(continuação do capitulo anterior)
O REGRESSO DO GRANDE PRÉMIO DE FRANÇA
Na Europa, o regresso do automobilismo era ainda lento, mas em 1912, as coisas eram mais firmes. A economia melhorava e as marcas de automóveis estavam mais dispostas a voltar a apostar no automobilismo, principalmente em França. E foi nesse sentido que a ACF decidiu voltar a organizar o seu Grande Prémio, quatro anos depois da última vez, depois do ensaio do ano anterior, em Le Mans. Marcou uma corrida em Dieppe, e decidiu fazer tudo em grande. 1546 quilómetros de extensão, ao longo de dois dias.
Contudo, para evitar o fracasso e a chacota da imprensa, que tinha acontecido no ano anterior, a organização decidiu juntar os carros de Grande Prémio com os carros das Pequenas Viaturas, realizando as corridas em simultâneo. Assim sendo, a Peugeot, que normalmente era a grande favorita nessa categoria, iria disputar de igual para igual com carros como a Fiat, nitidamente de Grande Prémio.
No total, 47 carros foram inscritos, mas desses, 33 eram Pequenas Viaturas, Contudo, a armada Peugeot, com Georges Boillot, Jules Goux, Paolo Zucarelli, estava mais postado nos carros de Grande Prémio, com o modelo L-76, para fazer face à Fiat, que inscrevia três carros, guiados respectivamente pelo francês Louis Wagner, e pelos americanos David Bruce-Brown e Ralph di Palma. Havia também os Lorraine-Dietrich, guiados por Paul Bablot, René Hanriot, Victor Heim e Victor Hémery.
Do lado das Voiturettes, havia os Sumbeams ingleses guiados por Victor Rigal, Dário Resta, Gustave Callois e Emile Medinger, outra marca inglesa, a Arrol-Johnson, tinha Richard Wyse, James Reid e A. Crossman; os franceses Sizaire-Naudin alinhavam com Georges Sizaire, Thomas Schweitzer e Loius Naudin, os Gregoire de Eugene Renaux, Mário Romano, Philippe de Marne e Léon Collinet; os Singer de Frank Rollason e Bramell Haywood e e por fim os Calthorpe, com Pierre Garcet, Ligurd Hornsted e Fred Burgess.
A 25 de junho, pelas 5:30 da manhã, começava o Grande Prémio. O primeiro a largar na categoria principal foi o Lorraine-Dietrich de Victor Hémery, enquanto que do lado das Pequenas Viaturas, foi o Sunbeam de Victor Rigal. Cedo se verificou que a luta era entre Peugeot e Fiat, com Bruce Brown a ser mais veloz e a acabar o primeiro dia com um avanço de 37 minutos e 18 segundos sobre o Peugeot de Boillot, e o outro Fiat de Wagner.
Foi nessa altura que se viu os sistemas de reabastecimento das duas marcas. Enquanto que a Peugeot usava um sistema de pressão, a Fiat usava uma lata de combustível e um funil, algo mais lento. Para além disso, as jantes de madeira dos italianos eram mais frágeis e demoravam mais tempo do que os pneus destacáveis dos Peugeot, que tinham cubos de extração rápida.
Mesmo assim, a condução dos italianos era melhor, para além de beneficiarem de alguns problemas na Peugeot. Zucarelli tinha desistido com problemas de ignição, enquanto que Goux tinha sido desclassificado por ter reabastecido fora da zona das boxes, devido a um rotura no depósito de combustivel. Mas a Fiat não se poderia rir muito: Ralph Di Palma tinha sido desclassificado por reparar o carro fora das boxes.
No final do primeiro dia, para além dos três primeiros, a melhor "voiturette" estava no quarto lugar, com o Sumbram de Dário Resta, que tinha superado alguns dos carros de Grande Prémio. Outro dos que acabou o primeiro dia foi o Lorraine-Dietrich de René Hanriot, mas um fogo durante a noite o impediu de alinhar no dia seguinte.
No segundo dia, o tempo estava pior, com a chuva a molhar a estrada, e a dificultar a tarefa dos pilotos. Bruce-Brown alargou a liderança perante um cauteloso Boillot, mas com a chuva a parar e a estrada a secar, Boillot partiu ao ataque, tentando recuperar o atraso face ao americano. E na 15ª volta da corrida, Boillot viu o Fiat parado na estrada, devido a um tubo de combustivel roto, e sem gasolina. Sem hipóteses de prosseguir, apenas saudou Boillot à sua passagem.
O francês parecia que ia a caminho de uma vitória memorável, mas na penultima volta, um problema mecânico quase deitou tudo a perder: uma junta da caixa de velocidades gripou, encravando-a, e teve de ser a genialidade de Boillot e do seu mecânico, Charles Prevost, para arranjar uma solução. Em vinte minutos, eles voltaram a pista, com Boillot a ter apenas a segunda e a quarta velocidades funcionais, e foi assim que chegaram à meta, com um avanço de 13 minutos sobre Louis Wagner, e dando à França a sua primeira vitória desde 1906, e coroar Georges Boillot como o seu novo herói nacional.
Já na categoria das Voiturettes, a grande novidade era o monopólio britânico da Sumbeam. Victor Rigal era o vencedor (e terceiro na geral) a quarenta minutos de Boillot, e este foi acompanhado no pódio por Dario Resta e por Emil Médinger. Este também era um grande dia para o automobilismo britânico.
(continua no capitulo seguinte)