"Alinhei na última fila, ao lado de Graham Hill, meu ídolo de infância. Se morresse nesse momento, morria feliz. Tinha atingido o meu sonho - alinhar num Grand Prix de Formula 1"
Emerson Fittipaldi, quando descreveu a sua estreia em Brands Hatch, em 1970.
Se algum dia poderemos dizer qual foi o momento em que poderemos dizer que a década de 70 começou no automobilismo, eu escolhia este 18 de Julho de 1970, pois é perferivel um momento festivo do que um triste. Dezoito meses antes, Emerson Fittipaldi era "Rato" e só era conhecido no Brasil. E mesmo aí era conhecido como o irmão de Wilson "Tigrão" Fittipaldi, que tinha tentado a sua sorte no estrangeiro em 1966, em França, e sem sucesso.
Emerson chegou à Grã-Bretanha no inicio de 1969 decidido a triunfar, e bastou-lhe meia dúzia de meses para passar da Formula Ford para a Formula 3, sempre a vencer, sempre a surpreender todos os que o viam. Tinha só 22 anos, mas corria como um campeão, com um estilo de pilotagem tão suave e limpo, sem excessos. No final do ano já era piloto de Formula 2. Da Lotus.
No inicio de 1970 continuava a sua incrivel adaptação aos carros e a vencer continuamente. Os resultados foram mais do que suficientes para Colin Chapman lhe conceder um teste, que passou com distinção. E ele até queria que se estreasse mais cedo, na Holanda. Mas Emerson, entre o receoso e o cauteloso, afirmou que queria ganhar mais experiência. E assim, decidiu estrear-se numa pista que conhecia: Brands Hatch. E não se saiu mau, pois levou o seu carro até ao fim.
A sua chegada à Formula 1 foi numa altura crucial, onde o panorama estava a mudar de forma quase radical. Mais do que as alterações ao nivel dos chassis, da aerodinâmica e de outros componentes, o pelotão dos pilotos se tornava cada vez mais multilingue: alemães, franceses, suecos, flamengos... todos eles faziam com que o pelotão fosse cada vez menos anglofono. Um pelotão que, menos de dois anos antes, estava cheio de ingleses, americanos, australianos, escoceses, neozelandeses. As retiradas e os acidentes fatais cortavam essa parte, e o resto do Mundo tinha a sua hipótese.
Aliás, nesse ano de 1970 era um ano de mudança. Quando Emerson assenta solo em Brands Hatch, com Graham Hill e John Surtees à sua frente, o lider era austriaco e o seu maior rival era belga. E no pelotão tinham suiços, mexicanos, alemães, franceses, italianos, suecos. E até ao final do ano, dos doze vencedores, somente dois eram de origem inglesa. E tinham ganho as duas primeiras corridas do ano...
Emerson podia ser nesse dia o terceiro piloto de num carro datado. Mas conseguira o que queria. O que não sabia, porém, é que estava ainda a meio da sua ascensão meteórica...
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