terça-feira, 27 de junho de 2017

O que poderá acontecer a seguir

Os eventos de Baku poderiam ter acabado de forma pior, é verdade. Poderia ter acabado numa desclassificação, mas também poderia ter acabado com os dois pilotos à briga. A Auto Motor und Sport fala que os comissários de pista estiveram perto de o desclassificar, mas decidiram-se por uma penalização de dez segundos, e que Maurizio Arrivabene aproveitou a situação de bandeira vermelha para acalmar Sebastian Vettel, que não esteve muito longe de ir à boxe da Mercedes para tirar satisfações a Lewis Hamilton pela sua manobra. E há muita gente que ainda defende que o Vettel deveria ser desclassificado só pela manobra.

Mas sobre isso, está tudo dito, tudo explicado. Contudo, temos de falar sobre as consequências de tudo o que aconteceu. Vamos a caminho da nona corrida do campeonato, o que significa que nem chegamos à sua metade e já temos tudo isto que faz as delicias doas adeptos e da imprensa. Um verão quente, quando mal entramos nele.

Começo por falar sobre o artigo que está na berra. De facto, o famoso artigo em questão - 37.13, para ser mais correto - diz, por alto, que o líder tem o controlo do ritmo depois da saída do Safety Car da pista, rumo às boxes e os pilotos atrás dele é que ditam o ritmo, impedindo ultrapassagens antes de cruzarem a meta. A ideia de o líder imprimir o ritmo é de controlar a concorrência e ter vantagem no momento em que acelera, tentando deixá-los o mais atrás possível. Ele, o líder, tem a faca e o queijo na mão, e normalmente, até corre bem.

Contudo, façamos um exercício teórico, mas radical. Suponhamos que estamos no Red Bull Ring, depois de uma entrada do Safety Car. Ele entra para as boxes e o líder abranda antes da última curva, a Jochen Rindt. De repente, para apanhar o segundo classificado distraído, faz um "brake test" de propósito do qual a telemetria capta. O segundo classificado topa a manobra e faz de forma a ficar de lado do líder, mas o suficiente para ficar atrás. Ele acelera, e o segundo classificado o tenta acompanhar, mas no inicio da meta, ele trava de novo, pedal a fundo, e coloca dois ou três carros na sua frente, sem querer, ainda antes da linha. Iria haver protestos, mas os pilotos que ficaram na frente, - sem querer, é preciso que se lhe diga - tem de ceder o lugar, sob pena de serem penalizados. 

Pode ser injusto? Pode.

Mas é legal? Exatamente. É perfeitamente legal. 

Podem gritar o que quiserem, mas é absolutamente legal. Em suma, um piloto poderá usar esta regra para subvertê-la a seu favor. É como a velha regra de trânsito onde, em caso de embate, quem tem culpa é quem bateu por trás. E eu posso pegar a regra e subvertê-la a meu favor. É por isso que na Rússia há todas aquelas câmaras estilo "Go Pro" nos tabeliers dos seus carros porque existe muita gente que se atira para a frente para serem atropelados de propósito e receberem uma chorida indemnização. É por isso que, no Código de Estrada, temos de manter uma distância segura em relação ao carro da frente. Mas isto é a Formula 1, e dar uma distância segura ao piloto da frente é praticamente entregar a vitória ao primeiro classificado.

E já agora, o caso que falei já aconteceu no passado, mas com más consequências: Michael Schumacher deu uma de "Dick Dastardly" ao querer apanhar Juan Pablo Montoya com as calças na mão no GP do Mónaco de 2004, dentro do túnel, só que o colombiano da Williams encostou-o e ambos acabaram com danos no carro. E foi mais explicito, com marcas de travagem, fumo a sair dos pneus e tudo! 

Mas independentemente de tudo isto, estou a pensar que dentro de algumas semanas acontecerá o GP da Grã-Bretanha, na casa do automobilismo inglês, em Silverstone. E Baku teve consequências, especialmente para a sedenta imprensa sensacionalista inglesa: acabaram de arranjar um inimigo e vão manipular a opinião pública no sentido de aplaudir o "seu" piloto contra o "perfido alemão" Vettel. Lembram-se de 2012, quando ele foi assobiado em todos os circuitos europeus, a partir de Silverstone? Pois é, eu acho que isso vai voltar. Há uma certa imprensa que tem saudades de uma briga dos tempos Senna-Prost ou Schumacher-Hill, e se vê sangue, vai querer abrir ainda mais a ferida.

Aliás, descobri hoje que há uma casa de apostas que deseja que Hamilton e Vettel se degladiem... num combate de boxe. Pode ser beneficente, mas é para ver até que ponto é que isto já vai.

E agora que descobriram que o alemão tem pavio curto, vão querer aproveitar isso. Imaginem as provocações que ele vai sofrer durante todo o fim de semana britânico. Não acham que vão fazer de tudo para que Hamilton ganhe e saia de Silverstone com a liderança? São 14 pontos de diferença, a diferença entre primeiro e quinto... e não sabemos ainda como será no GP da Áustria. E vai ser nessa altura que o Vettel vai ter de ser santo e não responder às provocações. Há muita gente que quer ver Vettel derrotado, apesar de algumas ironias que vemos aí: o inglês que corre por uma equipa alemã (mas com sede em Brackley) e o alemão que corre por uma equipa italiana.

A Formula 1 é assim... e ainda faltam doze corridas para acabar a temporada. 

1 comentário:

Al Unser Jr. disse...

...Sebastian Vettel, que não esteve muito longe de ir à boxe da McLaren para tirar satisfações a Lewis Hamilton pela sua manobra.

Como é díficil desassociar um piloto de uma equipe jejeje.

Bom trabalho e saludos daqui do Paraguay.