quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Quem aldraba e quem está certo?

No meio da minha coluna habitual, a ser publicada amanhã, dei por mim a fazer a habitual olhadela para a imprensa especializada. Dei por mim a ler afirmações completamente contraditórias sobre um mesmo assunto, e reflecti, pensando sobre o tempo em que vivemos.

Os assuntos tem a ver com a Mercedes e o segundo lugar na equipa Virgin/Manor. Em muitos sítios, fala-se que o lugar já tem um dono: o brasileiro Lucas di Grassi, piloto de testes da Renault. Mas aqui em Portugal, há quem jure a pés juntos que os dirigentes da Manor estão interessados em Alvaro Parente. A Autosport portuguesa dá como base uma visita do piloto português à fábrica, onde fez testes no seu simulador, "com resultados brilhantes" (coloco isto entre aspas porque é uma citação da revista)


O outro episódio, o da Mercedes, tem a ver, claro, com as noticias sobre Kimi Raikonnen e um eventual "volte-face" no ano sabático que declarou, e depois nas especulações sobre quem seria o companheiro de Nico Rosberg na equipa (já agora, o alemão só foi confirmado esta segunda-feira) Tudo isso deu para fazer esta reflexão sobre o periodo em que vivemos.


Cá estamos nós: inicio do século XXI, numa altura em que a raça humana está tão dependente da Internet e da tecnologia subjacente que podemos afirmar que este é o tempo do "Homo Interneticus". Mas o mais perigoso, para a comunicação social e o jornalismo em si, é a absoluta dependência que os profissionais têm das agências noticiosas, que vendo as noticias, no conforto das suas redacções, não fazem outra coisa senão reproduzir aquilo que lá vem. Uma forma de "agenda-setting", dirão uns, mas que faz com que as pessoas fiquem perigosamente dependentes disso, perdendo a capacidade de inquirir, reportar e sobretudo, duvidar.



Em suma: à rapidez das noticias, perdemos a capacidade de levantar da cadeira e ir para fora da redacção. Por vezes é por razões financeiras. Outras é por preguiça.


Mas quero tocar nesta realidade por causa de uma coisa: nem todos os assuntos tem a capacidade de serem actualizados todos os dias. Se o futebol tem de ser porque há sempre jogos todos os dias, o automobilismo não tem de ser. E quando se chega a um tempo como este, onde não há testes e as equipas não abrem a boca todos os dias para dizer que piloto A vai para a equipa B, ou que equipa C vai ter motores D, as especulações, os boatos e as mentiras se instalam. E sabendo da dependência das pessoas por novidades, estas crescem e multiplicam-se, graças aos outros meios de comunicação e sobretudo blogues.


A semana passada, li o último post da Alessandra Alves, e vemos que há muita razão quando ela diz que os jornalistas perderam a capacidade de sair das suas redacções e investigar as suas noticias. A blogosfera passa por aí também. Coincidentemente, o Alexandre Carvalho "gritava" no Twitter dizendo que sempre que ia aos blogues lia sempre a mesma coisa que lia nas agências de informação. Por outras palavras, acusava os blogueiros de serem preguiçosos e "copiões". E tem razão. Basta dar uma rápida olhadela e ver que 90 por cento da blogosfera automobilistica repete aquilo que se pode ler no Grande Prêmio brasileiro, no Autosport português, no Pitpass inglês ou no Auto Motor und Sport alemão.


Em jeito de conclusão, deviamos ser originais e não somos. Perdemos capacidade para analisar e criticar.




Mas por agora não vou por aí. Daqui a algum tempo, voltarei a falar com calma sobre este assunto. Agora, falemos da imprensa em geral, que é o assunto deste post.


Quero falar em concreto do "assunto Mercedes". Quando se falou que Kimi Raikonnen ia para os ralies em 2010, apareceu no dia seguinte o jornalista brasileiro Lito Cavalcante a dizer, a pés juntos, que afinal, Raikonnen estava mas é a caminho da Mercedes. Por natureza, pesquiso na Internet por outros sites internacionais, especialmente os de lingua inglesa, para saber se isto tem algum fundamento. Naquele dia, todos tinham como base o Cavalcante, mas não davam muita credibilidade. O Joe Saward, no seu blog, até fez um post a fazer troça dele...


Passados estes dias, nada foi confirmado, mas todos acreditam que ele negoceia com a Mercedes. Nesta época de boatos, rumores e insinuações sobre A ou B, começo a ficar irritado com a insistência deste tipo de noticias. É aborrecido e enganador. As pessoas credulizam a coisa, e os boatos, nesta era de rede, espalham-se como fogo como sendo reais, de onde só falta a foto comprovativa. Começa a ser ridículo. Não deviamos esperar pela confirmação para podermos falar no assunto? Onde e como perdemos a cabeça? E agora volto ao assunto Manor: qual deles mente e onde para a verdade? Será que, na nossa sede de noticias, deveriamos exigir às partes que publiquem os contornos dos negócios, tal como as "telenovelas da vida real", da qual nós nos habituamos?


Conheço algumas respostas, mas não "a" resposta. Tento as aplicar neste espaço, mas nem sempre consigo. Mas estes tempos de incerteza e aborrecimento, qualquer coisa serve para agitar as águas. E não devia ser assim.

1 comentário:

  1. Um memorável post para reflexão, meu caro Paulo.

    Já havia lido o artigo da Alessandra Alves e acredito que o ponto essencial da discussão vá por esse caminho mesmo.

    Por exemplo, fala-se do Kimi na Mercedes. Mas quantos jornalistas "especializados" buscam saber mais sobre isso?

    Porque não conversam com gente próxima ao piloto? Porque não fiscalizam o cotidiano dele? Daria para saber se ele está realmente negociando...

    O problema é que preferimos sentar e esperar pela nota oficial da assessoria de imprensa.

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Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...