sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Williams e o futuro da Venezuela

Por estas horas, a Venezuela está em suspenso com o estado de saúde de Hugo Chavez. Líder populista, no poder desde 1998 e que conseguiu modificar a constituição a seu bel-prazer para poder ficar no poder até ao resto da sua vida, parece que poderá cumprir esse desígnio  dado que ele sofre de um cancro desde há ano e meio e foi submetido a três operações em Cuba, para retirar outros tantos tumores, segundo dizem, na zona pélvica.

Só que agora da última vez, as coisas parecem que correram mal. As autoridades falam em complicações pós-operatórias e pediram para que se "rezasse pela sua saúde". Não ficaria nada admirado se a realidade nos diga que o senhor está em coma ou gravemente doente e que passe agora por horas decisivas para a sua sobrevivência.

Mas a razão pelo qual falo do estado de saúde de Hugo Chavez tem a ver com um patrocinador e um piloto em causa: a PDVSA, que patrocina a Williams, e que coloca o seu piloto, Pastor Maldonado. Piloto veloz, mas algo desastroso - foi o piloto mais penalizado de 2012 - capaz do melhor e do pior, conseguiu um seguro de vida de 42 milhões de euros da petrolífera estatal para poder entrar na Williams e ficar na Formula 1. E ficará por lá enquanto esse dinheiro fluir dos cofres de Caracas para os cofres de Grove. 

Só que a saúde do presidente abalou um pouco o futuro do acordo. É que segundo a Constituição, em caso de ausência ou morte do Presidente, novas eleições serão convocadas num prazo relativamente curto - dois meses, creio eu, não tenho a certeza - e isso pode dizer que o seu eventual substituto, o vice-presidente Nicolas Maduro, poderá ser derrotado pelo candidato da oposição, Enrique Capriles. Digo isto porque as anteriores eleições, em outubro, Capriles vendeu cara a derrota, com cerca de 45 por cento dos votos. 

Creio que toda a gente pensa que as coisas estão seguras para 2013, independentemente de quem for presidente por essa altura, seja Chavez, Maduro ou até Capriles. Mas em 2014, as coisas "piarão" mais fino. Por três motivos: as prestações de Maldonado, o presidente que a Venezuela tiver e a independência da Williams. Não é segredo para ninguém que a equipa quer manter a sua independência, no sentido de regressar aos tempos aureos. Quer Frank Williams, quer Christian "Toto" Wolff desejam isso, daí tentarem fazer acordos tecnológicos com outras companhias e marcas. Apesar de nem todas estarem a dar resultado - o cancelamento do projeto XJ-675 da Jaguar, um superdesportivo híbrido, anunciado esta semana - a Williams continua a apostar nesse quadro. E a escolha de Valtteri Bottas em detrimento de Bruno Senna - escolha de Wolff, seu empresário - é outra decisão nesse sentido de independência.

Mas o aparente fracasso na tentativa de captar o patrocínio da Honeywell - ao que indica, vai para a Lotus - implicou outro duro golpe nesse plano para a independência. Assim sendo, vai continuar a confiar nos bolivares venezuelanos, na maturidade do seu piloto e nas esperanças do "rookie" que veio do frio - vai apenas na sua terceira temporada, enquanto que o finlandês Bottas é um estreante, depois de um ano como terceiro piloto - para mais uma temporada. A curto prazo, tudo estará bem, mas as coisas poderão ser mais complicadas a meio do caminho.

O segundo factor a ter em conta terá de ser, inevitavelmente, Pastor Maldonado. O ano de 2013 tem de ser decisivo para ele, para crescer como piloto e refinar o seu estilo demasiado agressivo de pilotar. O Maldonado de Barcelona tem de aparecer mais vezes nessa temporada do que o Maldonado de Melbourne ou de Valência, sob pena de a FIA o penalizar com uma ou mais corridas na bancada, a assistir às prestações do seu substituto, seja ele quem for. E ver a Williams confiar tudo no seu pupilo "rookie" parece ser algo do qual demonstraria que a equipa está a ter um paralelismo inquietante com a Tyrrell dos anos 80 e 90, quando se arrastava na parte final da grelha, vivendo à sombra do passado, qual velho senhor arruinado. 

Em suma: nunca o futuro de uma equipa está tão dependente da saúde de uma pessoa. E não falo de Frank Williams.

1 comentário:

João do Cassino disse...

teu ultimo parágrafo resume tudo:

"...Em suma: nunca o futuro de uma equipa está tão dependente da saúde de uma pessoa. E não falo de Frank Williams."


Nessas horas eu torço pela saude do chaves....