segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

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Ontem à tarde, o desempate de Abu Dhabi acabou na última volta, num argumento do qual parece que foi Hollywood que a fez - não fiquem admirados... - mas não é sobre o que aconteceu por lá que quero falar hoje. Como sabem, pela segunda vez na história da Formula 1 houve um empate na tabela entre os dois primeiros, o primeiro dos quais em 1974, quando Clay Regazzoni e Emerson Fittipaldi empataram com 52 pontos cada, com o brasileiro a desempatar a seu favor no quesito vitórias - três contra uma do suíço da Ferrari.

Hoje conto o que foi essa corrida de desempate. E não só foi uma prova de sobrevivência, envolveu mortes também. E acabou com uma das raras dobradinhas da história da Brabham. 

Sim, já contei a história desta corrida, mas foi em 2007. Mas quem imaginaria na altura uma coisa que vivemos 14 anos depois?

Como contei ontem, ainda havia um terceiro piloto a espreitar o título em 1974: o sul-africano Jody Scheckter. Mas ele tinha desistido no Canadá por causa de um problema nos travões e tinha quatro pontos para recuperar. Tinha de ficar na frente deles - ou seja, vencer - e eles ou teriam de desistir ou, no máximo, serem quintos para ele ter uma chance. Logo, as hipóteses eram diminutas, por várias razões: os carros quebravam, não como agora, e outros poderiam atrapalhar as coisas.

Como foi com os Brabham. Carlos Reutemann fez a pole-position e esteve imbatível em todo o fim de semana, o primeiro grande momento de "Lole" na Formula 1, que acabou por vencer o seu terceiro Grande Prémio do ano, depois da África do Sul e da Áustria, com o seu BT44.

Na grelha, Scheckter era o melhor, sexto, contra o oitavo tempo de Emerson e o nono de Regazzoni.

O suíço nunca teve a chance de lutar pelo campeonato. Sem que se soubesse, tinha um braço da suspensão defeituoso, e nunca teve o ritmo de corrida adequado para apanhar Emerson e ter a chance de ganhar, ou superar o brasileiro. E para piorar as coisas, Niki Lauda, que era para secundar Regazzoni na luta pelo título, também desistiu na volta 38, com problemas na suspensão.

Mas antes, na volta dez, houve drama. Partindo de 23º na grelha, o Surtees do austríaco Hemut Koinigg se despistou num das curvas da pista. Parecia não ter tido tempo para travar, e ele entrou dentro dos guard-rails, que acabaram por o decapitar. Precisamente um ano depois da morte violenta de Francois Cevért, aquele acidente marcaria o Grande Prémio e mostrava a periculosidade da Formula 1, geração e meia antes.

Sempre na frente de Regazzoni, Emerson Fittipaldi só se teve de preocupar com Scheckter. Atrás dele, mas sempre a controlar, ficou aliviado quando na volta 44, o sistema de combustível do seu Tyrrell se rompeu e ficou de lado, a ver os outros passar. Tudo terminado. O brasileiro só precisava de pontuar e era campeão do mundo.

E no pódio, foi o que foi: Reutemann imparável, José Carlos Pace a comemorar o seu primeiro pódio da carreira no dia em que fazia 30 anos, e James Hunt, o único repetente de 1973 por aquelas bandas. Mas era tradição dos organizadores trazerem o campeão do mundo ao pódio, para poder ser brindado pela multidão. E foi. Numa corrida que milhões seguiram no Brasil em direto - contam-me que a gravação dessa corrida, a cores, foi destruído num incêndio em 1979, creio eu - os festejos deverão ter sido de arromba.

E para finalizar, aquela foi a última corrida de Dennis Hulme, e a prova de regresso de Mário Andretti a categoria máxima de automobilismo. Um já tinha sido campeão do mundo, outro iria ser.

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