Chamavam-lhe "O Urso" por ser uma personagem irascível para quem lhe atravessasse à sua frente em corrida e fizesse manobras pouco claras. Sabia dessa reputação e por vezes usava isso como forma de fazer uma partida aos mais incautos. Adorava correr, tanto que não aguentou a vida pacata da pós-retirada, e voltou a correr em Turismos no inicio dos anos 80, primeiro na Grã-Bretanha e depois na Austrália. Correu pela Tom Walkinshaw Racing no European Touring Car Championship, e demonstrou que mesmo com 50 anos, não perdera nada da sua rapidez e reflexos.
Dennis Hulme, que se estivesse vivo faria hoje 74 anos de idade, era o "Denny" do "The Bruce & Denny Show", a equipa que dominou completamente a Can-Am no final dos anos 60, inicio dos anos 70. Hulme conquistou para a marca dois dos quatro títulos que a McLaren conquistou nessa altura, sendo os outros dois pertencentes ao fundador. As máquinas da McLaren na Can-Am, construídas e pilotadas pelo seu fundador, Bruce McLaren, transformaram a competição numa "McLaren Country", e Hulme ajudou a construir o mito da equipa, ao lado de outros como Teddy Mayer, Tyler Alexander, Gordon Coppuck e até outras personagens menores como os americanos Dan Gurney e Peter Revson.
A 2 de Junho de 1970, quando McLaren morre num teste em Goodwood, Hulme estava a convalescer de queimaduras nas mãos devido a um acidente na qualificação das 500 Milhas de Indianápolis. Ele tinha aguentado as dores sem o demonstrar, mas quando soube da pior noticia que se podia ouvir de alguém que era próximo, desmanchou-se em lágrimas. Contudo, recompôs-se e manteve unida a equipa nesses dias sombrios e foi um dos que assegurou a sobrevivência da equipa, colocando-a nos mais altos vôos.
Pouca gente fora da Nova Zelândia sabe que Dennis é filho de Alfred Hulme, sargento do exército na II Guerra Mundial e um dos poucos no seu país que recebeu a mais alta condecoração britânica: a Victoria Cross. Sendo filho de um herói de guerra, normalmente é raro o filho conseguir ser melhor do que o pai. Neste caso, foi a excepção, e o seu pai viveu o tempo suficiente para ver os feitos do filho e a orgulhar-se deles.
Os últimos anos de Hulme foram amargos em termos familiares. No dia de Natal de 1988, o seu filho Martin morreu vítima de um acidente náutico. Tendo ele sobrevivido a um período de tempo onde a morte estava a cada curva mal feita ou a cada quebra mecânica grave, e se retirara depois de ver os restos mortais de outro grande amigo, Peter Revson, vitima de um acidente fatal durante testes no circuito sul-africano de Kyalami, passar o resto da vida para assistir a um golpe tão duro na sua alma, especialmente a alguém tão próximo como um filho, foi devastador.
O dia 4 de Outubro de 1992 era importante no automobilismo australiano, pois era o dia das Mil Milhas de Bathurst, o equivalente australiano a Indianápolis, Le Mans ou Monza, circuitos míticos nas mentes de qualquer amante do automobilismo. Num BMW M3 da Tom Walkinshaw Racing, Hulme, agora com 56 anos, estava a preparar-se para mais uma participação na mítica corrida, transmitida ao vivo para a Australia e Nova Zelândia. A meio da corrida, os espectadores e os comissários de pista viam o carro de Hulme a parar na berma, numa saída de pista perfeitamente controlada. Quando lá chegaram, verificaram que ele tinha sofrido um ataque cardíaco fulminante.
O destino quis que ele, o primeiro (e até agora único) campeão neozelandês acabasse a sua vida em pista, mas não com estrondo como tinha acontecido aos seus amigos McLaren e Revson, ou a tantos outros que conhecera ao longo da sua carreira de piloto. Silenciosa, mas suficientemente visível.
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