sábado, 22 de novembro de 2025

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Há 30 anos, nas estradas britânicas, os locais vibravam com a chegada de Colin McRae, a bordo do seu Subaru Impreza. E todos comemoravam com razão: o piloto mais carismático do WRC tinha alcançado o seu título mundial, depois de um duelo bem competitivo com Carlos Sainz Sr., e depois de um escândalo, onde a Toyota fez batota com as suas entradas de ar, que valeu uma exclusão por parte da FIA.

Foi um campeonato onde, na realidade, foi uma luta a dois dentro da Subaru, com a Toyota e a Ford a espreitar. E nessa temporada, McRae começou o ano a acabar mal e acabou o ano a conseguir tudo, sem sem abdicar da velocidade, do risco e dos acidentes que deram-lhe o apelido de "Colin McCrash".

E em Monte Carlo, apesar de ter começado bem, McRae despistou-se no segundo dia, acabando na valeta. A sorte dele é que foi a baixa velocidade, mas perdeu dois minutos até voltar à estrada. Voltou ao mesmo ritmo, mas em Sisteron, uma das míticas especiais do rali, novo despiste acabou prematuramente o seu rali.

Carlos Sainz Sr, mais cuidadoso, também não evitava as armadilhas de um asfalto que, ora nevava, ora tinha gelo, por muito cuidadoso que fosse. Mas não teve estragos definitivos, e acabou por ganhar, saindo de Monte Carlo com o primeiro lider do campeonato. 

Na Suécia, o mal foi repartido pelas aldeias, porque os dois não chegaram ao final e o melhor foi o veterano Kenneth Erikson, no seu Mitsubishi Lancer Evo III. Mas em Portugal, a história foi outra, com o espanhol a ganhar e o escocês em terceiro, com Kankkunen em segundo. Na Córsega, em asfalto, os Subaru andaram discretos, acabando o rali, é certo, mas Didier Auriol foi o melhor no seu Celica já datado, seguido pelo seu compatriota Francois Delecour.

A meio da temporada, Sainz Sr. liderava com algum conforto, e McRae parecia ver as suas chances de título cada vez mais diminuídas. Então, de repente, as coisas mudam: Sainz Sr. tem um acidente de bicicleta, magoando-se seriamente no ombro, e não podendo correr o rali da Nova Zelândia. Claro, McRae aproveita a ocasião para ganhar sem problemas. E na Austrália, com o espanhol de volta, ele não chega ao fim por causa de um radiador furado e McRae, apesar de um "close call" contra uma árvore, levou o carro até à meta para ser segundo, 19 segundos atrás de Kenneth Eriksson, o vencedor... que não corria a tempo inteiro.     

Quando o WRC chegou à Catalunha, Sainz Sr, que tinha perdido a liderança para Juha Kankkunen - 62 pontos do finlandês contra 50 do espanhol, que era... quarto, atrás de McRae, com 55 e Auriol, com 51 - queria partir ao ataque, especialmente contra o Toyota de Juha Kankkunen, que também tinha uma palavra a dizer. Sainz atacou e ficou na frente de McRae, com "KKK" a liderar, e na Prodrive, as ordens eram para ir atrás dele, mesmo com Auriol à espreita. Era um duelo Subaru-Toyota. Mas depois, o desastre aconteceu: Kankkunen desiste no segundo dia, deixando Sainz Sr. na liderança, e na Prodrive, as ordens era de manter a ordem. Mas McRae, que agora podia chegar à liderança do campeonato, não queria saber, e a quatro especiais do final, passou o piloto espanhol. Para ele, que desconfiava de um favorecimento na equipa, ficou com certezas - ele foi-se embora em 1996.

McRae ganhou o rali, consolidou a liderança, e para os pilotos chegavam o RAC igualados no topo: o melhor era o campeão. Mas antes de chegar ao RAC, o escândalo rebentava: a FIA descobre que os turbos dos Toyotas Celicas tinham sido modificados de forma ilegal e foram excluídos do Mundial, com os pilotos a serem desclassificados, e tudo isso com efeito imediato. 

O rali foi uma provação para McRae. Sempre rápido e impulsivo, furou no primeiro dia, perdendo dois minutos para os da frente. Mas isso só aumentou a sua motivação para ganhar, e conseguiu reduzir essa diferença quando no final do segundo dia... bateu numa pedra e danificou a suspensão!

Mas se acham que ele iria abrandar, esqueçam. O escocês guiou normalmente - ou seja, como um piloto possesso - e voltou a reduzir a diferença ao longo do terceiro dia do rali, ao ponto de apanhar Sainz Sr na última especial desse dia. Com o objetivo alcançado, e com o Mitsubishi de Tommi Makinen a desistir, por acidente, McRae manteve o seu ritmo alucinado para acabar como vencedor do rali, e claro, campeão do mundo WRC. O primeiro pela Prodrive, e o primeiro pela Subaru. E ainda por cima, o piloto mais acarinhado pelo público, que sempre gostou de pilotos espetaculares. 

E para melhorar as coisas, a Subaru também levou o título de Construtores, o seu primeiro. Quem poderia imaginar um final de sonho destes? Creio que nem David Richards, o homem por trás da Prodrive. Mas há 30 anos, este foi certamente dos melhores dias da sua vida profissional.

Para finalizar, algo interessante: foi também há 30 anos que Rui Madeira se tornou no primeiro português campeão do mundo no Grupo N, a classe de Produção que existia no Mundial, num Mitsubishi Lancer Evo II, e fechando o campeonato com um sétimo lugar à geral no Rali RAC, batendo o argentino Jorge Recalde por 29 pontos.   

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