Kyalami, 1 de Março de 1970.
Desde praticamente o nascer do sol que um fluxo constante de automóveis se fazia sentir desde o centro de Joanesburgo rumo ao circuito local. Falava-se em 50 mil, 60 mil, mais de 80 mil pessoas a caminho, em milhares de automóveis, com gelerias cheias de cervejas, águas e sumos, tudo que servisse para combater o calor que a Radio Springbok tinha anunciado para esse dia, naquele final do Verão austral.
O anuncio do boletim meteorológico, para além do relato da corrida propriamente dito, eram dois dos anuncios que os sul-africanos mais queriam ouvir, superando outras noticias mais relevantes como a declaração da républica rodesiana, feita naquela manhã imediatamente condenada pela comunidade internacional, mas do qual o governo de Pretória ainda não tinha reagido, talvez por ser Sábado de manhã.
Era estranho a corrida ser num dia que não o Domingo. Num país calvinista como a Africa do Sul, onde os boers mandavam na vida pública, a proibição de manifestações desportivas ao Domingo, pois esse era o dia de descanso e o dia de ir à Igreja, tinha força de lei, tão potente como o de segregar e alienar quase 80 por cento das pessoas que viviam naquele espaço enorme no canto sul de Africa, e onde um punhado de pessoas tentavam contrariar os ventos da História. E quem falava da Africa do Sul, poderia falar dos seus vizinhos, como aquela Rodésia que para contrariar esses ventos da História, nem hesitou em renegar Sua Majestade Imperial, a Rainha Isabel II, como chefe de Estado... algo que a própria Africa do Sul tinha feito nove anos antes, pelos mesmos motivos.
Mas saltando da politica para o automobilismo, quem estivesse na véspera à noite na torre de controlo da corrida, conseguia-se ver nos campos à volta as várias fogueiras cheias de grupos que conviviam, esvaziando cervejas Castle, conversando e rindo, esperando pelo barulho das máquinas que iriam acontecer no dia a seguir naquela pista. Para além disso, alguns afortunados iriam levar as suas máquinas fotográficas, câmaras de filmar, para junto das boxes e ver os seus ídolos de perto. Algo que nem todos os desportos tem esse previlégio. Quer no futebol, quer no rugby, tinham de estar ao nivel do relvado para ver os jogadores em acção...
Desde praticamente o nascer do sol que um fluxo constante de automóveis se fazia sentir desde o centro de Joanesburgo rumo ao circuito local. Falava-se em 50 mil, 60 mil, mais de 80 mil pessoas a caminho, em milhares de automóveis, com gelerias cheias de cervejas, águas e sumos, tudo que servisse para combater o calor que a Radio Springbok tinha anunciado para esse dia, naquele final do Verão austral.
O anuncio do boletim meteorológico, para além do relato da corrida propriamente dito, eram dois dos anuncios que os sul-africanos mais queriam ouvir, superando outras noticias mais relevantes como a declaração da républica rodesiana, feita naquela manhã imediatamente condenada pela comunidade internacional, mas do qual o governo de Pretória ainda não tinha reagido, talvez por ser Sábado de manhã.
Era estranho a corrida ser num dia que não o Domingo. Num país calvinista como a Africa do Sul, onde os boers mandavam na vida pública, a proibição de manifestações desportivas ao Domingo, pois esse era o dia de descanso e o dia de ir à Igreja, tinha força de lei, tão potente como o de segregar e alienar quase 80 por cento das pessoas que viviam naquele espaço enorme no canto sul de Africa, e onde um punhado de pessoas tentavam contrariar os ventos da História. E quem falava da Africa do Sul, poderia falar dos seus vizinhos, como aquela Rodésia que para contrariar esses ventos da História, nem hesitou em renegar Sua Majestade Imperial, a Rainha Isabel II, como chefe de Estado... algo que a própria Africa do Sul tinha feito nove anos antes, pelos mesmos motivos.
Mas saltando da politica para o automobilismo, quem estivesse na véspera à noite na torre de controlo da corrida, conseguia-se ver nos campos à volta as várias fogueiras cheias de grupos que conviviam, esvaziando cervejas Castle, conversando e rindo, esperando pelo barulho das máquinas que iriam acontecer no dia a seguir naquela pista. Para além disso, alguns afortunados iriam levar as suas máquinas fotográficas, câmaras de filmar, para junto das boxes e ver os seus ídolos de perto. Algo que nem todos os desportos tem esse previlégio. Quer no futebol, quer no rugby, tinham de estar ao nivel do relvado para ver os jogadores em acção...
- Tudo pronto, Tom?
- Faltam algumas afinações. Trabalhamos até tarde para colocar um novo motor no carro do John, esperamos que ele dê as suas voltas para saber se tudo está conforme.
- Espero que sim, respondeu John O'Hara. Confio em ti para isso e para quaisquer outros problemas que venham a surgir.
- Então salta para o carro, ordenou Pete.
Sorridente, John colocou o seu capacete integral branco com um trevo verde na parte de cima, e montou o seu Apollo-Cosworth, cujo primeiro fim de semana competitivo resultou numa "pole-position", algo que não era alcançado desde 1954, quando os Mercedes de Juan Manuel Fangio e Karl Kling arrasaram a concorrência à partida do GP de França, no circuito de Reims. Depois de se instalar confortavelmente e de colocar os cintos de segurança, John O'Hara sinalizou para que dessem a ordem para colocar o motor em marcha e partir para um série de voltas a Kyalami, para se preparar convenientemente para a corrida que iria acontecer dentro de algumas horas.
