Se fosse vivo, Stanley Michael Bailey Hailwood comemoraria o seu 70º aniversário. Provavelmente ficariam desconfiados com este nome. Mas falar em Mike "the Bike" Hailwood, as coisas piam mais fino. Afinal, era um dos melhores da sua geração, a par de de Giacomo Agostini e Phil Read, para além de ter sido um digno sucessor de John Surtees, cuja carreira depois a tentou seguir, nas quatro rodas.
"Mike The Bike" tinha um talento natural para as motos. Filho de piloto, cuja carreira aconteceu no periodo pré-II Guerra Mundial, aos 17 anos começou a participar no Mundial de Motociclismo, numa era em que podia participar em mais do que uma categoria. Hailwood podia participar no mesmo fim de semana em categorias que iam desde os 125 cc até aos 500 cc, passando pelos 250, 350 ou então nos 80cc. E se isso acontecia em termos de categoria, também acontecia em termos de marcas. Podia correr, por exemplo, pela MV Augusta nas 500cc, enquanto que nas 125cc, por exemplo, poderia estar ao serviço da Norton. Algo inimaginável nos dias de hoje!
Nessa era, a "Joia da Coroa" do motociclismo de pista era a "Man TT", uma corrida à volta da ilha de Man, encravado entre a Grã-Bretanha e a Irlanda, através das estradas da ilha, num tempo que tanto podia estar sol, como a seguir aparecer a chuva, ou o vento. Em suma, era uma corrida bastante perigosa de se fazer, e frequentemente causava acidentes graves, senão mortais. em 1958, Hailwood causa sensação ao estrear-se por ali, alcançando a sua primeira vitória em 1961, a primeira de nove que conseguirá ao longo da sua carreira. E nesse mesmo ano, vence o campeonato do mundo de 250cc, o primeiro dos seus títulos.
Até 1967, "Mike the Bike" torna-se no piloto dominador no mundial de Motociclismo, quer nas Hondas de dois tempos, quer nos MV Augusta. Só entre 1963 e 65, na classe de 500cc, ganhou todas as provas em que participou. E durante esse tempo foram 22 corridas!
A partir de 1966, somente correu com a Honda, ajudando a elevar a sua conta pessoal para 76 vitórias. E uma delas ficou na história da modalidade, com a edição de 1967 da Man TT. Nesse ano já contava com a ameaça do italiano Giacomo Agostini, dois anos mais novo que Mike. Agostini, o menino bonito da MV Augusta, competia contra Hailwood na categoria de 500cc, numa máquina cuja potência não era acompanhada pela respectiva estabilidade, que o tornava inguiável noutras mãos. Sabendo disso, Agostini partiu na frente, alcançando uma vantagem de 12 segundos na primeira volta. Hailwood tentou diminuir esse fosso, batendo o recorde de volta (foi recorde durante oito anos) antes de ambos pararem nas boxes para reabastecimento, na terceira volta. Aí, a diferença era de três segundos.
Quando tal aconteceu, surgiu o desastre: problemas com o acelerador fizeram com que a diferença aumentasse em mais onze segundos, fazendo com que fosse uma tarefa impossivel apanhar Agostini. Mesmo assim, sem desistir, Hailwood imprimiu um ritmo alucinante, mesmo com uma moto a menos de cem por cento, à espera de um milagre. E esse aconteceu na última volta, quando a corrente da MV Augusta do piloto italiano se partiu, dando a ele uma vitória caída do céu, contra um Agostini em lágrimas.
Entre títulos nas motos, Hailwood tentou a sua sorte nos automóveis. Correu esporadicamente na Formula 1, na privada Reg Parnell Racing, onde conseguiu um sexto posto no GP do Mónaco de 1964. Pilotou em chassis Lotus com motor BRM, e a coisa continuou até 1965, quando voltou a concentrar-se no motociclismo. No final de 1967, a honda anuncia a sua retirada da competição, e paga a Hailwood cerca de 50 mil libras... para não competir. Como não era homem para ficar parado, regressa ao automobilismo.
E assim corre em eventos como as 24 Horas de Le Mans, onde termina em terceiro na edição de 1969, e em 1971 volta à Formula 1, pelas mãos de... John Surtees, o seu ídolo de infância. Alcança resultados respeitadores, desde o título de campeão europeu de Formula 2, na temporada de 1972, até um segundo lugar no GP de Itália desse mesmo ano de 1972, o melhor resultado de sempre da Surtees. Poucos meses depois seria noticia por outros motivos: salvou uma vida de um companheiro de profissão.
