Ao longo do Inverno de 1976/77, o carro foi modificado para incluir melhorias, bem como a equipa recebeu novo patrocínio e um novo piloto, o sueco Ronnie Peterson, em substituição de Jody Scheckter, que embarcara na nova aventura da Wolf. No inicio de Janeiro, na Argentina, Patrick Depailler enfrentava o calor de Buenos Aires partindo do terceiro lugar da grelha, mas só aguentou 33 voltas, devido ao sobreaquecimento do motor.
Duas semanas depois, no Brasil, Depailler qualificara na terceira fila e estava a rodar no sexto lugar quando uma das redes de protecção, que deveria segurar os carros em caso de acidente, voou para a pista quando o McLaren de Jochen Mass caiu lá, na volta 13. Depailler despistou-se, mas continuou em prova até à volta 22, onde sofreu um furo e foi às boxes para trocar o pneu. Duas voltas depois, Depailler despista-se… no mesmo local. Bateu no carro de Mass e feriu-se num joelho, tendo de ser levado para o hospital. Contudo, os ferimentos não eram graves e podia participar na corrida seguinte, na África do Sul.
Em Kyalami, Depailler conseguiu o primeiro pódio, ao ser terceiro classificado, atrás de Niki Lauda e do seu ex-companheiro, Jody Scheckter, numa corrida marcada pelo acidente fatal do Shadow de Tom Pryce, atingido pelo extintor do comissário de pista Jenson Van Vuuren, também morto nesse incidente. Depailler volta a pontuar em Long Beach, na quarta posição, depois de largar do 13º posto e de sofrer de problemas de travões na segunda parte da prova.
Nas três provas seguintes, Depailler não conseguiu chegar ao fim nos pontos. Em Jarama e Montecarlo, desiste, enquanto que em Zolder, no meio da lotaria da chuva, não consegue melhor do que o oitavo posto, numa corrida onde Gunnar Nilsson conseguiu a sua única vitória da sua carreira e Ronnie Peterson levou o carro ao terceiro posto, o único pódio que iria conseguir na Tyrrell.
De facto, ao longo da temporada se nota que o P34 sofre as consequências da sua falta de desenvolvimento, especialmente na parte dos pneus de 10 polegadas, que não são devidamente desenvolvidos e construídos pela Goodyear. Assim sendo, ao longo da temporada, os bons resultados começam a ser escassos. Um quarto lugar em Anderstorp é o melhor que Depailler consegue a meio da temporada, entre um mar de desistências e chegadas fora dos pontos.
A meio disso, Depailler participava na edição de 1977 das 24 horas de Le Mans, a bordo de um Alpine-Renault A442, com a marca a apostar forte na vitória na prova de Endurance, antes de se aventurar na Formula 1 com o seu inédito Renault V6 Turbo. Um projecto que estava a ser desenvolvido pelo seu amigo Jean-Pierre Jabouille. Na corrida de La Sarthe, Depailler alinhava com Jacques Laffite, que na Formula 1 corria pela Ligier, uma equipa que tinha chegado no ano anterior à categoria máxima do automobilismo, depois do seu proprietário, Guy Ligier, ter comprado grande parte dos activos da Matra em 1974.
Os Alipne-Renault dominaram os treinos, com Jabouille e Derek Bell a ficarem com a polé-position, e a dupla Laffite/Depailler a ficar no segundo posto, enquanto que um terceiro carro, corrido por Patrick Tambay e Jean-Pierre Jassaud, era quarto. Contudo, na corrida, apesar de Depailler ser um piloto muito rápido, nenhum dos Alpine-Renault chegou ao fim, sendo o seu carro o último a abandonar, a duas horas do final da corrida.
Todos estes maus resultados em corrida tinham impacto na sua auto-estima e no seu casamento com Michelle. Ao fim de dez anos, o casal separou-se, pois ela não conseguia aguentar a pressão das corridas, especialmente o seu lado perigoso. Para terem uma ideia, o acidente fatal de Pryce e Van Vuuren acontecera poucos metros à frente de Michelle Depailler, e isso pode ter sido o factor decisivo para o final do seu casamento. Eram personalidades completamente diferentes, pois para ele, o automobilismo lhe estava no seu sangue. Algum tempo depois, ele afirmou: “Certamente aquilo que eu faço na vida contribuiu para este desfecho. Como a posso culpar? Mais sobretudo, como posso terminar com este vicio que carrego comigo? Temos de ser, sobretudo, honestos connosco”, concluiu.
