segunda-feira, 26 de março de 2012

Caro Elio

Caro Elio de Angelis:

Escrevo isto porque hoje deveria ter sido o teu 54º aniversário natalício. Provavelmente, caso estivesses vivo, estarias a gozar a reforma do automobilismo, depois de teres feito mais umas temporadas na Formula 1 e provavelmente experimentado outras categorias, como a Endurance. Teria sido engraçado ver-te a fazer a reta das Hunaudriéres, a toda a velocidade, a bordo de um Audi ou um Porsche, tentando ganhar umas 24 Horas de Le Mans. Ou então a tentares a tua sorte na CART, nas ovais, dividindo posições com Emerson Fittipaldi ou Mário Andretti, o teu companheiro na Lotus. Ou então, que pura e simplesmente, terias continuado com os negócios de familia ou à frente do teu próprio negócio, matando as saudades com uma corrida de kart e tocando piano nos tempos livres.

Adivinhar um futuro condicional - o famoso 'e se?' - é o exercício que toda a gente gosta de fazer para alguém que se foi demasiado cedo, como tu. E ainda por cima eras uma personagem estimada por todos: educado, cavalheiro, que andavas por ali por puro amor ao automobilismo. E tinhas talento. Não era qualquer um que atraísse a atenção de Colin Chapman logo no seu primeiro ano de Formula 1, apenas com 21 anos. Mas conseguiste. E no ano seguinte, conseguir um segundo lugar na sua segunda corrida pela marca.

Não creio que o tempo tenha esquecido de ti. Os "petrolheads" não se esqueceram de ti, mesmo aqueles que nunca te viram correr. Aliás, tenho tido recentemente exemplos de pessoas que começaram a admirar pilotos que morreram muito tempo antes das pessoas terem nascido, o que é incrivel. Tu tens o teu lugar garantido na história. Foste o primeiro a vencer pela Lotus depois de três anos de ausência, numa corrida decidida por milésimas contra Keke Rosberg. Hoje em dia, mesmo que a maior parte das pessoas já tenha memórias mais difusas de quem tu eras, ainda te lembram por teres sido o último piloto a vencer com Colin Chapman ainda vivo, por teres sido um dos companheiros de Ayrton Senna - que te superou em 1985, quando estiveram juntos - e pelas tuas habilidades ao piano.

Não tiveste tempo para teres uma carreira plena, como muitos outros. Não houve tempo para um filho, possivel herdeiro - nem sei se seguiria os teus passos - mas creio que deste o teu melhor, nas equipas que tu passaste. Mesmo naquela Brabham cujo projeto era demasiado arriscado, e do qual se tornou no teu túmulo.

Por aqui, sentimos a tua falta. Tal como a de muitos outros pilotos que se foram cedo demais. E a unica coisa que podemos fazer são gestos como este. De contar que um dia, tu exististes e fizeste certas coisas que trouxeram a admiração e a felicidade a muita gente. Acho que conseguiste esse objetivo.

Abraços, de onde é que tu estejas. E mais uma vez, feliz aniversário!

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