No GP da Africa do Sul de 1973, em Kyalami, o BRM de Clay Regazzoni colide com o seu carro na segunda volta da corrida. Do acidente resultou num incêndio, e o suiço não podia sair do seu carro, pois o cinto de segurança tinha ficado preso. Hailwood saiu do carro e foi socorrer Regazzoni, mesmo com o seu fato de competição parcialmente em chamas. Ele foi salvo e o governo britânico, reconhecendo os seus feitos, atribuiu-lhe a George Medal, uma condecoração por bravura. A mesma condecoração foi dada pouco meses depois a David Purley, quando tentou salvar inutilmente o seu compatriota Roger Williamson de situação semelhante no circuito holandês de Zandvoort...
No ano seguinte vai para a McLaren guiar o terceiro carro da equipa, patrocinado pela Yardley, em contraste com os carros oficiais, patrocinados pela Marlboro. Hailwood até faz uma boa época, até cair mal à saída de uma lomba no desafiador Nurburgring Nordschleiffe, partindo a perna direita com consequência, terminando naquele instante a sua carreira automobilistica.
Não pensou mais em corridas, casou-se e tentou viver durante uns tempos na Africa do Sul. Contudo, decidiu voltar e em 1978, volta ao motociclismo e ao seu Man TT. Desde a sua retirada do calendário do Mundial, em 1976, que tentava recuperar o seu prestigio de outrora. E Mike Hailwood fazia parte desse plano. Arranjou uma Ducati 900SS, e contrariando o cepticismo dos comentadores presentes, venceu convincentemente. Tinha 38 anos, não competia há onze e tudo era completamente diferente, desde os fatos e o capacete, até à construção das motas propriamente ditas. Mas o espirito estava lá, e conseguiu vencer uma última vez.
Um dia, em 1967, contou a seguinte história: "Quando tinha 18 anos fui correr para a Africa do Sul. Num Sábado á noite, eu e um grupo de amigos motociclistas fomos para um bar em Durban, onde encontramos um velho indiano que lia as palmas das mãos. Ele leu as mãos de todos nós disse-nos como iriamos morrer. Afirmou que o último de nós viveria até aos 40 anos, e eu seria esse último, morrendo num acidente de estrada, chocando contra um camião. Portanto, eu tenho a certeza que nunca acabarei morto na pista".
A profecia cumpriu-se a 23 de Março de 1981, um Sábado à tarde, quando o seu Rover 2000 bateu de frente contra um camião que fazia uma manobra ilegal na auto-estrada A435, em Tamworth-in-Arden, local onde vivia. Ele vinha acompanhado pela filha Michelle e pelo filho David. Somente o rapaz sobreviveu. Faltavam poucas semanas para comemorar o seu 41º aniversário, e o camionista apenas foi condenado a pagar uma multa de cem libras.
"Mike The Bike" tinha um talento natural para as motos. Filho de piloto, cuja carreira aconteceu no periodo pré-II Guerra Mundial, aos 17 anos começou a participar no Mundial de Motociclismo, numa era em que podia participar em mais do que uma categoria. Hailwood podia participar no mesmo fim de semana em categorias que iam desde os 125 cc até aos 500 cc, passando pelos 250, 350 ou então nos 80cc. E se isso acontecia em termos de categoria, também acontecia em termos de marcas. Podia correr, por exemplo, pela MV Augusta nas 500cc, enquanto que nas 125cc, por exemplo, poderia estar ao serviço da Norton. Algo inimaginável nos dias de hoje!
Nessa era, a "Joia da Coroa" do motociclismo de pista era a "Man TT", uma corrida à volta da ilha de Man, encravado entre a Grã-Bretanha e a Irlanda, através das estradas da ilha, num tempo que tanto podia estar sol, como a seguir aparecer a chuva, ou o vento. Em suma, era uma corrida bastante perigosa de se fazer, e frequentemente causava acidentes graves, senão mortais. em 1958, Hailwood causa sensação ao estrear-se por ali, alcançando a sua primeira vitória em 1961, a primeira de nove que conseguirá ao longo da sua carreira. E nesse mesmo ano, vence o campeonato do mundo de 250cc, o primeiro dos seus títulos.
Até 1967, "Mike the Bike" torna-se no piloto dominador no mundial de Motociclismo, quer nas Hondas de dois tempos, quer nos MV Augusta. Só entre 1963 e 65, na classe de 500cc, ganhou todas as provas em que participou. E durante esse tempo foram 22 corridas!
A partir de 1966, somente correu com a Honda, ajudando a elevar a sua conta pessoal para 76 vitórias. E uma delas ficou na história da modalidade, com a edição de 1967 da Man TT. Nesse ano já contava com a ameaça do italiano Giacomo Agostini, dois anos mais novo que Mike. Agostini, o menino bonito da MV Augusta, competia contra Hailwood na categoria de 500cc, numa máquina cuja potência não era acompanhada pela respectiva estabilidade, que o tornava inguiável noutras mãos. Sabendo disso, Agostini partiu na frente, alcançando uma vantagem de 12 segundos na primeira volta. Hailwood tentou diminuir esse fosso, batendo o recorde de volta (foi recorde durante oito anos) antes de ambos pararem nas boxes para reabastecimento, na terceira volta. Aí, a diferença era de três segundos.
