terça-feira, 15 de junho de 2010

Grand Prix (chapter XXII, noi siamo a Monza)

(continuação do episódio anterior)

Por alturas da volta 35, Pamela Aaron, que tirava constantemente os tempos de John O'Hara, começou a notar que ao contrário do que acontece nas corridas, quando se faz tempos mais rápidos do que na partida, este começava a lentamente, mas seguramente, a fazer tempos mais lentos. Suspeitou que algo se passava no carro dele e pediu a um mecânico que chamasse o seu marido, que apontava os tempos e os colocava na placa que o indicava para que o piloto visse na pista.

Quando ele apareceu, afirmou no meio do rúido:

- Algo se passa com ele. Está pelo menos um segundo mais lento.
- Já reparei nisso. Descolou-se do pelotão da frente. Pode não ser nada, mas devemos ficar atentos, afirmou.

Voltou ao muro das boxes, enquanto que Sinead vai ter com ela e pergunta:

- Devo preocupar-me?
- Espero que não, querida. Pode ser apenas algo temporário. Vamos a ver.

Com o passar das voltas, o carro de John O'Hara descolava-se lentamente dos carros da frente, agora reduzidos a seis, com os abandonos de Turner e Reinhatdt, que não regressara depois de levar o carro às boxes, pois a sua suspensão tinha se quebrado. Podia pura e simplesmente ter a ver com o poder dos V12 contra um mero V8 da Cosworth, poderia ter sido uma passagem falhada de caixa, podia ter sido outro componente a falhar... enfim, só no final da corrida é que se veria. Entretanto, os carros do enxame que discutia a liderança eram o Jordan de Bedford, o carro de Bruce McLaren, os Matra de Beaufort e do jovem Carpentier, o BRM de Solana e o Ferrari de Van Diemen, já que Bernardini também se tinha atrasado.

Na volta 42, um fumo grosso saia da traseira de Bedford, devido à quebra do seu motor, significando que a sua corrida acabaria ali. O facto da coisa ter acontecido na passagem para Parabólica, deixando um grande rasto de óleo, pois queria ir para as boxes, colocava um certo nível de perigo para os carros ainda a circular, e os comissários de pista apressaram-se a colocar cimento em pó na trajectória, para que os carros pisassem essa linha com segurança.

Na volta 50, quando o pelotão passa pela segunda Lesmo, Solana perde por momentos o controlo do seu BRM, sacudindo violentamente o seu carro, mas a calma, sangue frio e reflexos rápidos do piloto mexicano fizeram com que ele voltasse à pista, mas que perdesse o contacto com os restantes elementos. Os que tinham visto a manobra na televisão, classificaram-na como de "milagrosa" e "digna de um campeão do mundo", algo que ele não era, mas que tinha ficado na retina de toda a gente que o vira no conforto dos seus lares. E num desses lares em Modena, o Commendatore disse em voz alta: "Bravo, Bravo... un bravo piloto, questo Solana."

Mas os elogios não teriam consequências. Na volta 55, o cabo do seu acelerador parte-se e fica sem resposta, deixando-se arrastar até à berma. Quando parou, estava na reta oposta. Saiu do carrezaguo, tirou o capacete e foi aos ziguezagues rumo às suas boxes, perante os espectadores que o aplaudiam e alguns policias que impediam qualquer aproximação. Uma pessoa aproximou-se com a sua Vespa e perguntou onde queria ir.

- Para as boxes, claro, respondeu.

E assim, ambos fizeram o curto trajecto até ao seu destino.

À medida que o fim se aproximava, parecia que isto não seria decidido a dois, mas teria cada vez mais elementos, o que daria uma maior incerteza quanto ao vencedor. E com mais um elemento a favor dos italianos: havia um Ferrari no meio deles. Parecia que o aviso de Pete Aaron, homem que experimentou ambos os sentimentos de Monza, iria ser mais do que verdadeiro.

Quando os carros passaram pela meta a mais de 230 km/hora de média na última volta, Beaufort estava encostado à berma no seu lado esquerdo, mas a ser ultrapassado pelo seu companheiro de equipa pela direita. Mas mesmo colado a eles estava o Ferrari de Van Diemen, com Bruce McLaren a tentar a sua sorte. Na Curva Grande, Carpentier passava para a frente, enquanto que Van Diemen consegue passar para o segundo posto e McLaren tentava passar Beaufort, mas este se defendeu bem.

Nas Lesmos, as posições mantiveram-se, e a partir dali, Carpentier tentou distanciar-se para ganhar segundos preciosos quando curvasse na Parabólica. Mas nem Van Diemen, nem Beaufort estavam dispostos a largá-lo, enquanto que McLaren perdera alguns segundos por ter mal abordado aquela sequência de curvas, e tinha uma desvantagem difícil de recuperar. Parecia que o duelo ficaria reduzido a três, pois quando passavam uma última vez pela Vialone, McLaren estava a mais de cinco carros de distância do trio. Mas não ia desistir, tão perto do fim...

À entrada da Parabólica, Van Diemen manobra para passar Carpentier, e o francês faz a curva de fora, permitindo fazê-la por dentro e ficar no melhor lado para acelerar. À saída, este ficou na frente, para delírio dos "tiffosi" que de repente começaram a levantar-se da tribuna da frente e a gritar. Na entrada da meta, para os metros finais, estava o director de corrida com a bandeira de xadrez, esperando por saber quem seria o primeiro. E nuum instante, três carros ficaram lado a lado, com um quarto bem atrás deles, tentando manobrar por uma aberta. E todos passaram ao mesmo tempo, sob um bruáá de gritos, chapéus de papel voando e pulos de alegria. Parecia que um Ferrari tinha vencido. Parecia.

Muitos juravam ter visto uma frente vermelha a cortar primeiro a meta, diante de dois carros azuis, mas outros nãncioo acreditavam muito nisso. Esperavam pelo regresso dos carros às boxes, ao mesmo tempo que os últimos carros cortavam a meta. Pete estava satisfeito, pois John O'Hara tinha levado o seu carro até ao fim num quinto lugar, que lhe permitia levar dois pontos para casa. Mas a multidão, que já invadia aos milhares a pista, queria saber pelos altifalantes quem tinha sido o vencedor. E após alguns minutos que quase pareciam horas, e com os carros a chegar às boxes, felicitados pela multidão, o "speaker" anunciou em italiano:

"O vencedor do Grande Prémio de Itália de 1969 foi o carro de Patrick Van Diemen, da Belgica, tripulando o carro da Scuderia Ferrari..." após isto, deixou-se de ouvir o resto da frase, tal foi o delírio dos "tiffosi" por ver um carro a marca de Modena no lugar mais alto do pódio.

E pouco depois, num estrado no centro das boxes, um homem de cabelo liso comprindo, com um sorriso gigante, saudava a multidão, enquanto recebia o troféu e uma gigantesca coroa de louros. Ao seu lado estavam os dois pilotos da Matra, igualmente satisfeitos com o resultado, especialmente Gilles Carpentier, que na sua quarta corrida da carreira, já subia ao pódio, com pilotos que menos de um ano antes, só podia imaginar em sonhos.

Imediatamente a seguir, fez-se silêncio para se ouvir o hino nacional da Bélgica, que terminou sob uma chuva de aplausos e alguns a pensar que com este resultado, o campeonato estava relançado: a três provas do final, Pierre De Beaufort era o novo lider, com 36 pontos, menos dois que Bob Turner, e menos seis do que Van Diemen. Quaisquer tipo de contas que se faria neste momento, o resultado final iria acontecer em paragens americanas...

(continua)

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