Em Monza e Watkins Glen, depois de mais duas corridas decepcionantes, Derek Gardner decidiu abandonar a Tyrrell e o projecto P34 tinha os dias contados. Contudo, as duas últimas corridas do ano, no Canadá e Japão, tornam-se nas melhores do ano para a equipa. Em Mosport, conseguiu ficar no sexto lugar da grelha, e mesmo com problemas de direcção, Depailler conseguiu levar o carro ao segundo lugar, conseguindo alguns sorrisos nas boxes. E a mesma coisa aconteceu em Fuji, onde desta vez ao sol, acaba a corrida no terceiro lugar, depois do seu companheiro Peterson se envolver num acidente nas primeiras voltas com um jovem da Ferrari chamado Gilles Villeneuve…
No final da temporada, Depailler conseguia vinte pontos e o novo lugar na classificação geral, mas as expectativas do inicio da época tinham sido largamente defraudadas, pelo parco desenvolvimento do carro, especialmente a falta de pneus de dez polegadas, os da frente, e as constantes fragilidades do conjunto. Com um novo projectista no horizonte, o carro de 1978 tinha de voltar a ter quatro rodas.
Tyrrell contratou Maurice Philippe para que ele desenhasse o modelo 008, convencional, feito de aluminio e leve, que fosse capaz de voltar a dar á equipa o brilho de outrora. Com Ronnie Peterson a voltar à Lotus, para ser segundo piloto da equipa, atrás de Mário Andretti, a Elf convenceu a equipa a colocar um novato francês, Didier Pironi de seu nome.
O novo carro, pela sua simplicidade, fez com que a marca voltasse aos bons velhos tempos no inicio da época. Como a maioria dos projectos para a nova temporada só se estreariam a meio do ano, Depailler e a Tyrrell começaram bem o ano, com um terceiro lugar na Argentina, atrás do Lotus de Mario Andretti e do Brabham-Alfa Romeo de Niki Lauda. Durante os treinos, o Tyrrell dele usava equipamento electrónico para monitorizar o comportamento do carro, uma tecnologia desenvolvida pelo Dr. Karl Kempf, e que seria o inicio daquilo que viria a ser conhecido como telemetria.
No Brasil, a corrida do francês que conseguira o nono melhor tempo nos treinos, terminou na nona volta com um despiste, que danificou parte do sistema de travagem. SE em paragens brasileiras, as coisas não correram bem, na prova seguinte, em Kyalami, a sensação de frustração não poderia ser maior, apesar de ter acabado no pódio. Os treinos não lhe correram bem, pois tentava encontrar um bom "setting" e acabou no 11º posto da grelha, mas no "warmup" conseguiu-se encontrar um boa afinação e na corrida, foi subindo paulatinamente. Em sete voltas era sexto e na volta 28 era segundo, atrás do Arrows de Riccardo Patrese.
Quando desistiu, Depailler herdou a liderança e parecia que as coisas iam bem. Os Lotus eram a ameaça maior, mas estavam algo distantes. Bastava manter o ritmo e a vitória seria sua. Mas a doze voltas do fim, o carro começa a engasgar devido a problemas no sistema de combustível, e os Lotus estavam em cima. Andretti primeiro e Peterson depois, reclamaram a liderança. No inicio da última volta, o sueco, seu ex-companheiro na Tyrrell, apanha-o na Crawthorne e tenta ultrapassá-lo nas curvas seguintes. Nos Esses, a menos de um terço da meta, Peterson finalmente ultrapassa e fica com o primeiro lugar. Um final digno dos melhores filmes de suspense, mas para Depailler, a ilusão de uma vitória tinha-lhe escapado mais uma vez.
Os problemas para Depailler continuavam em Long Beach, onde conseguiu apenas um lugar no meio da grelha. Mas na corrida, uma exibição musculada, típica do francês resultou no terceiro pódio do ano, um terceiro lugar atrás do Ferrari de Carlos Reutemann e do Lotus de Mario Andretti.
Nesta temporada, a primeira prova em solo europeu era o GP do Mónaco, que se realizava a 7 de Maio. A qualificação tinha começado por ser dificil, devido a problemas nos braços da suspensão, que se desfaziam nos ressaltos monegascos, mas depois arranjaram-se componentes mais fortes e Depailler acabou a conseguir o quinto lugar da grelha, enquanto que Didier Pironi fora 13º.
Na corrida, Depailler tem um arranque-relâmpago e consegue ficar com o segundo lugar, atrás do Brabham-Alfa de John Watson. O francês se viu "ensanduichado" entre os dois carros da equipa de Bernie Ecclestone, e os três começaram a batalhar pela liderança, e a meia distância, Watson, constantemente pressionado por Depailler e a debater-se com problemas nos travões, falhou uma das chicanes, entregando-o a liderança. A partir daqui, Depailler teve de aguentar primeiro os ataques de Lauda e do Wolf de Scheckter, mas ao contrário do que aconteceu em Kyalami, desta vez conseguiu o que queria: vencer. E logo no Mónaco!
A vitória era a primeira de um francês desde 1972, quando o seu amigo e mentor Jean-Pierre Beltoise vencera no seu BRM, e com isso alcançava os 23 pontos e conseguia algo inédito: pela primeira vez desde que havia um campeonato do mundo de Formula 1, havia um francês a liderá-la.
(continua)
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