"A chuva era incrível - não se via nada! Não via os meus pontos de referência para as travagens, nem o carro à minha frente (...) nem queria pensar o que acontecia atrás de mim. O circuito é estreito e mesmo com boa visibilidade é difícil ver onde estamos.(...)"
"Depois [de chegar à liderança] foi andar o mais depressa possível. Duas voltas depois tinha uma vantagem de 34 segundos e continuei a aumentá-la, sempre com o cuidado de não pisar qualquer poça. A três voltas do fim, achuva aumentou. Havia rios cruzando a pista. Perto do Karrussel, o carro fugiu, o motor morreu, derrapei em direcção a um comissário, ao lado de uma árvore. Quando ele saltou para um lado, vi que o ia atropelar, mas aí os pneus aderiram e retomei o controlo do carro. Quando Graham Hill chegou a esse local, saíu de pista, mas o comissário tinha mudado de local..."
"(...) Foi uma vitória esfuziante para mim, mas fiquei ainda mais feliz por acabar a corrida. Esta foi talvez a maior ambição quanto a ganhar em circuito. Aquela corrida jamais deveria ter sido realizada e tê-la ganho com tal vantagem deu-me credibilidade sempre que pedia algo a favor da segurança".
Jackie Stewart temia Nurbugring. Não era por acaso que o chamava de "Inferno Verde". Sempre que fazia a viagem para o circuito, da sua casa que tinha na Suíça, olhava para trás, pensando se iria voltar daquela vez. Naquele ano de 1968, numa temporada onde tinham visto quatro pilotos a morrerem, quase todos num dia 7, correr no Nordschleife era um desafio. Mas correr naquele lugar quando havia nevoeiro, frio e chuva, o desafio era bem maior. A mesma coisa acontecia com Spa-Francochamps, mais curto - 14 quilómetros - mas igualmente perigoso.
A partida aconteceu uma hora mais tarde, devido ao mau tempo. E a tática de Stewart, sexto na qualificação, foi de chegar à frente o mais possível e depois ir embora, pois sabia que o "spray" dos carros prejudicava bastante a condução. O escocês demorou uma volta para fazer, e no final da primeira volta, já tinha nove segundos de avanço. E depois alargou, alargou, alargou... até chegar aos quatro minutos, meia volta à pista. Mais de onze quilómetros.
Uma grande corrida do qual todos aplaudiram, e do qual o escocês reconhece que foi a sua melhor corrida da sua carreira. E isso também foi importante na causa que defendia na altura: a da segurança. Ele queria melhores circuitos, melhores carros, mais resistentes, e que premitiam dar ao piloto uma possibilidade de sobrevivência. Na altura, Stewart era chamado de "cobarde", mas depois do que tinha feito naquele dia, a sua voz era mais respeitada. E as coisas evoluiram muito. Os circuitos foram modificados, melhorados. Os carros foram melhorados. Aos poucos, as possibilidades de uma morte porque o carro pegou fogo diminuíram, mas foi apenas doze anos depois, quando a Formula 1 começou a construir os seus chassis em fibra de carbono, a resistência aumentou bastante.
Contudo, o medo da morte ainda pairava. Tanto que no final da corrida, perguntou a Ken Tyrrell sobre a concorrência:
- Não. Todos sobreviveram.
De uma certa maneira, quebrou-se ali uma certa maldição. É óbvio que iria acabar algum dia, o azer não dura para sempre, e ninguém é assim tão supersticioso, mas naquele circuito e naquelas circunstâncias, até foi bom que se tenha quebrado esse temor, essa espada que pairava sobre os pilotos.