quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Grand Prix (numero 78 - Hockenheim, VI)

(continuação do capitulo anterior)

Na volta 32, um aviso ecoou nos altifalantes: "Há um Matra azul a caminhar lentamente na zona da Ostkurwe. Ainda não se sabe quem é o piloto".

Na boxe da Matra, todos sustinham a respiração. Até que os carros chegassem a um sitio onde se pudesse ser identificado, ninguém respirava. Quando os primeiros chegaram à zona do Stadion, todos puderam respirar quando viram Beaufort na traseira de Van Diemen, lutando pela liderança, com Kahola e Monforte um pouco atrás, desta vez com o sildavo a passar o finlandês após a sequência, quando abordavam a primeira curva. Vista das boxes, o pessoal da Apollo vibrou com a manobra.

- Boa Alex! Passa esse miudo.
- Boa! És melhor do que eles todos.

Nas boxes da Matra, ao verem que tinha sido Carpentier o azarado da corrida e não Beaufort, voltaram a ficar fixos no que se passava nos tempos e numa pequena TV a preto e branco que tinham conseguido arranjar. Com uma antena colocada em posição periclitante, tentavam ver as imagens que as câmaras captavam no circuito para saber como andava a luta pela liderança, pois estava ao rubro, e prometia ficar assim até à bandeira de xadrez, caso nada de anormal acontecesse. E a mesma coisa acontecia na boxe da Ferrari, onde todos faziam figas para que o carro de Van Diemen aguentasse até ao fim e ficasse à frente de Beaufort. E se esse era o espirito em Hockenheim, em Maranello era a mesma coisa.

Mais duas voltas se passavam e nenhum dos quatro primeiros dava sinais de ceder, apesar de não haver trocas de posição deste então. Beaufort tentava lá chegar, mas não conseguia ter lugar e hora ideal para passar Van Diemen, enquanto que Monforte dava o melhor para se afastar de Kahola, mas o finlandês não desistia. Contudo, no caso do terceiro classificado, aos poucos se notava que o Apollo conseguia afastar-se. Pouco, mas conseguia. No inicio da volta 35, a diferença já era de quase dois segundos. Parecia que o piloto da Jordan tinha "rebentado".

- Está a ficar para trás, disse Sherwood.
- Mas está constante. Nâo é problemas com o carro. Acho que desistiu, quer levar o carro até ao fim. Será que o Bruce deu alguma ordem nesse sentido? perguntou Pete.
- Não ficaria admirado, mas não acredito.

Nisto, Teresa se aproxima dele e pergunta ao ouvido:

- O que se passa? O outro tem problemas?
- Não sei, mas parece que abandonou a luta.
- Vais dizer alguma coisa ao Alex?
- Não, não vou dizer nada. Ele que continue a acelerar.
- Mas é um risco.
- É por isto que estamos aqui, querida. Para correr riscos, gritava para poder ser ouvido acima dos ruidos dos bólides que passavam em plena recta da meta.

Com a corrida a aproximar-se do fim, o terceiro posto estava entregue a Monforte, que caso não tivesse problemas, estaria a caminho de novo pódio, já que a distância para Kahola aumentava de dois para cinco, e depois para sete segundos. o sildavo tinha tirado o pé e preparava-se para gozar mais um trabalho bem feito. Quanto ao filandês, conseguiu demonstrar o seu potencial, embora este estava esperando mais. Na realidade, o indicador de óleo começara a apitar e o indicador de combustivel baixara perigosamente, logo decidiu levantar o pé e asegurar os três pontos. Atrás de si vinha Pedro Medeiros, que era um quinto classificado mais do que assegurado, depois de ter deixado para trás o McLaren de Revson, que lutava com Manfred Linzmayer pelo sexto posto.

