sua juventude, rapidez e o seu estilo aguerrido colocou facilmente no canto o veterano espanhol Pedro de la Rosa, e também outro veterano, o alemão Nick Heidfeld. Foi ele que deu a grande maioria dos pontos para a Sauber e grande parte das vezes que conseguiu colocar o carro na Q3. Se nao fossem as quebras do motor Ferrari nas primeiras corridas, talvez já tivesse pontuado muito antes do GP da Turquia, onde chegou no décimo lugar.
Já se sabe que para primeira temporada, deu-se imensamente bem. É extremamente veloz e não tem medo de arriscar. Mas falta saber mais algumas coisas para saber se é diferente dos outros pilotos japoneses, e se é capaz de ser piloto para ganhar. Mas falta saber se aprende com os erros, quando os cometer, e saberá ser consistente. E a consistência é a outra parte das capacidades de pilotagem de qualquer campeão. Ou pelo menos mostrar-se capaz de voar mais alto numa escuderia com outras ambições...
Mas para 2010, Kobayashi é o meu "Rookie do Ano", embora já conte com duas corridas de 2009 atrás de si...
Para finalizar, pode-se dizer que em 2011 a batalha tem muitas hipóteses de continuação, com alguns novos elementos em vista. Caso Ferrari, McLaren e Red Bull mantenham a competitividade, poderão enfrentar o desafio da Mercedes ou uma Renault mais forte, para além de incógnitas como a Sauber, Force India e Lotus. Mas isso será abordado numa próxima oportunidade.