"A morte está prevista em todos os nossos contratos."
Albert Francois Cevért Goldenberg, 1944-1973.
Um ano após a sua morte, em 1974, é publicada uma biografia do piloto cujo título tinha a ver com a frase acima referida: "Contrato com a Morte". Nesse livro, está a história que conto a seguir, e provavelmente muitos de vocês sabem. Ela é contada por uma namorada de Francois de longa data: Anne Van Malderen, tratada carinhosamente por 'Nanou'. Bonita e extrovertida, conheceu Cevert em 1964, na estância balnear de St.Tropez, quando ele tinha 20 anos de idade. Nessa altura, tinha 25 anos e era casada, o que complicou um pouco as coisas de inicio, mas logo depois, Nanou e Francois formaram um forte laço que duraria o resto da sua vida. Mas quando ambos se conheceram, ela sabia que isto iria acontecer.
“Em 1959, fui com a minha mãe visitar com uma vidente que lhe tinha sido recomendada. Essa mulher vivia numa casa simples, nada em sua forma ou decoração fazia crer que havia um elo com o ‘outro mundo’. Ela não lia cartas, nem tinha bola de cristal. O seu método era simplesmente olhar para você durante um longo período de tempo ou então estudava uma fotografia, quando alguém lhe trazia uma. E então ela concentrava-se, num silêncio total.
Nessa altura tinha 20 anos, e tinha somente ido ali para acompanhar a minha mãe. Naqueles dias eu era completamente céptica em relação a esse tipo de previsões sobre um possível futuro. Subitamente, a vidente reparou em mim e fixou-me com os seus olhos. "Preciso falar consigo", ela disse. Surpresa, segui-a até o quarto.
"O seu casamento não vai durar. Você irá encontrar um jovem que deixará marcas profundas na sua vida. Você vai ser profundamente feliz... posso ver os olhos azuis dele... posso ver o mar... vocês vão se encontrar perto do mar". Tinha acabado de me casar, então isso deixou pensativa por algum tempo. Com o tempo, acabei esquecendo a visita. Cinco anos mais tarde, em 1964, conheci François Cevert em St.Tropez, perto do mar.
Dois anos mais tarde, quando François decidiu tentar o Shell Scholarship (competição cujo vencedor teria um volante na Formula 3), senti necessidade de voltar à casa da vidente para saber o que o destino havia reservado para nós dois. Quando cheguei, não disse uma palavra sobre ele. Apenas lhe entreguei uma fotografia. Ela permaneceu em silêncio por aproximadamente uma hora. E nada disse.
- "Você já veio aqui antes", disse, para logo a seguir afirmar: "Você já o encontrou! Que estranho, a foto dele está toda embaralhada nesta máquina estranha - tem rodas, mas não corpo - o que poderia ser?"
- "É um carro de corridas", disse. "Quer ser piloto".
- "Ele vai fazer um tipo de teste, no qual vencerá facilmente. Vejo uma brilhante carreira à sua frente..." Ela parou, olhou para mim e disse: "Você vai ser muito feliz, mas não vai conseguir segurá-lo, pois o sucesso dele se meterá entre vocês".
Outro silêncio, e ela continua:
- "Preciso lhe dizer uma última coisa... Este jovem não viverá para comemorar os seus 30 anos".
Havia um calendário na parede. Até o dia da minha morte jamais esquecerei do dia em que lá fui: 29 de Junho de 1966.
Quando mais tarde encontrei François, confesso que foi com um sorriso amarelo. Logo a seguir contei: "Fui a uma vidente. Ela disse que você vai vencer o Shell Scholarship". Isso lhe deu segurança. Ele estava ansioso, pois só decidimos fazer a inscrição na escola de pilotagem em Magny-Cours e ele já tinha mais que certeza que estava preparado para o teste.
Depois, afirmei-lhe o seguinte:
- "Ela também disse que sua carreira seria brilhante, mas que acabará por nos separar".
- "Separar-nos? Essa sua vidente é louca. Seja como for, esse tipo de coisas não passam de conversa da treta. Vou vê-la pessoalmente e aposto contigo como vai prever um futuro completamente diferente do teu".
Cerca de dois meses mais tarde, ele foi vê-la. Quando voltou, perguntou: "Você ligou para ela?"
-"Ligar para ela para quê?", respondi.
-"É que o que ela previu para mim foi exactamente aquilo que tu me disseste", afirmou.
De repente fiquei com medo. "Isso não significa nada, ela provavelmente te reconheceu. Eu mostrei-lhe uma foto sua..."
- "Ela também te disse que eu não chegaria aos 30?"
- "François, isso é treta! Essas velhinhas falam pelos cotovelos, como pode alguém prever o futuro?"
- "Então ela disse isso para você também?"
