segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Grand Prix (numero 75 - Hockenheim, parte III)

Sábado, 8 de Agosto de 1970

O dia ficou quente à medida que as horas passavam, mas a temperatura não era sufocante. À medida que os minutos se aproximavam da hora do começo para a segunda sessão de qualificação, a tensão aumentava. As coisas até estavam bem na boxe, não havia avarias de maior, os carros estavam devidamente afinados, tudo estava calmo. Contudo, aquela era a sessão ideal para que os tempos começassem a melhorar, e como alguns dos pilotos estavam num lugar aflitivo, marcar um bom tempo era fundamental, se quisessem correr no dia a seguir.

Jordan e a sua equipa satélite, Ferrari, Apollo, BRM, Matra, McLaren e os privados estavam lá presentes para darem o seu melhor. Nesta corrida estavma inscritos 20 carros, exactamente a mesma medida que os organizadores tinham pensado. Aqui, não iria haver não qualificados, mas mesmo assim, marcar um tempo era importante.

Nos minutos anteriores à segunda qualificação, nas boxes da Jordan, um homem loiro via tudo no seu canto, sem que ninguém o incomodasse. De costas para a parede, esse homem loiro via os mecânicos a ultimarem os preparativos do seu carro, montado agora com as asas que na véspera não tinha. No oposto dessa boxe, à vista de toda a gente, outro piloto, montado com fato e capacete, ouve as últimas instruções de Bruce Jordan antes de entrar no seu carro para tentar a sua volta rápida. Encostado ao rail que separava as boxes da pista, de macacão, estava o terceiro piloto, observando a cena, de modo pensativo. Estavam sobre brasas depois da má opção do dia anterior e tinham de redimir-se.

Quando Bruce Jordan terminou a conversa com o piloto, este veio na sua direcção e ficou ao seu lado. sorriu e disse uma frase que provavelmente deveria ter sido dita muitas vezes durante as últimas horas.

- Eu bem te disse. Da próxima vez devias ouvir a voz da experiência.
- Já sei disso, OK? Agora cala-te e prepara-te para entrar no teu carro.
- Já fiz a minha parte, e vias ver que vai dar resultado.
- Espero que não, Pieter. Não estou disposto a ter dores de estômago...
- Coloca sal e pimenta, fica a saber melhor, respondeu a rir.

Bruce Jordan e Pieter Reinhardt tinham uma relação conflituosa, mas precisavam um do outro. Jordan podia ser um génio, mas por vezes tinha o defeito de não ouvir os outros e as suas furias já alcançavam a aura de lenda. Era por isso que, à boca pequena, se falava que uma boa razão para o despedimento de Bob Bedford tenha sido, mais do que os pobres resultados, o fato de estar farto do feitio de Bruce. Agora, tinha dois novos pilotos, com enorme talento mas com nenhuma experiência na categoria máxima do automobilismo. Restava saber como é que se iam comportar.

Na sexta-feira, Reinhardt tinha-se oposto de dorma veemente à retirada das asas no seu carro, porque sabia que ali, isso não tinha quaisquer efeitos no desempenho dos carros Bruce, um experimentalista nato, queria que todos corressem assim, e só foi com uma aposta que se resolveu o assunto: Bruce iria comer o seu chapéu, caso Pieter ficasse à frente dos outros dois pilotos. No final do dia, Bruce reconheceu o erro quando viu que Reinhardt tinha mais de seis segundos de diferença sobre Medeiros e Kalhola. Bruce reconheeu de imediato do erro e colocou as asas no seu devido lugar. Mas para evitar comer o chapéu, fez outra aposta: anularia a aposta anterior se um dos seus carros conseguisse a pole-position. Reinhardt concordou, mais por crença de que os motores V12 da Matra, Ferrari e BRM iriam fazer o seu trabalho.

Sozinho no seu cantinho, Antti Kalhola observava os últimos preparativos no seu carro, numa altura em que o treino tinha começado. Pedro Medeiros já estava na pista, para tentar marcar um tempo de referência antes de que a pista se enchesse de carros, mas não havia muita pressa.

Quando os mecânicos empurraram o carro para fora, Antti pegou no seu capacete branco com riscas azuis escuras, fechou o seu macacão e os seguiu. Na inscrição, os carros da Jordan corriam com os numeros 10, 11 e 12, e Antti ficara com o último numero. Quando colocou o seu capacete, viu de novo esse numero na carenagem e sorriu, porque lembrara-se que esse tinha sido o numero que usara há mais de três anos, quando venceu a sua primeira corrida na Formula 3, no circuito sueco de Karlskoga. Lembra-se que depois disso foi apresentado a Thomas Holmgren, o homem que apoiou a sua carreira, ao lado de Harry Temple. Entrou dentro do carro, ligou o botão para o fazer arrancar e saiu dali de forma devagar.

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Na boxe da Apollo, Pete Aaron acertava os últimos detalhes com Teddy Solana, pois seria ele a largar primeiro. Encostado à parede, Alexandre de Monforte conversava com Alex Sherwood sobre os detalhes das afinações e quaisquer problemas mecânicos que se tentariam resolver antes do carro rolar para a pista e tentar marcar umas voltas.

