A história da Formula 1 está cheia de pilotos que, tendo dinheiro no bolso e uma vaga para preencher, para pagar as contas de alguma equipa com "a corda na garganta", realizam o seu sonho de andar na categoria máxima do automobilismo. Ignorando (ou talvez não...), esses pilotos conseguem ser um embaraço, tornando-se "chicanes móveis" perante os pilotos mais rápidos, como também se tornam num perigo numa competição onde a velocidade é alta e um erro é "a morte do artista". Neste piloto em particular, a biografia que se apresenta não é só porque ele comemora o seu 46º aniversário natalicio, como tamém tem a particularidade de se ter tornado no último piloto suiço na Formula 1, antes das aparições de Sebastien Buemi e Romain Grosjean (embora a correr sob licença francesa), na temporada de 2009. Hoje é dia de falar sobre Jean-Dénis Deletraz.
Nascido a 1 de Outubro de 1963 em Genebra, Deletraz começou a correr em França, dado que na sua Suiça natal, as provas de automobilismo estarem proíbidas. Em 1983 participou no Volant Avia, onde terminou na segunda posição. A sua participação nos monolugares continuou na Formula Ford, onde correu durante duas temporadas, tendo sido terceiro classificado em 1985. Em 1986 passou para a Formula 3 francesa, onde correu num chassis Swica, algo anormal para a altura. Os resultados foram escassos, e continuaram a ser no ano seguinte, quando se mudou para um chassis Ralt. Ainda teve uma passagem para Formula 3 britânica, mas os resultados foram também escassos.
Para piorar as coisas, Deletraz tinha fama de ser um homem com a carteira recheada, que compensaria a sua falta de talento. Mas mesmo aqui, a sua "carteira" era mais recheada de ar do que propriamente com dinheiro. Deixa muitos mecânicos e donos de equipa desesperados devido às suas contas por pagar. Certo dia, ainda nos tempos de Formula 3, os mecânicos bloqueiam o seu carro, um Ferrari 512BB vermelho, e decidiram não sair dali enquanto não pagassem o que devia. A solução que ele arranjou foi o de... aparecer na próxima corrida a correr por outra equipa, e com o seu Ferrari pintado de azul!
Em 1988, vai correr para a Formula 3000. O seu primeiro ano é prometedor, com dois pódios seguidos, em Zolder e Le Mans, apesar de não ter conseguido qualificar-se por duas corridas e ter tido dois acidentes feios. No final dessa temporada foi 13º, com oito pontos, empatado na classificação com Pierre-Henri Raphanel. No ano seguinte, compra a FIRST, uma equipa de competição, e continua a correr até 1991, sem conseguir qualquer resultado de relevo. Em 1991, chega a não correr parte da temporada por causa dos pagamentos. Melhor dito: da falta deles. O seu companheiro de equipa nesse ano, Giovanni Bonnano, colocou-o em tribunal e penhorou os seus carros quando estes chegaram à fronteira italiana, como forma de agilizar pagamentos que estavam em atraso.
Em 1992, passa para os Turismos franceses, onde corre a bordo de um Seat, sem resultados de relevo. Continua a correr no ano seguinte, incluindo uma passagem pela Porsche Supercup, pela sua FIRST, mas nesse ano, continuava a ter problemas com os pagamentos. Um dia, os seus mecânicos fartaram-se com tanto atraso nos pagamentos e decidiram bloquea-lo na sua boxe quando este ia alinhar numa das corridas. Eles ficaram à frente do seu carro por três voltas, até que ele concordou em pagar todos os ordenados em atraso, alguns deles datados dos seus tempos da Formula 3000!
Em 1994, sem muito com que fazer, tem a sua primeira oportunidade de correr na Formula 1, quando no fim de semana anterior ao GP da Austrália, ultima etapa daquela temporada, a Larrousse precisa de dinheiro para pagar as despesas de viagem até lá. Deletraz é o homem escolhido, e correrá no lugar de Eric Comas, ao lado do japonês Hideki Noda. Apesar de ser notoriamente lento, consegue surpreender muita gente ao conseguir qualificar-se na 25ª posição, melhor do que os Pacific e o Simtek de Dommenico "mimmo" Schiartarella.
