segunda-feira, 14 de junho de 2010

Grand Prix (capitulo XXI, noi siamo a Monza)

(continuação do capitulo anterior)

No final da primeira volta, os Ferrari ocupavam as duas primeiras posições, com Beaufort, Turner e Solana a pressioná-los, mas todos estavam ou mesmo atrás deles, ou ao seu lado. Numa pista de alta velocidade, onde cada rotação do motor contava, e muito, a cada passagem pela meta, a volatilidade dessa posição era evidente. Ferrari, Jordan, McLaren ou BRM, todos passavam pelo comando, todos aceleravam na maior parte do tempo, tentando obter uma vantagem decisiva. Mas isso só aconteceria caso o material dos seus carros cedesse a alguma altura da corrida. Nas voltas que passavam na corrida, pouca gente cedia, num pelotão tão compacto que facilmente poderiam estar três ou quatro carros lado a lado.

Isso era impressionante, quer para os espectadores, quer para os que assistiam a tudo nas boxes ou em casa, pela televisão. A cada passagem pela meta, o piloto que estava na frente tentava desesperadamente afastar-se dos seus concorrentes, mas estes não lhe davam tréguas, e os apanhava na Curva Grande, por exemplo. Somente nas Lesmos ou na Parabólica é que poderiam ter mais hipóteses de afastar, pois era aí onde a técnica do piloto se sobrepunha à pura força das cavalagens de um qualquer motor V8 Cosworth ou V12 da Ferrari ou Matra, que se distinguiam no meio do rúido, mesmo que não fosse um entendido nessa matéria.

Reinhardt, Van Diemen, Turner, O'Hara, McLaren... todos tinham passado pela liderança nas primeiras vinte voltas. E faltavam mais 48 para o seu final, e como enxames de abelhas, passavam velozmente pelas boxes, sem dar tréguas ao seu adversário, que rolava mesmo a seu lado. E quer nas boxes, quer nas bancadas, todos os que não faziam parte das equipas se deliciavam com o espectáculo.


- Caramba, ninguém se descola, diz Sinead.
- Em Monza é assim mesmo, querida. Só se decide no final da corrida. E já ganhei e perdi corridas aqui mesmo dessa forma, respondeu Pete de forma calma, fruto da sua experiência como piloto.


O seu irmão tinha ficado no pelotão da frente e por duas vezes passou no comando da corrida, mas sem consegur descolar dos seus perseguidores, que eram neste momento um enxame de dez carros, que incluia todos os Ferrari, Matra e Jordan, mais o Eagle-Apollo de O'Hara e o carro de Bruce McLaren. E nenhum deles tinha mais do que um segundo de diferença. E sempre a dar o máximo.

Na volta 21 começaram a surgir as primeiras cedências. Após a passagem dos carros pela meta, deu-se conta da ausência de um carro negro e dourado. Era um Jordan, mas ninguém sabia de quem era. Pouco depois, nos altifalentes, o "speaker" de serviço anunciava: "O carro numero seis, de Bob Turner, da equipa Jordan, acaba de parar na Vialone devido ao que aparenta ser um motor rebentado". Um grande bruáá se ouviu nas bancadas. Mas oito voltas depois, o bruáá seria maior quando se notou a ausência de um dos "vermelhos".

E o ruido aumentou ainda mais quando se anunciou: "O carro numero onze, de Pieter Reinhardt, acaba de se atrasar devido a um furo". Imediatamente a seguir, o carro entra na boxe com aquilo que restava do pneu dianteiro direito, que normalmente era mais castigado, pois a maior parte das curvas, especialmente as mais apertadas, eram feitas à direita.

Nas boxes, o nervoso miudinho aumentava em Sinead. O seu irmão não se descolava dos pilotos da frente, mas com os anuncios das desistências e dos atrasos, temia que ele não chegasse ao fim.

- Nunca pensei que ficasse nervosa ao ver uma corrida destas.
- É verdade... ninguém se descola, respondeu Pete.
- Já me diziam que isto era assim, mas não pensava que ao vivo fosse pior, respondeu.
- É a primeira vez que vens a Monza?
- Sim.
- Então prepara-te. Ainda não viste nada.


Era verdade. Monza é imprevisivel. Apesar das hordas de italianos, torcendo pela sua "rossa" e de idolatrarem o Commendatore, que há muito ficava em Maranello a ver as corridas a preto e branco pela RAI, a tv estatal italiana. É certo que pelo "cubo mágico", apesar da perda de cores, tinha-se uma visão mais global da coisa, pois pelas boxes, só se viam os carros a passarem, velozes, dando o tudo por tudo para conseguirem ter aquele centésino de segundo que faz a diferença. Especialmente no momento da bandeira de xadrez.

(continua)

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