E então olhou para mim e sorriu: "Que importa? Até lá, já terei sido campeão do mundo. Desaparecer no auge da fama... que morte gloriosa!". Ele tomou-me nos seus braços e beijou.”
O resto da história é conhecido de todos nós: chegado à Formula 1 em 1970, após a retirada súbita de Johnny Servoz-Gavin, François Cevert correu na Tyrrell durante as três temporadas seguintes, onde venceu por uma vez, o GP dos Estados Unidos de 1971. A 6 de Outubro de 1973, durante os treinos para o GP dos EUA, o carro de Cevért despistou-se contra um guard-rail, tendo morte imediata. Era o último GP que faria antes de comemorar o seu 30º aniversário natalicio.
Algum tempo após a morte de Cévert, Nanou decidiu, após algumas discussões com a família de François, revisitar a vidente, nessa altura já era uma mulher idosa. Novamente, entregou a foto dele, desta vez de quando era criança, para que não pudesse reconhecê-lo. A vidente olhou para a foto, fechou os olhos e imergiu em profundo silêncio. Quando abre os olhos, olha para Nanou e diz: "Está morto".
“Em 1959, fui com a minha mãe visitar com uma vidente que lhe tinha sido recomendada. Essa mulher vivia numa casa simples, nada em sua forma ou decoração fazia crer que havia um elo com o ‘outro mundo’. Ela não lia cartas, nem tinha bola de cristal. O seu método era simplesmente olhar para você durante um longo período de tempo ou então estudava uma fotografia, quando alguém lhe trazia uma. E então ela concentrava-se, num silêncio total.
Nessa altura tinha 20 anos, e tinha somente ido ali para acompanhar a minha mãe. Naqueles dias eu era completamente céptica em relação a esse tipo de previsões sobre um possível futuro. Subitamente, a vidente reparou em mim e fixou-me com os seus olhos. "Preciso falar consigo", ela disse. Surpresa, segui-a até o quarto.
"O seu casamento não vai durar. Você irá encontrar um jovem que deixará marcas profundas na sua vida. Você vai ser profundamente feliz... posso ver os olhos azuis dele... posso ver o mar... vocês vão se encontrar perto do mar". Tinha acabado de me casar, então isso deixou pensativa por algum tempo. Com o tempo, acabei esquecendo a visita. Cinco anos mais tarde, em 1964, conheci François Cevert em St.Tropez, perto do mar.
Dois anos mais tarde, quando François decidiu tentar o Shell Scholarship (competição cujo vencedor teria um volante na Formula 3), senti necessidade de voltar à casa da vidente para saber o que o destino havia reservado para nós dois. Quando cheguei, não disse uma palavra sobre ele. Apenas lhe entreguei uma fotografia. Ela permaneceu em silêncio por aproximadamente uma hora. E nada disse.
- "Você já veio aqui antes", disse, para logo a seguir afirmar: "Você já o encontrou! Que estranho, a foto dele está toda embaralhada nesta máquina estranha - tem rodas, mas não corpo - o que poderia ser?"
- "É um carro de corridas", disse. "Quer ser piloto".
- "Ele vai fazer um tipo de teste, no qual vencerá facilmente. Vejo uma brilhante carreira à sua frente..." Ela parou, olhou para mim e disse: "Você vai ser muito feliz, mas não vai conseguir segurá-lo, pois o sucesso dele se meterá entre vocês".
Outro silêncio, e ela continua:
- "Preciso lhe dizer uma última coisa... Este jovem não viverá para comemorar os seus 30 anos".
Havia um calendário na parede. Até o dia da minha morte jamais esquecerei do dia em que lá fui: 29 de Junho de 1966.
Quando mais tarde encontrei François, confesso que foi com um sorriso amarelo. Logo a seguir contei: "Fui a uma vidente. Ela disse que você vai vencer o Shell Scholarship". Isso lhe deu segurança. Ele estava ansioso, pois só decidimos fazer a inscrição na escola de pilotagem em Magny-Cours e ele já tinha mais que certeza que estava preparado para o teste.
Depois, afirmei-lhe o seguinte:
- "Ela também disse que sua carreira seria brilhante, mas que acabará por nos separar".
- "Separar-nos? Essa sua vidente é louca. Seja como for, esse tipo de coisas não passam de conversa da treta. Vou vê-la pessoalmente e aposto contigo como vai prever um futuro completamente diferente do teu".
Cerca de dois meses mais tarde, ele foi vê-la. Quando voltou, perguntou: "Você ligou para ela?"
-"Ligar para ela para quê?", respondi.
-"É que o que ela previu para mim foi exactamente aquilo que tu me disseste", afirmou.
De repente fiquei com medo. "Isso não significa nada, ela provavelmente te reconheceu. Eu mostrei-lhe uma foto sua..."
- "Ela também te disse que eu não chegaria aos 30?"
- "François, isso é treta! Essas velhinhas falam pelos cotovelos, como pode alguém prever o futuro?"