Quando tal aconteceu, surgiu o desastre: problemas com o acelerador fizeram com que a diferença aumentasse em mais onze segundos, fazendo com que fosse uma tarefa impossivel apanhar Agostini. Mesmo assim, sem desistir, Hailwood imprimiu um ritmo alucinante, mesmo com uma moto a menos de cem por cento, à espera de um milagre. E esse aconteceu na última volta, quando a corrente da MV Augusta do piloto italiano se partiu, dando a ele uma vitória caída do céu, contra um Agostini em lágrimas.
Entre títulos nas motos, Hailwood tentou a sua sorte nos automóveis. Correu esporadicamente na Formula 1, na privada Reg Parnell Racing, onde conseguiu um sexto posto no GP do Mónaco de 1964. Pilotou em chassis Lotus com motor BRM, e a coisa continuou até 1965, quando voltou a concentrar-se no motociclismo. No final de 1967, a honda anuncia a sua retirada da competição, e paga a Hailwood cerca de 50 mil libras... para não competir. Como não era homem para ficar parado, regressa ao automobilismo.
E assim corre em eventos como as 24 Horas de Le Mans, onde termina em terceiro na edição de 1969, e em 1971 volta à Formula 1, pelas mãos de... John Surtees, o seu ídolo de infância. Alcança resultados respeitadores, desde o título de campeão europeu de Formula 2, na temporada de 1972, até um segundo lugar no GP de Itália desse mesmo ano de 1972, o melhor resultado de sempre da Surtees. Poucos meses depois seria noticia por outros motivos: salvou uma vida de um companheiro de profissão.
No GP da Africa do Sul de 1973, em Kyalami, o BRM de Clay Regazzoni colide com o seu carro na segunda volta da corrida. Do acidente resultou num incêndio, e o suiço não podia sair do seu carro, pois o cinto de segurança tinha ficado preso. Hailwood saiu do carro e foi socorrer Regazzoni, mesmo com o seu fato de competição parcialmente em chamas. Ele foi salvo e o governo britânico, reconhecendo os seus feitos, atribuiu-lhe a George Medal, uma condecoração por bravura. A mesma condecoração foi dada pouco meses depois a David Purley, quando tentou salvar inutilmente o seu compatriota Roger Williamson de situação semelhante no circuito holandês de Zandvoort...
No ano seguinte vai para a McLaren guiar o terceiro carro da equipa, patrocinado pela Yardley, em contraste com os carros oficiais, patrocinados pela Marlboro. Hailwood até faz uma boa época, até cair mal à saída de uma lomba no desafiador Nurburgring Nordschleiffe, partindo a perna direita com consequência, terminando naquele instante a sua carreira automobilistica.
Não pensou mais em corridas, casou-se e tentou viver durante uns tempos na Africa do Sul. Contudo, decidiu voltar e em 1978, volta ao motociclismo e ao seu Man TT. Desde a sua retirada do calendário do Mundial, em 1976, que tentava recuperar o seu prestigio de outrora. E Mike Hailwood fazia parte desse plano. Arranjou uma Ducati 900SS, e contrariando o cepticismo dos comentadores presentes, venceu convincentemente. Tinha 38 anos, não competia há onze e tudo era completamente diferente, desde os fatos e o capacete, até à construção das motas propriamente ditas. Mas o espirito estava lá, e conseguiu vencer uma última vez.
Um dia, em 1967, contou a seguinte história: "Quando tinha 18 anos fui correr para a Africa do Sul. Num Sábado á noite, eu e um grupo de amigos motociclistas fomos para um bar em Durban, onde encontramos um velho indiano que lia as palmas das mãos. Ele leu as mãos de todos nós disse-nos como iriamos morrer. Afirmou que o último de nós viveria até aos 40 anos, e eu seria esse último, morrendo num acidente de estrada, chocando contra um camião. Portanto, eu tenho a certeza que nunca acabarei morto na pista".
A profecia cumpriu-se a 23 de Março de 1981, um Sábado à tarde, quando o seu Rover 2000 bateu de frente contra um camião que fazia uma manobra ilegal na auto-estrada A435, em Tamworth-in-Arden, local onde vivia. Ele vinha acompanhado pela filha Michelle e pelo filho David. Somente o rapaz sobreviveu. Faltavam poucas semanas para comemorar o seu 41º aniversário, e o camionista apenas foi condenado a pagar uma multa de cem libras.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...