Do outro lado das boxes, Pete discutia com Arthur O'Hara acerca de algo recebido de um dos seus "sponsors". Algo que tinha acontecido há umas semanas nos Estados Unidos e os recrutaram para uma experiência.

- Recebi uma chamada da Greatyear.
- E então?
- Querem um carro para experimentarmos uma coisa.
- O quê?
- Pneus sem sulcos.
- Hein?
- Vão trazer um conjunto para nós e temos de arranjar um local, algures na Europa, para um teste secreto.
- Quando?
- O mais cedo possivel. É por isso que estou a falar contigo.
- Porquê?
- Não há um circuito na Irlanda?
- Há, que não é muito usado, mas existe.
- Não és amigo do proprietário?
- Sou. Queres marcar um teste, é isso?
- Exactamente. Já dei ordens para que esteja pronto o carro que o De Villiers usou em Brands Hatch. A carga deve chegar na terça-feira e quero ver até que ponto é que isso valerá a pena.
- E quem vai o experimentar?
- Todos, ora.
- Só espero que não seja perigoso.
- Dizem-me o contrário, mas veremos...

Entretanto, Teddy sai para a pista e Alexandre já colocava o seu capacete para entrar no carro e fazer as suas voltas. O treino começara há dez minutos e os tempos começavam a baixar, sinal de que as condições de pista eram melhores do que no dia anterior.

Com os minutos a passarem, Ferrari, Matra e BRM apareciam no topo da tabela, com Beaufort em luta com Van Diemen pelo melhor tempo, seguido de perto por um revigorado Bob Turner, que também tentava conseguir o melhor tempo. Os três tinham menos de um segundos de diferença, e isso empolgava os espectadores, pois eles todos tinham rolado no dia anterior na casa dos dois minutos e dois, três segundos, e hoje, a barreira dos dois minutos poderia ser quebrada.

Primeiro, Bob Turner tinha feito 1.59,9 e quando o tempo foi anunciado, as bancadas entusiasmaram-se com o resultado. Logo a seguir era a vez de Beaufort colocar o tempo em 1.59,7 e Van Diemen a conseguir 1.59,6 segundos. Bernardini igualaria o tempo de Turner, antes deste reagir e fazer 1.59,4, e com isto, o publico entrava em delírio.

Mas pouco depois os carros com motor V8, mais eficientes e melhor afinados, faziam a sua aparição. Quando Pieter Reinhardt fez dois minutos exactos, logo seguido por Teddy Solana, com o mesmo tempo a multidão ficou admirada. E depois, eles começaram a apanhar os mais potentes: Medeiros faz 1.59,9, Reinhardt 1.59,6 e Monforte 1.59,6 também. E tinha começado a batalha: dez pilotos capazes de lutar pela pole-position, ao segundo.

Quando faltavam três minutos para o seu final, o tempo tinha baixado para 1.57,7, feito por Philippe de Beaufort, seguido por Patrick Van Diemen, no seu Ferrari, com 1.58,1. Pieter Reinhardt tinha 1.58,3 e era terceiro, à frente de Bob Turner, com 1.58,6, e Teddy Solana, com 1.59,1.

Teddy já tinha feito o seu tempo e seguia para as boxes, entre a terceira chicane e o Estádio, quando viu o seu companheiro de equipa a seu lado. Ele lhe fez um sinal e ele tinha obaservado. Ele arrancou para a sua frente e Teddy seguiu-o de perto. Ambos andaram juntos no Estádio e antes de fazerem a última curva, Teddy o ultrapassou. Todos acharam a manobra estranha, ainda mais quando o viram acelerar e Alex a vir atrás. Depois, os dois carregraram o pedal a fundo, juntos, rumo a mais uma volta pela floresta. Na boxe, Pam tinha ligado o cronómetro para ver que tempo Alex fazia desta vez, e todos estavam expectantes.

Os segundos passavam e havia uma ansiedade contida. Ninguém falava, tal dera a expectativa sobre estes dois. Entretanto, anunciara-se nos altifalantes do circuito uma supresa: o "rookie" finlandês Antti Kalhola conseguira entrar entre os primeiros e fazer 1.58,4, sendo o quarto, momentos antes de Bob Turner o ultrapassar, fazendo 1.58,0 e ficar em segundo. A seguir, apareciam os carros da Apollo, com Teddy e Alex juntos. Os dois carros faziam as curvas mais apertadas, e na curva anterior à meta, os carros rolavam juntos antes de ele o ultirpassar nos metros antes da linha de demarcação, com o comissário a agitar a bandeira de xadrez.

Na boxe, ficaram contentes com o resultado. O tempo de 1.58,5 não dava para a pole-position, mas era o suficiente para conseguir o sexto tempo, atrás dos carros de Beaufort, Turner, Van Diemen, Reinhardt e o jovem Kalhola. Mas ficava na frente do carro de Solana, dos carros de Carpentier, Bernardini, Revson e Gustafsson, bem como os Temple de Linzmayer e Hocking, do terceiro Jordan de Medeiros, do McLaren de Hogarth e dos restantes privados. Vinte carros iriam participar no GP da Alemanha, que pela primeira vez em muito tempo, tinha mudado de ares.

(continua)

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