Existiam expectativas muito altas. Afinal de contas, a Williams tinha tudo. Era o centro do automobilismo, o lugar onde todos queriam correr, se queriam ser campeões. Nigel Mansell tinha ganho ali, Alain Prost também. E agora, todos imaginavam que Ayrton Senna seguiria os seus passos e ficaria com o quarto título mundial. Ainda por cima, ele, o piloto que mais se opôs ao domínio desses mesmos Williams "de outra galáxia", com motores, chassis e eletrónica "de outra galáxia".
E ainda por cima, existia uma coisa extra: fora naquela equipa que, 10 anos e meio antes, Senna tinha tido a sua primeira experiência num carro de Formula 1.
E quem assistiu a aquilo, naquele dia limpo e frio de janeiro, pensava que era uma questão de tempo até lá chegarem. Iria ser uma temporada de "mais do mesmo". Exceto para os brasileiros, que julgavam que iria ser uma temporada de triunfo após triunfo, rumo a um quarto título do qual só queriam saber quando é que seria comemorada. Ainda por cima, julgavam que seria uma comemoração dupla, porque era ano de Mundial de futebol, nos Estados Unidos, e pensavam que também ficaram com o tetra.
Muitas, muitas esperanças.
Só que tínhamos deixado passar algumas coisas, provavelmente na nossa arrogância, aquelas certezas tão sólidas quanto o dia seguinte. Pensávamos que os regulamentos que tinham sido mudados no final do ano anterior "não se aplicavam a eles". Tinham acabado o controlo de tração, a suspensão ativa, e até queriam tirar as caixas semiautomáticas, mas isso ficou nos carros para 1994. E como era um "back to basics", as equipas tinham de se adaptar. E a Williams, mesmo que ali não tenha sido apesentado o FW16, sabia que tinha muito trabalho pela frente.
Mas todos confiavam na força humana. Afinal de contas, tinha, Ayrton Senna, e atrás, o engenheiro Patrick Head e o projetista Adrian Newey. Se tinham feito portentos tecnologicamente perfeitos, pode ser que, mesmo com menos tecnologia, não perderiam a potência, porque o Renault de 10 cilindros... não tocaram nele. Que poderá haver que seja mais poderoso e eficiente? Não existia. Nem o Ferrari de 12 cilindros.
Quantas esperanças, quantas certezas, quanta arrogância juvenil dos fãs do qual o tempo encarregou de destruir da pior maneira possível, existiam naquele dia? Não se sabia, nenhum de nós sabia, mas naquele dia, a contagem decrescente tinha começado. Ele próprio disse, mais tarde, no teste do FW16, em Paul Ricard, que "tinham feito asneira na sua vez." E todos só sabiam de metade dos acontecimentos.