A história da qualificação de Istambul poderá ser resumida por... como começar? Acho que começaria pela véspera. Especialmente quando leio, numa sexta-feira à noite, que diversos carros de turismo andavam a acelerara como loucos na pista situada em Kurtkoy, para ver se ganhava borracha. Eu, que já tenho 35 anos de Formula 1 pelas costas - ou talvez mais - nunca assisti nada tão louco assim. E fui testemunha de dilúvios universais e asfalto a desfazer-se, como o GP da Bélgica de 1985, que teve duas datas, depois de adiarem da primeira ocasião.
Explica-se de modo simples: a pista levou uma nova capa de asfalto, como aconteceu com Portimão. Mas aqui, não houve muito tempo para consolidar e pior ainda, choveu e fez frio. E logo na sexta-feira, os pilotos queixaram-se de que não conseguiam ter aderência para poder fazer uma volta decente, com alguns a dizerem que era uma "m****". Daí os carros de turismo a fazer horas extraordinárias...
E para piorar as coisas, choveu este sábado em Istambul. Em pleno novembro, não ajuda muito... e claro, as coisas começaram a ficar imprevisíveis. A chuva inclemente que caiu no terceiro treino livre ainda encharcava a pista quando começou a qualificação. E como os pilotos esperavam pelo melhor tempo para circular na pista, os cães passeavam pista fora! Não perguntem se eram mais rápidos que os Williams, que não posso responder.
Que arriscou com os intermédios nesta altura... deu-se mal. Logo, os de chuva eram mais seguros e os primeiros tempos eram feitos acima dos dois minutos, 2.06,115 para Valtteri Bottas. Mas depois voltou a chover e as coisas ficaram piores, tanto que a sessão foi interrompida por meia hora. Pelas 15.55 locais, a pouco mais de uma hora antes do por do sol em Istambul, a sessão regressou, pois a chuva tinha passado.
Mas não por muito: Romain Grosjean acabou na gravilha e a organização colocou a bandeira vermelha pela segunda vez em pouco tempo. Retirado o Haas, todos foram para a pista tentando marcar um tempo para seguir para a Q2, onde no final, os que fizeram companhia a Grosjean foi o seu companheiro de equipa, Kevin Magnussen, os Williams de Nicholas Lattifi e George Russell, e o Alpha Tauri de Daniil Kvyat.
Depois de demorar mais um bocado para tirar o carro de Lattifi, parado na área de escape, a Q2 começou sem chuva e com os tempos a baixarem rapidamente, arriscando até com intermédios. Max Verstappen fazia primeiro 1.57,125, para depois Lance Stroll baixar para 1.55,730. O holandês da Red Bull não fica parado, e baixa para 1.53,486, e melhora para 1.52,036 e não satisfeito, 1.50,293. Quem o acompanhara era os Mercedes de Bottas e Hamilton.
Atrás, a grande surpresa eram os Alfa Romeo, que colocavam os seus carros... na Q3! Em contraste, a Ferrari não se dava bem na chuva e ficava de fora. Para fazer companhia no infortúnio, ficaram o Alpha Tauri de Pierre Gasly, os McLaren de Carlos Sainz Jr e Lando Norris.
Para a fase final, tudo indicava que Verstappen era o claro favorito. Tinha dado o seu melhor, e os Mercedes não pareciam poder responder na mesma moeda. Contudo, colocar pneus de chuva ou intermédios era complicado. O holandês da Red Bull começou com 1.52,326, dando cabo da concorrência, mas logo a seguir, com pneus intermédios, Sergio Perez respondeu com 1.52,037, ficando na frente. E melhorou, fazendo 1.49,321, parecendo que seria ele a surpreender tudo e todos.
Mas não: na sua última oportunidade, Lance Stroll tratou de dar contornos ainda mais incríveis ao marcar 1.47,765 e ficar... na pole-position! Verstappen bem tentou, mas ficou em segundo, 290 centésimos mais lento que o canadiano e relegando Sergio Pérez para terceiro.
No final, Stroll entrava na história como o terceiro canadiano a fazer uma pole-position, e o primeiro sem ter como apelido "Villeneuve". As condições fizeram lembrar a pole de Nico Helkenberg no GP do Brasil de 2010, a bordo do seu Williams - praticamente de anos depois de acontecer! - tudo isto numa tarde instável em Istambul, do qual promete estar da mesma forma dentro de 24 horas. Se o tempo colaborar, claro...