sexta-feira, 29 de junho de 2018

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Esta sexta-feira, todos comemoram "a queda do recorde do Nurburgring Nordschleife" a bordo de um Porsche 919 Hybrid modificado para o efeito. Isto acontece menos de uma semana depois da Volkswagen ter batido o recorde na subida do Pikes Peak em quase vinte segundos, num carro elétrico, e com Romain Dumas ao volante.

Há pessoas que andam a dizer que este recorde de 35 anos foi batido. Pulverizado, se formos ver bem. Que isto é o novo recorde absoluto, etc, etc. Que Timo Bernhard substitui Stefan Bellof na galeria dos heróis. Só que esquecem das circunstâncias. O anterior recorde aconteceu num fim de semana de corridas, com um carro regulamentado pela FIA e construído segundo as normas. Este carro não está regulamentado, foi modificado para ser mais veloz, bater recordes em "test runs", em velocidade pura, e não aconteceu num fim de semana de competição. 

Logo, este recorde é não-oficial, sancionado pela FIA. Na minha opinião, até homologarem, o tempo de Bellof é o oficial.

Mas isso não me invalida dizer que a Porsche fez um excelente trabalho. Mostrou ao mundo o que poderiam fazer sem os constrangimentos regulados pela FIA. Impressiona ver aquele carro a fazer curvas a mais de 300 km/hora numa pista super-estreita e onde um erro é a morte do artista. É precisa muita confiança - e se calhar, muitas passagens por ali - para poder acelerar como acelerou. E também muito instinto. Os pilotos fazem as coisas com muito instinto, pensar no que fazer algumas curvas mais adiante, escolher a melhor trajetória em alturas criticas e confiar na sorte.

Este recorde demorou 35 anos para ser desafiado. Tempo mais do que suficiente para crescer o mito do carro e do piloto. Bellof era o alemão mais promissor da sua geração, dizendo que tinha tudo para ser campeão do mundo. A sua morte prematura, dois anos depois, em Spa-Francochamps, só fez aumentar o mito, ajudado pelo tal tempo que tinha feito no "Inferno Verde". E também o facto da FIA ter decidido não mais correr naquele circuito, demasiado perigoso - no ano seguinte, a nova pista estava feita e passaram a correr lá - fez aumentar na imaginação das pessoas a sensação de correr naquela pista. Porque está lá, como disse um alpinista há quase cem anos, quando lhe perguntaram porque queria escalar o Everest.

Agora, a pergunta que faço para esta geração a seguir... falarão deste tempo como andamos a falar durante os últimos 35 anos sobre o tempo do Stefan Bellof? Confesso ter dúvidas.  

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