A partir de hoje, como o site onde costumo colocar os artigos está em reestruturação, e a pessoa com quem falava saiu de cena para um novo projecto, decidi colocar por aqui a versão integral da 5ª Coluna que escrevo todas as semanas. Vai ser assim até que exista uma próxima oportunidade para colocar de novo noutro espaço.
Desta vez, falo especialmente sobre "caso Campos Meta" e os mandos e desmandos entre Jean Todt e Bernie Ecclestone, entre outras coisas mais. Aqui vai:
A semana que passou deveria ter servido para vermos as apresentações de Virgin, Force Índia e Red Bull, mas também espreitamos o primeiro Lotus de Formula 1 em 15 anos, e isso deveria ser o suficiente para falarmos por aqui. Também estamos nas vésperas do primeiro rali da época do WRC, o Rali da Suécia, onde veremos uma nova classe, o SWRC, e a estreia oficial de Kimi Raikonnen na sua nova classe. Contudo, tudo isso é ainda assombrado com o que se passa nos bastidores, que é a incerteza da USF1 e da Campos, que esta semana se acumulou com as declarações contraditórias de Bernie Ecclestone e de Jean Todt sobre uma área do Pacto de Concórdia, onde primeiro se dizia que as novas equipas podiam faltar três corridas, e agora não.
Campos: passaram os prazos e... nada
Quarta-feira deveria ser o dia onde tudo se decidiria sobre o pagamento dos chassis à Dallara, bem como outras coisas como os detalhes do tal acordo, nunca confirmado nem desmentido, com o Tony Teixeira, dono do defunto A1GP. Ora, as horas passaram e… nada. Quem sofre é Bruno Senna. Julgando Adrian Campos que só o nome seria o suficiente para atraír investidores, desde meados de Dezembro que se sabia das dificuldades da equipa em atraír pilotos e dinheiro necessário para completar o orçamento.
Mas mesmo antes, as desconfianças sobre a validade do projecto não se dissiparam totalmente. E as desconfianças desses observadores podiam ter alguma verdade, mas Campos, ex-piloto de formula 1 pela Minardi em 1987/88, e que construiu uma equipa na Formula 3 espanhola e na GP2 após encerrar a sua carreira competitiva, até nem tinha motivos para tais suspeitas. Mas quando ele foi escolhido para montar uma equipa em 2010, batendo estruturas mais sólidas como a Prodrive e a sua compatriota Epsilon Euskadi, muitos não compreenderam tal escolha.
Para essa parte posso apontar um culpado: Max Mosley. Quando impôs às equipas um tecto de 40 milhões de dólares para poderem correr na Formula 1, escolheu a Campos, em conjunto com a Manor (agora Virgin) e a USF1, como parte dessa estratégia de uma contenção radical de despesas, em conjunto com um motor-padrão fabricado pela Cosworth. Como é público, Mosley travava na altura uma batalha contra a FOTA, e ele queria impor esses limites, mesmo correndo o risco de ver criada uma série paralela. No final, depois de a FOTA ter puxado as coisas até ao limite, Mosley cedeu e foi-se embora.
Obviamente, os estragos tinham sido feitos. Como não se podiam pura e simplesmente retirar as licenças às novas equipas, bastou que eles "rebentassem" por si. Sendo equipas pensadas para determinado valor, mas agora viram esse valor a ser levantado, viram-se aflitas para completar orçamentos. Para piorar, vive-se uma época de crise, em que tudo tem de ser contido. Contratar pilotos pagantes é uma boa solução, mas nem todos têm, por exemplo, cinco milhões de euros para comprar um lugar para 2010. José Maria Lopez, o argentino da USF1, levou em teoria oito milhões de dólares, mas até agora só foram confirmados os dois milhões do governo argentino. E agora esta semana, surgiram notícias de que os 15 milhões de euros que o russo Vitaly Petrov levou para a Renault foram esta semana colocados em causa porque se soube que metade dele é proveniente de um empréstimo bancário. E mesmo esse está atrasado, existindo agora uma prazo de até ao 1º de Março para que esse pagamento seja feito, caso contrário, outro virá para o lugar. Algo que foi confirmado pelo Jacques Villeneuve, que era um dos candidatos ao lugar. Aliás, ele disse que só poucas horas antes do anúncio oficial é que foi confirmando como sendo o segundo piloto da equipa.
Afinal, quem manda no automobilismo?
Prevendo tudo isto, surgiu nas últimas semanas o rumor de que tinha sido acordado entre a FIA e a FOTA uma espécie de pacto, em que as equipas poderiam falhar até três corridas. Primeiro surgiu nos blogs de jornalistas consagrados como James Allen, do Autosport inglês, e depois foi confirmado na segunda-feira por Bernie Ecclestone.
