terça-feira, 16 de janeiro de 2024

A revolução que poderá mexer com os ralis


Em meados de 1986, os ralis lidavam com carros crescentemente leves e potentes. Os Grupos B, apesar de estar cheio com construtores - Lancia, Audi, Peugeot, MG, Ford, Toyota... - estavam nas mãos de pilotos que cada vez mais se queixavam de não ter capacidade para controlá-los. E os acidentes de Joaquim Santos, no Rali de Portugal, e sobretudo, de Henri Toivonen, no rali da Córsega, levaram a que a FISA tomasse uma decisão radical, que foi a de abolir o grupo B, e deitar fora o Grupo S, com carros ainda mais velozes e potentes, a favor do Grupo A, mais lentos, mas mais baratos. O Grupo A entrou em vigor em 1987 e ficou por uma década até aparecer o WRC, e ficou marcado pelo domínio dos Lancia, a principio, e depois surgiram os Toyotas, Fords e Subarus.

Agora, mais de 35 anos depois, a FIA poderá estar a tomar uma decisão tão ou mais radical que tomou em 1986. E não tem a ver com o excesso de potência ou os problemas de segurança. Tem a ver com a ideia de atrair mais construtores para os ralis, embaratecendo os custos. No próximo dia 28 de fevereiro, está marcado uma reunião do Conselho Mundial da FIA, e o que se falar é a extinção, pura e simples, dos Rally1 no final desta temporada e passar, a partir de 2025, para os Rally2, sob outro nome, que poderá ser o de... WRC.

É certo que os sinais de alarme estão a ser tocados desde há algum tempo, e as alterações no sistema de pontuação neste ano são um primeiro sinal deque querem mexer nas coisas. Mas um grupo de trabalho dentro da comissão de ralis do WRC, chefiado pelo fundador da Prodrive, David Richards, e pelo ex-navegador de Colin McRae, Robert Reid, estão a chegar à conclusão de que este WRC como está, poderá levar à competição a uma decadência irreversível. Os Rally2 Plus - no qual estariam à partida Citroen e Skoda, para além de Toyota, Ford e Hyundai - tem o potencial de serem competitivos, mas os construtores que lá estão tem de ser convencidos de que esta decisão, radical, tem de ser feita, a bem da competição, porque isso significaria o fim prematuro destes Rally1 na estrada, do qual só são usados pelas equipas oficiais, com quase ninguém a usar em termos privados, por causa dos custos. 

É que entre oito Rally1 na lista de inscritos e - potencialmente - 25 Rally2 Plus, provavelmente a FIA tem de convencer os construtores de que a troca valerá a pena no médio prazo.

Mas pela imagem que ilustra este post e o artigo de opinião do qual deixo aqui o link, entende-se o propósito. O WRC é a competição mais acessível do automobilismo, em termos de espectadores. Embora seja, em muitos aspetos, uma atividade localizada à Europa, com alguns núcleos aqui e ali, está numa situação de decadência, longe do auge de há quatro décadas, e a ideia é recuperar isso, provavelmente colocando limites nos custos, embaratecendo o material e vendendo chassis a privados, ganhando em termos de qualidade nas listas de inscritos e fazendo despertar talento local.

Resta saber se esta abordagem resultará... isto, se os construtores aceitarem.

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