- "Então ela disse isso para você também?"
E então olhou para mim e sorriu: "Que importa? Até lá, já terei sido campeão do mundo. Desaparecer no auge da fama... que morte gloriosa!". Ele tomou-me nos seus braços e beijou.”
O resto da história é conhecido de todos nós: chegado à Formula 1 em 1970, após a retirada súbita de Johnny Servoz-Gavin, François Cevert correu na Tyrrell durante as três temporadas seguintes, onde venceu por uma vez, o GP dos Estados Unidos de 1971. A 6 de Outubro de 1973, durante os treinos para o GP dos EUA, o carro de Cevért despistou-se contra um guard-rail, tendo morte imediata. Era o último GP que faria antes de comemorar o seu 30º aniversário natalicio.
Algum tempo após a morte de Cévert, Nanou decidiu, após algumas discussões com a família de François, revisitar a vidente, nessa altura já era uma mulher idosa. Novamente, entregou a foto dele, desta vez de quando era criança, para que não pudesse reconhecê-lo. A vidente olhou para a foto, fechou os olhos e imergiu em profundo silêncio. Quando abre os olhos, olha para Nanou e diz: "Está morto".
Uma tocante história. Cevert sempre esteve envolto de uma aura única, um carisma e determinação que são raros. Gostei muito do artigo. Speeder, que tal explorar mais histórias deste tipo (não necessariamente esotéricas) com outros pilotos, mostrando um lado mais humano ou curioso?
ResponderEliminarParabéns pelo brilhante post Paulo. Incrível essa história toda do François Cevert. Este francês também gostava de tocar pianos!
ResponderEliminarSe eu tivesse que escolher um piloto de Fórmula 1 para escrever uma biografia, certamente seria François Cévert. A história do "contrato com a morte" já era de meu conhecimento, e nunca cesso de encontrar curiosos reflexos e convergências em sua biografia.
ResponderEliminarPor exemplo, um blog que tenho acompanhado recentemente, Mémoire des Stands, publicou hoje algo que eu não sabia: que em 6 de outubro de 1973 o Egito e a Síria atacaram Israel com o objetivo de retomar as fronteiras quebradas em 1967. Um fato que marcou profundamente a política mundial, a economia mnndial e o automobilismo especificamente, com o aumento do preço do petróleo.
A morte de Cévert, mais do que nunca, marca a morte da inocência no automobilismo. É a chegada de fato dos anos 70 na F1.
Paulo:
ResponderEliminarA ideia é boa, mas provavelmente não conseguiria ter base para fazê-lo de forma consistente. Tento é inclui-lo nas biografias que faço dos pilotos, não é?
Quando a oportunidade surgir, faço, claro.
Daniel:
Conheço relativamente bem o "Memoire des Stands". Ele tem uma "obssessão" pelos pilotos franceses dos anos 70, principalmente o Beltoise e o Cevért, bem como o Pescarolo, embora em menor quantidade.
Também conhecia essa coincidência da Guerra do Yom Kippur ter começado nesse dia, pois li no ano passado um artigo de uma revista americana daquele ano (edição de 15 de Outubro de 1973), onde fazia a referência em que como essa guerra no Médio Oriente obscureceu as noticias do GP dos Estados Unidos, a retirada do Jackie Stewart e a morte de Francois Cevért.
E, coincidência futura: em 1981, oito anos depois do Yom Kippur e do Cevért, o presidente do Egito, Anwar Sadat, era assassinado quando assistia a uma parada militar.
Isso só mostra, coelgas, como os acontecimentos históricos fulcrais da economia mundial incidem diretamente nos rumos de um grande negócio como a F1. Isso cada vez mais ocorre com frequencia, À medida em que a F1 se amalgma com esse rumo. Não há mais romantismo.
ResponderEliminarPaulo...se der, confere este post que fiz
http://historiasevelocidade.blogspot.com/2009/10/probabilidades-possibilidades-e.html
faço uma reflexão sobre escrita da História e o mercado de pilotos para o ano que vem. Espero não ter caído no lugar comum de outros blogs que comentaram sobre o assunto.
Abraços e apareça lá no blog de novo!
Eu já tinha ouvido e lido essa história do Cevert, mas a cada vez que a releio sinto o mesmo calafrio de sempre... impressionante...
ResponderEliminarIsso é curioso e minimamente satanico, eu não acredito em videntes, mas essa é muito cagda em acertar todos os incidentes.
ResponderEliminarHistória impressionante ... Não conhecia. E na altura segui a carreira brilhante do Cévert (só não ganhou + na F.1 por causa de um Sr. chamado Stewart, outro Emerson Fittipaldi, etc.). Bom post no teu excelente blog. ac/mits650
ResponderEliminarhttp://automobiliart.blogspot.com/2009/10/francois-cevert-1944-1973.html
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