Contudo, na frente, não havia sinais de abrandamento. Todos tinham os olhos nesta luta que parecia que só iria acabar na linha de chegada. Quando os carros aproximaram-se da 45ª e última volta, Van Diemen era o lider, mas Beaufort preparava-se para o ataque final. Tinha conseguido fazer a sequência do Stadium colado na traseira do carro vermelho e esperava fazer o mesmo quando abordassem a primeira curva. Os carros aceleravam na recta quando um dos comissários mostrou uma placa a dizer "FINAL LAP", ao mesmo tempo que os altifalantes se dizia "Letze runde, it's the final lap". Beaufort não largou a traseira de Van Diemen e quando os carros entraram na floresta, o Matra, ajudado pelo cone de ar formado pelo Ferrari, aproxima-se rapidamente e dá uma guinada para a direita, colocando-se lado a lado.

Com isso, Beaufort tinha ganho velocidade suficiente para colocar o seu nariz à frente do carro de Van Diemen, o suficiente para tentar chegar à liderança, dado que a chicane começava com uma curva à direita, para depois voltar à esquerda. Van Diemen teve de travar e ceder a posição para o francês, que se atrapalhou um pouco na abordagem, subindo no corrector. Mas Van Diemen não aproveitou e o francês ganhou uma vantagem que parecia ser decisiva.

O piloto belga aproximou-se dele na zona do Estádio, mas Beaufort tinha tudo controlado e tapou as hipóteses de ultrapassagem para o Ferrari, e na última curva, a diferença era de um carro. O director de prova já tinha a bandeira de xadrez na mão, a observar os carros a aproximarem-se, enquanto que na boxe da Matra, os mecânicos estavam na pista, prontos a comemorar mais uma vitória do seu piloto. E quando assim foi, a festa engrandeceu e o publico aplaudiu:

"Philippe Charles de Beaufort, da França, foi vencedor do Grande Prémio da Alemanha. O piloto guiou um Matra, completando as 45 voltas do do circuito em uma hora e 33 minutos". Pouco depois, a mais de quinze segundos, passava o Apollo de Alexandre de Monforte, seis segundos adiante do Jordan de Antti Kalhola, que tinha sido uma das surpresas da corrida. Pedro Medeiros e Manfred Linzmayer, que aproveitou o atraso do Peter Revson devido a um problema mecânico, fecharam os pontos.

Na volta de desaceleração, ambos os pilotos felicitavam-se pela boa corrida que tinham feito. Tinha sido bem disputada e nos limites, mas leal. Tinha sido algo que ficara na história do automobilismo e algo que seria contado nos dias seguintes nas revistas e jornais um pouco por todo o mundo. Beaufort tinha um largo sorriso na sua cara, primeiro escondido no capacete, e depois mostrado quando o tirou, e foi abraçado pelos membros da sua equipa, bem como o seu director. Abraçou também o seu adversário, Van Diemen e depois foi cumprimentado pelos outros membros de equipas e os outros pilotos.

No pódio, ele foi o primeiro a subir, onde recebeu a grande coroa de louros, o champanhe e o troféu de vencedor, antes que se tocassem os primeiros acordes da Marselhesa. O jovem e barbudo piloto suspirava de alivio ao ouvir os acordes do hino francês. Com isto, consolidava a sua liderança e vencer o campeonato era uma questão de tempo, pois a sua consistência era grande, em contraste com os seus adversários, boa parte deles desistiam ou atrasavam-se. Quando o hino acabou de tocar, os outros dois pilotos subiram ao pódio: primeiro Van Diemen, depois Monforte. Quando o belga recebeu os aplausos da multidão, Beaufort ergueu o braço dele e disse:


- Aplaudam-no, pois merece. Ele lutou para estar no mesmo lugar que eu.

Depois, abraçaram-se, enquanto que o belga recebia um troféu mais pequeno, a coroa de louros e a garrafa de champanhe. A mesma coisa se sucedeu a Monforte, que depois de receber da sua parte, o francês aproximou-se e disse:

- Parabéns. Vais ser um futuro campeão do mundo. Tens tudo para isso, só espero que tenhas tempo para lá chegar.
- Obrigado, Philippe.
- Acho até que serás o vice-campeão, tens consistência para isso.
- Ainda falta muita corrida, e só consegui dezanove pontos...
- E todos te invejam. A ti e à tua equipa.

Entretanto, Van Diemen disse que já era altura de abrir o champanhe. Assim fizeram e comemoravam um fim de semana em que tudo lhes correu bem. Um fim de semana raro naquele ano conturbado.

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