quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O piloto do dia - Didier Pironi

Os anos 70 e 80 mostraram ao mundo a classe da escola francesa de pilotagem, instruída desde os escalões de formação, como o “Volante Elf”, cujo prémio era, pelo menos nos anos 70, um volante para uma temporada completa na Formula Renault. Um dos vencedores foi Alain Prost, outro foi este senhor: Didier Pironi. No dia em que se comemoram 20 anos sobre a sua morte, num acidente de barco ao largo da Ilha de Wight, eis a sua biografia.


Este piloto francês nasceu a 26 de Março de 1952 em Villescresnes, Val-de-Marne. Era meio-irmão de José Dolhem (oito anos mais velho do que ele, correu em 1974 na Surtees e morreu num acidente aéreo oito meses depois de Pironi) e aos 19 anos, depois de uma passagem pelo curso de engenharia, começou a frequentar a academia de pilotagem de Paul Ricard, que lhe deu mais tarde a oportunidade de competir no “Volante Elf”, que ganhou em 1972.

Em consequência, tornou-se piloto da Renault Alpine, ganhando o campeonato francês de Formula Renault, em 1974, repetindo a mesma façanha em 1976, mas a contar para o título europeu. Em 1977 vai para a Formula 2, onde ganha a prova do Estoril, e é terceiro no campeonato, atrás do campeão René Arnoux e do americano Eddie Cheever. No meio, tem uma incursão na Formula 3, onde ganha o Grande Prémio do Mónaco da categoria, impressionando o pelotão da Formula 1, e ganhando a passagem para a categoria maior.


Sendo assim, e graças à Elf, Pironi vai para a Formula 1 em 1978, competindo pela Tyrrell. Apesar de ser estranho ver um francês a competir por uma equipa britânica, era a longa colaboração que a Elf tinha com o “tio” Ken que fez Pironi debutar na Formula 1. Fez uma boa temporada de estreia, pontuando regularmente. Os sete pontos deram-lhe o 15º lugar da geral.


Mas no mesmo ano, Pironi entra na história de Le Mans. A bordo do Alpine Renault A442B, e fazendo companhia com Jean-Pierre Jassaud, venceu as 24 Horas de Le Mans, a primeira vitória da Renault Turbo numa competição importante.


Em 1979, continua na Tyrrell. A máquina é fraca, mas os resultados são melhores. Dois terceiros lugares, em Zolder e em Watkins Glen, são o melhor que Pironi faz, classificando-se em 11º lugar, com 14 pontos.


Em 1980, muda-se para a Ligier, e as ambições são maiores. De novo em Zolder, Pironi consegue a sua primeira vitória da sua carreira. Seria a sua única nesse ano, mas consegue mais quatro pódios, duas pole-positions (Mónaco e Brands Hatch), e duas voltas mais rápidas (Brands Hatch e Montreal). Os 32 pontos alcançados dão-lhe o quinto lugar final.


Nessa altura, os seus feitos tinham impressionado um colosso da Formula 1: Enzo Ferrari. Este tinha visto a sua performance no Grande Prémio do Brasil, onde ele recuperou do 21º para o quarto lugar, depois de um furo, e achava o piloto ideal para substituir Jody Scheckter, que se tinha retirado no final desse ano. Este aceitou e em 1981, torna-se parceiro do rápido, imprevisível e carismático Gilles Villeneuve.

Mas esse foi um ano para esquecer: o Ferrari 126CK era mau e pouco fiável, e Pironi teve poucos resultados de relevo, tirando uma volta mais rápida em Las Vegas, a última prova do campeonato. Os 9 pontos e o 13º lugar final são um magro pecúlio para um homem que arde de ambição para ser um vencedor.


As coisas em 1982 melhoram bastante: o novo carro, o modelo 126C2, desenhado por Harvey Poselthwaite, é excelente, e a Ferrari é uma natural candidata ao título. Mas precisam de provar isso na pista. Com um mau início de temporada, é só no GP de San Marino, onde participam apenas 14 carros, devido ao boicote das equipas FOCA, que se torna no lugar ideal para mostrarem ao mundo o poder da Ferrari. Tudo estava montado para Villeneuve e Pironi brilharem.