--- XXX ---
Faltavam pouco mais de dez minutos para a partida. Os carros já estavam colocados na grelha provisória e todos andavam à volta deles: mecânicos, dirigentes, fotógrafos. A maior parte dos pilotos já estavam instalados dentro dos cockpits, tentando concentrar-se sob um sol de meio dia, inclemente sob a savana africana nos seus quase 35 graus. Alguns tentavam refrescar-se com toalhas molhadas, que passavam sob a cara, enquanto tentavam beber água fria. John O'Hara, o poleman, tinha a sua irmã Sinead ao seu lado, segurando o guarda sol com uma mão e uma garrafa de água com a outra. Esperando com que os minutos passassem, John ainda não tinha colocado o capacete e o pano à sua volta, pois queria ainda beber alguma água para combater o calor que se fazia sentir naquele momento.
- É agora. Estás nervoso?
- Achas que vais ganhar?
- Adoraria, mas com este tempo assim, seria um milagre se nada se partir neste carro. Mudamos o motor e este funciona bem, mas há muita coisa que é nova. Vou tentar não forçar nada, mas quero ganhar, mana.
- Vou torcer por ti, como sempre.
- Cuida do Pete e da Pat, tá bem? É nosso amigo e este projecto é também nosso.
- Boa sorte mano. Vemo-nos no pódio.
Pete gargalhou, antes de colocar o pano e o capacete. Oliver Henderson já tinha mandado mostrar a placa dos três minutos.
--- XXX ---
- Cuida do Pete e da Pat, tá bem? É nosso amigo e este projecto é também nosso.
- Boa sorte mano. Vemo-nos no pódio.
Pete gargalhou, antes de colocar o pano e o capacete. Oliver Henderson já tinha mandado mostrar a placa dos três minutos.
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- Teddy, como vais?
- Acho que o carro está a reagir bem.
- Achas que pode aguentar?
- Veremos, estou confiante que sim. Nâo esperava era estarmos tão à frente, tão cedo no campeonato.
- É sinal que é um carro bem nascido.
- Qual é a tática?
- Leva o carro até ao fim. Mais do que ganhar, terminar é o que importa. Boa sorte.
- Obrigado, Pete.
Por esta altura, já se mostrava a placa dos três minutos.
--- XXX ---
- Oi Jackie. Vieste desejar-me sorte?
- Que remédio, Philip. Estás a fazer um bom fim de semana.
- É verdade. Pena ser aqui um "one-off".
- Não tens nada a perder. Só tens é de ser o melhor de nós todos.
- Custa-me a crer que és a minha patroa...
- Em teoria, o patrão é o meu tio. Mas ele nunca se interessou verdadeiramente por isto, confesso. Ainda bem que há o Thomas a ajudar-me, senão teria ido por aí abaixo. Sempre queres ir para a Europa?
- Tu sabes que só irei quando ganhar o campeonato.
- Nem sabemos se vai haver o tal "scholarship"...
- Nâo falaste disso ao Sr. Henderson?
- Ainda nem falei direito com ele este fim de semana, e ele não é o presidente do Automóvel Clube. Mas parece que sim, não tenho a certeza.
- E se ganhar, o que tu vais fazer?
- Não sei, mas ficar em casa para ser parideira de algum gordo, não serei. Por incrível que pareça, isto deu-me uma liberdade incrivel do qual não sei bem o que fazer. Aliás, até sei, mas... preciso da colaboração de muita gente. Incluindo de ti.
- Ah é, qual é?
- Ganha-me o campeonato. Podes começar por acabar esta corrida à frente do Peter.
- Acho que isso nem é preciso.
- Porquê?
- Parece que já tem bilhete para ir à Europa. O lugar que o Temple lhe deu, acho que vai ser definitivo.
- A sério?
- É o que me falou.
- Com que dinheiro?
- Não sei.
Jackie olha para a placa dos três minutos e diz:
-Prepara-te, vai começar. Boa sorte! disse, dando-lhe um beijo na boca.
Um espantado Philip olhou para ela e sorriu. Colocou o capacete, enquanto que Jackie fazia sinal aos mecânicos para que colocassem o motor a funcionar. O Grande Prémio da Africa do Sul, primeira prova do Campeonato do Mundo de 1970, ia começar.
- Ah é, qual é?
- Ganha-me o campeonato. Podes começar por acabar esta corrida à frente do Peter.
- Acho que isso nem é preciso.
- Porquê?
- Parece que já tem bilhete para ir à Europa. O lugar que o Temple lhe deu, acho que vai ser definitivo.
- A sério?
- É o que me falou.
- Com que dinheiro?
- Não sei.
Jackie olha para a placa dos três minutos e diz:
-Prepara-te, vai começar. Boa sorte! disse, dando-lhe um beijo na boca.
Um espantado Philip olhou para ela e sorriu. Colocou o capacete, enquanto que Jackie fazia sinal aos mecânicos para que colocassem o motor a funcionar. O Grande Prémio da Africa do Sul, primeira prova do Campeonato do Mundo de 1970, ia começar.
(continua)
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