Mas o Tio Bernie disse que essa cláusula fazia parte do Pacto da Concórdia, acordado entre FIA e FOTA em meados do ano passado. Um Pacto cujo conteúdo é em muitos aspectos, secreto. Pelo menos não conheço ninguém que tenha referido o pacto na integra, pelo menos fora do circulo automobilístico dos dirigentes. No dia seguinte, Todt confirmou isso... durante 24 horas, pois já veio a público desmentir que tal regra exista. Porquê?
Será que a ideia é de livrar destes projectos de outra forma que não a simples revogação da licença, evitando multas pesadas? Até pode ser, dado que uma das clausulas que saiu a público referia sobre a proibição das equipas em abandonar a Formula 1 até 2012, algo que, como é sabido, não foi cumprido por parte da Toyota. Mas desconhecia até então se as novas equipas tinha assinado esse acordo. Pelos vistos, com a resposta que Todt deu, devem ter assinado.
Mas caso uma das equipas não consiga correr, existe outra a pairar sobre as cabeças. A Stefan GP. Depois de se saber que compraram o espólio da Toyota, e de terem dito que iriam testar os seus carros no final deste mês no Autódromo de Portimão, agora a equipa sérvia diz que mandaram contentores esta semana para o Bahrein e Malásia, mesmo sabendo que não tem licença para correr a temporada de 2010.
Ora, essa Stefan GP também é outro imbróglio. Todt não garante a sua entrada automática na Formula 1, em caso de saída da Campos ou da USF1, enquanto que Bernie Ecclestone não esconde que quer ver a equipa sérvia no paddock do Bahrein. Aliás, a equipa já disse que ia mandar um contentor com material. Para fazerem algo assim, teriam a anuência do patrão da FOM.
Isto tudo faz-me perguntar: quem manda ali? É Jean Todt ou Bernie Ecclestone? Será que o Bernie pode interpretar as regras como quiser e bem apetecer? É certo que ele deve ser um homem muito bem avisado, para dizer o que diz, mas acho que se comporta como se fosse Deus, para dizer à Stefan que pode montar a barraca à vontade, ultrapassando as competências de Jean Todt… não se pode dizer a ele para siga as regras? E já agora, que feche a boca mais vezes? A Formula 1 agradeceria, já que ele não tem intenções de se reformar.
Por esta semana é tudo, na próxima semana espero falar mais dos factos e menos dos bastidores. Até lá!
A semana que passou deveria ter servido para vermos as apresentações de Virgin, Force Índia e Red Bull, mas também espreitamos o primeiro Lotus de Formula 1 em 15 anos, e isso deveria ser o suficiente para falarmos por aqui. Também estamos nas vésperas do primeiro rali da época do WRC, o Rali da Suécia, onde veremos uma nova classe, o SWRC, e a estreia oficial de Kimi Raikonnen na sua nova classe. Contudo, tudo isso é ainda assombrado com o que se passa nos bastidores, que é a incerteza da USF1 e da Campos, que esta semana se acumulou com as declarações contraditórias de Bernie Ecclestone e de Jean Todt sobre uma área do Pacto de Concórdia, onde primeiro se dizia que as novas equipas podiam faltar três corridas, e agora não.
Campos: passaram os prazos e... nada
Quarta-feira deveria ser o dia onde tudo se decidiria sobre o pagamento dos chassis à Dallara, bem como outras coisas como os detalhes do tal acordo, nunca confirmado nem desmentido, com o Tony Teixeira, dono do defunto A1GP. Ora, as horas passaram e… nada. Quem sofre é Bruno Senna. Julgando Adrian Campos que só o nome seria o suficiente para atraír investidores, desde meados de Dezembro que se sabia das dificuldades da equipa em atraír pilotos e dinheiro necessário para completar o orçamento.
Mas mesmo antes, as desconfianças sobre a validade do projecto não se dissiparam totalmente. E as desconfianças desses observadores podiam ter alguma verdade, mas Campos, ex-piloto de formula 1 pela Minardi em 1987/88, e que construiu uma equipa na Formula 3 espanhola e na GP2 após encerrar a sua carreira competitiva, até nem tinha motivos para tais suspeitas. Mas quando ele foi escolhido para montar uma equipa em 2010, batendo estruturas mais sólidas como a Prodrive e a sua compatriota Epsilon Euskadi, muitos não compreenderam tal escolha.
