domingo, 10 de agosto de 2025

A imagem do dia



Se quiser ir atrás e encontrar um período semelhante ao que se vive na Endurance, tenho de recuar mais de três décadas, até aos tempos do Mundial de Sportscars, aos carros do Grupo C, os Sport-Protótipos. Graças â hegemonia dos Porsche 956, toda e qualquer equipa importante poderia ter duas unidades, contratar quatro ou seis pilotos - dependendo da competição - e correr no Mundial. E até poderia ser piloto de Formula 1, para prestigiar a equipa. Brun e Kremer, importantes equipas, tinham os seus pilotos que corriam quando o calendário não coincidia com o da Formula 1.

Na Brun, tinham Stefan Bellof e Thierry Boutsen, na Kremer, Manfred Wikelhock e Marc Surer. São dois exemplos que existia nessa altura, havia mais. 

Em abril de 1985, acontecia o Trofeo Filippo Caracciolo, na pista de Monza. Era a segunda corrida de um campeonato com dez provas, e a primeira tinha acontecido uma semana antes, em Mugello. 27 carros foram inscritos, dos quais 25 alinharam à partida. 

A corrida começou debaixo de um belo clime de primavera. Mas com o passar as horas, o tempo piorava, Não em termos de nuvens, mas em termos de vento. A corrida de mil quilómetros teria 173 voltas, mas a partir da centésima volta, o vento começou a soprar em rajadas, e as árvores à volta do circuito começaram a balançar violentamente. E com o passar das voltas, ramos começavam a cair na pista, muitas vezes com os pilotos a não conseguirem evitar a colisão com elas, danificando os seus carros. 

Primeiro, foi Mike Wilds, que ia às boxes com danos na frente do seu carro, o Ecosse C285, da classe C2. Não foi muito adiante, por causa desses danos, que primeiro o deixaram nas boxes por muito tempo, e depois, obrigaram a abandonar a prova. Algum tempo depois, Paolo Barilla parava o seu carro, o Porsche 956 da Joest Racing, também com danos por causa dos ramos que tinham caído na pista.

Os pilotos começavam a falar disso, mas a organização foi lenta a reagir, porque não queriam acreditar que ramos de árvores poderiam prejudicar carros. Aliás, os pilotos e equipas tinham razões de queixa da organização naquele final de semana: no dia anterior, nos treinos, o Porsche 962 - que se estreava ali - de Hans-Joachim Stuck, pegara fogo na Curva Grande por causa de uma fuga de óleo e acabou or se incendiar completamente. Stuck saiu logo do carro, mas os organizadores demoraram três minutos para chegarem lá, tirarem as mangueiras dos carros de bombeiros e apagarem o fogo. O carro ficou irrecuperável, a FIA fez um inquérito à organização, mas no final, não encontraram culpados.

Dito isto, não se pode surpreender quando os pilotos começaram a parar a corrida na volta 138, para relatarem uma árvore que barrava parcialmente a pista. Tinha caído e por fortuna, não toinha atingido qualquer piloto. A organização decidiu que não existiam condições para continuar e deu a corrida por terminada. 

Os vencedores, Manfred Winkelhock e Marc Surer, num Porsche 956 da Kremer, tinham mais de um minuto de vantagem sobre o Porsche 962 oficial de Hans-Joachim Stuck e Derek Bell, que tinham largado com o carro de reserva. no lugar mais baixo do pódio estavam os Lancias oficiais de outros dois pilotos de Formula 1: Riccardo Patrese e Alessandro Nannini. E com essa vitória da dupla germano-suíça, tinham conseguido algo que não acontecia desde 1983: um Porsche oficial tinha ganho sempre uma corrida do Mundial de Endurance. 

Winkelhock e Surer tinham algo em comum: eram também pilotos de Formula 1. O alemão na RAM, depois de três temporadas na ATS, e Surer, depois de duas temporadas na Arrows, ia a caminho da Brabham. O facto de ter dois pilotos do meio do pelotão (ou da cauda) a fazer corridas na Endurance demonstra o espirito de um piloto de automóveis na metade dos anos 80 do século XX...

E para Winkelhock, iria ser a sua última coroa de glória. A 11 de agosto de 1985, alguns meses depois daquele triunfo em Monza, em Mosport, bateria forte contra o muro na ronda canadiana do Mundial de Endurance. Iria morrer no dia seguinte, aos 33 anos. 

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