terça-feira, 31 de agosto de 2010

Grand Prix (numero 63, Brands Hatch)

Brands Hatch, 16 de Julho de 1970

As conversações foram rápidas e conclusivas. Pete Aaron falou com os irmãos Pedrazani e lhes disse que mesmo correndo numa equipa oficial, os compromissos ficavam de pé e até estaria melhor protegido contra a Matra, Jordan e outras marcas. Em relação ao patrocinio com o Automóvel Clube, havia um finca-pé em relação à corrida britânica, pois queria que ele guiasse com as suas cores e não com as cores da fábrica. Então, chegou-se a um compromisso: o macacão era dele, e ali podiam colocar os patrocínios do piloto, e o Automóvel Clube, sem dispender mais um tostão, transformar-se-ia num patrocinador oficial da equipa, com o simbolo em todos os chassis.

Pete decidiu inscrever três carros e chamar para Brands o sul-africano Philipp de Villiers, para correr ao lado de Monforte e Solana. De Villiers, que não tinha compromissos nesse fim de semana, aceitou e trouxe Thomas Nel consigo. E eles traziam mais uma passageira... Alexandre não trazia ninguém consigo, mas havia duas pessoas que o seguiam. Teresa, a jornalista do Liberal e cada vez mais a sua namorada, e um jovem rapaz, que estava ali pela primeira vez num pais estrangeiro, a tentar ganhar uns cobres para ver se acabava um curso de Direito que o enfadava cada vez mais, chamado Adriano Cabral. Trabalhava para a revista sildava "Automóvel", que por fim acompanhava os feitos de Alexandre na categoria máxima do automobilismo. Teresa apresentara Alexandre a Adriano e logo a seguir lhe fez uma entrevista.

Quase todas as equipas apresentavam três carros, e a Jordan até colocava quatro em Brands Hatch. O estreante era o brasileiro Pedro Medeiros, que era um dos rivais de Alexandre e Antti na Formula 2 e uma aposta de futuro para Bruce Jordan, que aceitava o dinheiro do espanhol Cervantes e esperava pelo final da época para se livrar de Bob Bedford. A Matra continuava com três carros, dando mais uma chance a Pierre Brasseur, que iria alinhar ao lado de Philippe de Beaufort e Gilles Carpentier, enquanto que a BRM estava com dois carros, para Anders Gustafsson e Bob Turner.

Os Temple-Jordan, com chassis novos para Brian Hocking e Antti Kalhola, e a Ferrari, também com três chassis, para Patrick Van Diemen, Toino Bernardini e Michele Guarini. Havia também a McLaren, com Peter Revson, John Hogarth e Dan Gurney, todos veteranissimos, mas com a experiência necessária para aguentar o barco após a morte do fundador. E a maré de equipas privadas, nos váriados chassis. Ao todo, eram 24 carros, e mesmo que a organização tenha alargado a grelha, o dinheiro só daria para vinte carros.

Na boxe da Apollo, todos ficariam a conhecer-se pela primeira vez. Pete fez as apresentações.

- Meus senhores, sejam bem vindos. Dados os acontecimentos de Zandvoort, fomos obrigados a fazer uma transformação radical no nosso "lineup". Convidamos Alexandre de Monforte para a nossa equipa porque, dado o talento demonstrado nas corridas anteriores a bordo de um Eagle datado, achamos por bem que ele seria o substituto ideal para o nosso companheiro caído. Espero que seja um bom inicio para as nossas cores. Bem vindo, Alex.

Uma salva de aplausos ecoou na caravana.

- Também temos aqui presente outro piloto, Phillip de Villiers. Tem talento e demonstrou-o há umas semanas em Le Mans, perante todos nós. No seu pais natal está a dominar o campeonato e se tudo correr bem, será nosso piloto para a temporada de 1971, a bordo de um dos nossos carros. Sim, meus senhores. Conto correr com três carros na próxima temporada, para o Teddy, o Alex e o Philipp. Cremos que isso seja mais um passo rumo ao crescimento da nossa escuderia e de mais vitórias. Talento não nos falta, quer em termos humanos, quer em termos de financiamento e mecânicos. Nos próximos meses, para além da renovação dos nossos compromissos - do qual agradeço ao senhor Arthur O'Hara pela sua confiança - também alargaremos as nossas instalações, no sentido de acolher mais mecânicos, engenheiros e projectistas. Espero que mesmo com a nossa perda recente, os resultados que obteremos no futuro sejam condizentes para honrar a memória de John. Obrigado a todos e boa sorte aos pilotos.

Após a cerimónia, Alexandre rumou para as boxes, no sentido de ver o seu carro. depois de saber que tinha sido contratado como piloto oficial, foi buscar um amigo seu, que conhecera quando fazia o curso de engenharia mecânica e o convidava sempre a mexer nos seus carros desde a Formula 3. Agora que tinha o curso feito, perguntara se não queria trabalhar para si, e ele aceitou. Chamava-se Alex Sherwood, o "outro Alex", como chamava.

- Então, isso anda?
- Agora está devidamente afinado. Mas o tempo nos complica.
- Não deve chover no fim de semana.
- Não sei. Sei que se prevê céu nublado no Domingo... não quero colocar afinações para molhado outra vez. E agora com estas asas...
- Não te inquietes, que te ajudo.
- Ainda bem que me ajudas, Alex. Ao menos sei que que tu sabes do assunto.
- Se afinares o motor como deve de ser... tens lugar garantido.
- Tou a ver o gajo que o sul-africano trouxe.
- O Nel? Tem cabelos brancos, deve ser uma autoridade no assunto...
- É isso que temo. Tens de marcar presença.
- Porquê?
- Não acredito na treta dos três carros. São demasiados, vai ser uma confusão. Dois seria o ideial.
- Achas que esta equipa pode lutar pelo título?
- Começa a ter potencial para tal. Mas o facto de ter dinheiro não significa alargar a equipa. Deve concentrar-se em ter poucos, mas dos bons. Assim...
- Não é bom.
- Nada mesmo. Mas isso é só para o ano.
- Até lá...

Dali a poucos minutos, Alex Monforte salta para dentro do carro para dar as primeiras voltas do dia. Sentado confortavelmente e ligado o motor, sai para fazer os primeiros quilómetros à volta da pista do condado de Kent, onde correrá ao lado de outros carros, que querem marcar um tempo nesta pista.

(continua)

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