Para essa parte posso apontar um culpado: Max Mosley. Quando impôs às equipas um tecto de 40 milhões de dólares para poderem correr na Formula 1, escolheu a Campos, em conjunto com a Manor (agora Virgin) e a USF1, como parte dessa estratégia de uma contenção radical de despesas, em conjunto com um motor-padrão fabricado pela Cosworth. Como é público, Mosley travava na altura uma batalha contra a FOTA, e ele queria impor esses limites, mesmo correndo o risco de ver criada uma série paralela. No final, depois de a FOTA ter puxado as coisas até ao limite, Mosley cedeu e foi-se embora.
Obviamente, os estragos tinham sido feitos. Como não se podiam pura e simplesmente retirar as licenças às novas equipas, bastou que eles "rebentassem" por si. Sendo equipas pensadas para determinado valor, mas agora viram esse valor a ser levantado, viram-se aflitas para completar orçamentos. Para piorar, vive-se uma época de crise, em que tudo tem de ser contido. Contratar pilotos pagantes é uma boa solução, mas nem todos têm, por exemplo, cinco milhões de euros para comprar um lugar para 2010. José Maria Lopez, o argentino da USF1, levou em teoria oito milhões de dólares, mas até agora só foram confirmados os dois milhões do governo argentino. E agora esta semana, surgiram notícias de que os 15 milhões de euros que o russo Vitaly Petrov levou para a Renault foram esta semana colocados em causa porque se soube que metade dele é proveniente de um empréstimo bancário. E mesmo esse está atrasado, existindo agora uma prazo de até ao 1º de Março para que esse pagamento seja feito, caso contrário, outro virá para o lugar. Algo que foi confirmado pelo Jacques Villeneuve, que era um dos candidatos ao lugar. Aliás, ele disse que só poucas horas antes do anúncio oficial é que foi confirmando como sendo o segundo piloto da equipa.
Afinal, quem manda no automobilismo?
Prevendo tudo isto, surgiu nas últimas semanas o rumor de que tinha sido acordado entre a FIA e a FOTA uma espécie de pacto, em que as equipas poderiam falhar até três corridas. Primeiro surgiu nos blogs de jornalistas consagrados como James Allen, do Autosport inglês, e depois foi confirmado na segunda-feira por Bernie Ecclestone.
Mas o Tio Bernie disse que essa cláusula fazia parte do Pacto da Concórdia, acordado entre FIA e FOTA em meados do ano passado. Um Pacto cujo conteúdo é em muitos aspectos, secreto. Pelo menos não conheço ninguém que tenha referido o pacto na integra, pelo menos fora do circulo automobilístico dos dirigentes. No dia seguinte, Todt confirmou isso... durante 24 horas, pois já veio a público desmentir que tal regra exista. Porquê?
Será que a ideia é de livrar destes projectos de outra forma que não a simples revogação da licença, evitando multas pesadas? Até pode ser, dado que uma das clausulas que saiu a público referia sobre a proibição das equipas em abandonar a Formula 1 até 2012, algo que, como é sabido, não foi cumprido por parte da Toyota. Mas desconhecia até então se as novas equipas tinha assinado esse acordo. Pelos vistos, com a resposta que Todt deu, devem ter assinado.
Mas caso uma das equipas não consiga correr, existe outra a pairar sobre as cabeças. A Stefan GP. Depois de se saber que compraram o espólio da Toyota, e de terem dito que iriam testar os seus carros no final deste mês no Autódromo de Portimão, agora a equipa sérvia diz que mandaram contentores esta semana para o Bahrein e Malásia, mesmo sabendo que não tem licença para correr a temporada de 2010.
Ora, essa Stefan GP também é outro imbróglio. Todt não garante a sua entrada automática na Formula 1, em caso de saída da Campos ou da USF1, enquanto que Bernie Ecclestone não esconde que quer ver a equipa sérvia no paddock do Bahrein. Aliás, a equipa já disse que ia mandar um contentor com material. Para fazerem algo assim, teriam a anuência do patrão da FOM.
Isto tudo faz-me perguntar: quem manda ali? É Jean Todt ou Bernie Ecclestone? Será que o Bernie pode interpretar as regras como quiser e bem apetecer? É certo que ele deve ser um homem muito bem avisado, para dizer o que diz, mas acho que se comporta como se fosse Deus, para dizer à Stefan que pode montar a barraca à vontade, ultrapassando as competências de Jean Todt… não se pode dizer a ele para siga as regras? E já agora, que feche a boca mais vezes? A Formula 1 agradeceria, já que ele não tem intenções de se reformar.
Por esta semana é tudo, na próxima semana espero falar mais dos factos e menos dos bastidores. Até lá!
Sem comentários:
Enviar um comentário
Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...