Brilharam… até demais. Nessa corrida disputada taco-a-taco, Pironi decidiu que era altura de deitar fora o acordo de cavalheiros entre os dois, feito anteriormente respeitante à hierarquia em termos de chegada. Assim, nas voltas finais, ambos lutaram pela liderança, não por espectáculo, mas por simples rivalidade!


No final da corrida, enquanto Didier Pironi comemorava a vitória, Gilles Villeneuve saiu do pódio absolutamente furioso. A amizade entre os dois acabava aí, e foi o próprio Gilles que disse alguns dias mais tarde ao jornalista inglês Nigel Roebruck que Pironi iria ser o seu alvo a abater. 15 dias mais tarde, no circuito belga de Zolder, Gilles Villeneuve estava morto.


A partir daí, Pironi sabia que tinha as mãos livres para aquilo que mais desejava: ser o primeiro Campeão do Mundo francês. Seria um belo escape, pois em termos pessoais, seu casamento estava em crise e toda a comunidade da Formula 1 odiava-o, pois para muitos, ele era o responsável pela morte do amado Gilles. Mais uma nova vitória, na Holanda, (que dedica a Gilles, onde é recebido com sorrisos irónicos no paddock…) lança-o no campeonato, e quando chega a Hockenheim, na Alemanha, era o líder destacado, com 39 pontos, mais 14 pontos do que o segundo classificado, o seu compatriota Alain Prost.


Depois de ter feito a pole-position, no warm-up de Domingo, 8 de Agosto de 1982, debaixo de imensa chuva, quando ultrapassava o Williams de Derek Daly, não vê o Renault de Alain Prost, e catapulta-se, quase da mesma forma que no acidente do seu ex-companheiro, exactamente três meses antes. Gravemente ferido em ambas as pernas, não corre mais na Formula 1. No final, torna-se vice-campeão do Mundo, com 39 pontos, os mesmos que John Watson, com duas vitórias, duas poles-positions e duas voltas mais rápidas.


O palmarés final: 72 Grandes Prémios, em cinco temporadas; três vitórias, quatro pole-positions, cinco voltas mais rápidas, 13 pódios, 101 pontos.


O acidente faz com que passe mais de dois anos em constantes operações (47 ao todo) para ganhar movimento em ambas as pernas. Quando consegue, está-se em meados de 1986, e Pironi volta a testar num Formula 1, experimentando um AGS no circuito de Paul Ricard. Mais tarde, testa durante um dia em Dijon ao volante de um Ligier. Mas, sem um assento competitivo para a temporada de 1987, vira-se para outro Formula 1: daqueles que correm na água.


Uma vez mais com o apoio da Elf, Pironi monta a equipa Colibri, com um barco com esse nome, comandado por ele próprio. Era o primeiro barco feito totalmente em fibra de carbono, fazendo não só ser o mais leve, mas também o tornava num dos favoritos ao título mundial na categoria de 3,5 toneladas. Tudo corre bem. Ganha uma prova na Noruega, e as suas performances são elogiados por todos, até por Enzo Ferrari.


Tudo corre de feição até ao dia 23 de Agosto de 1987, onde, numa prova ao largo da Ilha de Wight, no sul de Inglaterra, o seu barco Colibri, que disputava o primeiro lugar com outro barco, virou numa onda causada pelo petroleiro “Avon” e morreu no choque. Tinha 35 anos. Juntamente com ele foram outros dois tripulantes do barco: o jornalista Bernard Giroux (vencedor de dois Paris – Dakar como navegador do finlandês Ari Vatanen) e o seu amigo Jean-Claude Guenard.


Ironia do destino: por alturas da sua morte, a sua nova mulher estava grávida de gémeos. Quando nasceram, algumas semanas mais tarde, baptizou-os de Didier Gilles Pironi e Gilles Didier Pironi.

3 comentários:

Anónimo disse...

Como sempre caprichado nos detalhes, principalmente do início da carreira de Pironi.

Fiz uma referência no final da minha matéria para que a galera venha curtir a matéria e as belas imagens.

Grande abraço

Marcio Kohara disse...

Parabéns pelo texto e pelo blog.

Abraço,
Kohara

João Carlos Viana disse...

Grande post sobre Pironi!
Fiz também um texto sobre ele no meu blog!

Abraço