Nesta terça-feira, o britânico Johnny Herbert faz 60 anos de idade. E 2024 são os 35 anos da sua estreia na Formula 1, a bordo de um Benetton, onde até conseguiu excelentes resultados na sua temporada de estreia. Contudo, isso esteve muito perto de não acontecer. Aliás, Herbert esteve muito perto de ter a sua carreira acabada, ainda antes de chegar à Formula 1. Tudo por causa de uma monumental carambola na pista de Brands Hatch, do qual, pessoalmente, ainda tenho algumas recordações.
Mas vamos por partes. É que a sua ascensão foi tão grande que a certa altura, se acreditava ser o próximo fenómeno britânico no automobilismo.
Nascido a 25 de junho de 1964, em Brentwood, no Essex britânico, em 1985 tinha ganho o Formula Ford Festival, em Brands Hatch, para depois passar à Formula 3 ao serviço de Eddie Jordan. Depois de uma temporada de adaptação, ganha o titulo britânico em 1987.
No ano seguinte, foi para a Formula 3000, e logo na sua primeira corrida, em Jerez... ganhou! Um terceiro lugar em Monza o colocou entre os primeiros classificados, e quando chegou à ronda de Brands Hatch, ele conseguiu a pole-position. Na partida, ele largou mal e foi superado pelo suíço Gregor Foitek, caindo para quarto na chegada a Paddock Hill Bend. Ambos estavam lado a lado, com o britânico em terceiro e indo atrás do irlandês Martin Donnelly, disputando posição até chegarem a Pilgrim's Drop, onde ambos os carros tocaram-se, e Herbert foi direito às barreiras de concreto, desintegrando-se. Ambos os carros, com o choque, ricochetearam-se para o outro lado da pista, levando mais alguns carros com eles, como o do francês Olivier Grouillard. Mais alguns carros bateram, como os de Aguri Suzuki, Claudo Langes e Andy Wallace, todos tentando afastar-se dos destroços. E claro, a corrida foi interrompida, para ser recomeçada... duas horas mais tarde.
Herbert ficou gravemente ferido. As suas pernas, e sobretudo, os seus tornozelos, ficaram destruídos com o choque. Chegou-se a considerar a chance de amputação para Herbert, e ele passou por diversas operações ao longo da segunda metade de 1988. E para além disso, também passou por uma longa fisioterapia, alterando o seu estilo de pilotagem, e não podendo mais correr sem dores.
Mas o mais surpreendente é que no final do ano... Herbert estava a bordo de um Formula 1. E não um qualquer, era um Benetton, que procurava um substituto para Thierry Boutsen, que ia para a Williams. Na altura, a equipa era dirigida por Peter Collins, seu mentor, e sabia que, apesar das contrariedades, ainda tinha a rapidez necessária para se bater entre os melhores. Em Jacarépaguá, ainda usar muletas e usando uma bicicleta como meio de locomoção no paddock, Herbert tinha de entrar - e sair - do seu Benetton, carregado pelos mecânicos. Um pouco à imagem de Graham Hill, quase 20 anos antes, em Kyalami.
E claro, existia aqueles que tinham dúvidas que estaria apto. Um deles era um recém-chegado chamado Flávio Briatore, que tinha sido colocado na equipa por Luciano Benetton. Eles pediram a ele para fazer uma simulação de corrida, julgando que não iria aguentar por muito tempo.
“De repente, durante um teste de pré-temporada, que não estava no programa, pediram-me para fazer uma simulação de corrida. Eles abasteceram-me com combustível e fui embora. Não havia ninguém no pitwall, todos voltaram para a hospitalidade, porque todos apostaram que eu duraria umas dez voltas. Uma hora e meia depois, fiquei sem combustível na pista!", começou por falar numa entrevista em março deste ano na motorsport.com, para assinalar os 35 anos da sua estreia na Formula 1.
“Isso era a prova, embora quando cheguei ao Rio para a corrida propriamente dita, tive uma reunião com Luciano Benetton, Peter [Collins] e Flavio [Briatore], e isso foi para decidir. Eles perguntaram ‘você pode fazer isso? Você consegue dirigir este carro?’ E eu respondi: ‘sim, sim, eu provei isso quando dirigi aquela simulação de corrida’.
“Lembro-me que o Emanuele Pirro estava à espera no aeroporto de Roma, por precaução, pronto para ser despachado."
Na qualificação, conseguiu um inesperado décimo tempo, sendo melhor que Alessandro Nannini, seu companheiro de equipa. E no final, conseguiu um excelente quarto lugar, a pouco menos de segundo e meio de um lugar no pódio. Nada mau para um piloto em estado de reabilitação.
Mas dentro do cockpit, abafado pelo capacete, sofria. Bastante.
“Não conseguia travar com muita força, mesmo com o pé direito.", começou por explicar. “Também tive que me adaptar para o Rio, porque havia um solavanco específico na Curva 8, antes da esquerda para a grande reta. E era bem forte! Meu pé esquerdo ainda estava muito sensível e o tornozelo estava do tamanho de um melão. Quando batia no solavanco, ele bateu na lateral e doeu bastante.
“Com o passar do fim de semana, percebi que só conseguiria realmente fazer isso se de alguma forma ultrapassasse o limiar da dor. Então aprendi que se eu simplesmente deixasse cair o pé no fundo do monocoque, quando ele batesse no solavanco, ele bateria na lateral. Doía muito e eu gritava dentro do carro. Mas nunca mais doeu durante o resto da corrida. Eu estava acima do limite da dor, foi assim que superei isso.”
Poderia ter sido o final feliz de um tempo difícil, mas apesar de um quinto lugar em Phoenix, sobrevivendo a uma corrida de atrito, ele não se qualificou em Montreal e decidiu-se que ele teria de passar mais tempo em reabilitação. Só voltaria a ter uma temporada a tempo inteiro em 1992, pela Lotus, depois de duas temporadas como substituto, primeiro na Tyrrell, no lugar de Jean Alesi, e depois na Lotus, quando Martin Donnelly se acidentou gravemente em Jerez.
Mas pelo meio, foi ao Japão e ganhou as 24 Horas de Le Mans, pela Mazda. Quando regressou à Formula 1 a tempo inteiro, foi de vez, com passagens por Benetton, Sauber, Stewart e Jaguar, acabando no ano 2000, com três vitórias - todas bem celebradas! - e 86 pontos.