O suiço, incrivalmente lento na corrida, foi ultrapassado facilmente pelos lideres na nona volta da prova, Damon Hill e Michael Schumacher, e continuou a "pisar ovos" e a fazer-se de "chicane móvel" até à volta 57, quando desistiu com uma falha na caixa de velocidades. Alegadamente, por essa altura, tinha um atraso de... dez voltas sobre os lideres. Sobre ele, o então comentador da BBC e ex-piloto de Formula 1 Jonathan Palmer, afirmou: "Sim... Deletraz não tem nada a ver com esta Formula 1. E está a demonstrá-lo aqui mesmo: está a gastar tudo o que tem e não tem em manter o seu carro em pista!"
Em 1995, vai correr no BPR Global Series, uma série de carros de Turismo, antecessora do Mundial de FIA GT, a bordo de um McLaren F1 GTR BMW. Foi aqui que descobriu a sua vocação, uma categoria do qual continua a correr até aos dias de hoje. Mes nesse ano, para além de ter sido quinto classificado em Le Mans e terceiro em Zuhai, teve a oportunidade de voltar uma segunda vez à Formula 1, desta vez a bordo de um carro da Pacific.
Nesse ano, a equipa tinha como pilotos o belga Bertrand Gachot e Andrea Montermini, e como a falta de dinheiro era um problema demasiado óbvio, Gachot decidiu colocar-se no lado de fora do "cockpit" no sentido de arranjar outro piloto para pagar as despesas até ao final do ano. Durante quatro corridas, o escolhido foi o italiano Giovanni Lavaggi, e a partir da etapa do Estoril, Deletraz foi o piloto seguinte, com um contrato assinado por cinco corridas.
Em Portugal, teve problemas com a caixa de velocidades, que o colocaram na última posição da grelha, a mais de 12 segundos (!) do poleman David Coulthard, e a mais de cinco segundos do piloto que estava à sua frente. Combinado isto tudo com a sua falta de experiência, e a sua incrivel lentidão, a imprensa de então afirmou que era tão lento que o seu antecessor Lavaggi "fazia parecer Tazio Nuvolari", segundo as palavras do jornalista Nigel Roebruck. Outra pessoa que não tinha grande impressão dele era Damon Hill, que afirmou: "Espero que desista cedo".
Na corrida, os desejos de Hill foram concretizados: esta acaba 14 voltas depois de a começar, devido a... câimbras no seu braço esquerdo. Mas antes disso, Deletraz perdera 40 segundos na sua primeira volta, e era dobrado ao fim de dez. Tudo isto antes de acabar a sua corrida.
Ainda correu em Nurburgring, palco do GP da Europa, onde até fez uma performance melhor, embora tenha se qualificado na última posição. Na corrida conseguiu ter a proeza de levar o carro até ao final, a sete voltas do vencedor e na 15ª posição final. Foram belas experiências, mas no final, os pagamentos falharam (mais uma vez!) e a Pacific achou por bem ir buscar Gachot para correr nas três últimas provas do ano, e a sua pífia carreira chegava ao fim:
A sua carreira na Formula 1: Três Grandes Prémios, em duas temporadas (1994-95), zero pontos.
Após encerrar a sua carreira na categoria máxima do automobilismo, dedicou-se aos GT's, com a FIRST e o seu novo sócio, o francês Fabien Giroix. Depois de boas corridas em 1996 e 97, com um McLaren F1 GTR e um Lotus Elise GT1, em 1998 experimenta as corridas sobre gelo, no Troféu Andros, em Chamonix, num Peugeot 306. Em 1999, volta a correr num Ferrari, modelo 333SP, no International Sports Racing Series. Sem resultados de relevo, diga-se.
Em 2000, foram os primeiros a experimentar o modelo 550 Maranello, na categoria GT1, e a temporada foi um desastre. Primeiro, atrasos na conclusão do projecto levaram a falhar algumas rondas, para depois terem vários problemas de ordem mecânica, pois não consluiram qualquer prova nesse ano. Em 2001, corre nas 24 horas de Le Mans, na classe LMP675, onde com um Lister Storm, vence na sua classe. Vai repetir o feito em 2002 e 2004. Ainda em 2002, todo o trabalho com o Ferrari compensou, quando em conjunto com Andrea Piccini, ao serviço da BMS Scuderia Itália, venceu quatro provas na série, terminando na quinta posição da série. Depois de 2003, a sua carreira no automobilismo tornou-se mais espaçada, apesar de algumas participações e bons resultados, como uma vitória na classe GT1 nas 24 Horas de Spa-Francochamps, a bordo de um Chevrolet Corvette C6.R.
Fontes:
Sem comentários:
Enviar um comentário
Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...