![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjECs6eZH1PeBMQE1YtBSvAV6Bt2shL1SPl84GTfZpH-Gh-mPm6yDqw9Ai1djpbfqagjupYobBEZiEwwOq3U-PEzGympQ5nV_c8XyQTkyhMAqoZIarUkkOJZEbKHaVtELADcluSn_wGa5M/s280/Casco+Speeder76+1.jpg)
Na volta 32, um aviso ecoou nos altifalantes: "Há um Matra azul a caminhar lentamente na zona da Ostkurwe. Ainda não se sabe quem é o piloto".
Na boxe da Matra, todos sustinham a respiração. Até que os carros chegassem a um sitio onde se pudesse ser identificado, ninguém respirava. Quando os primeiros chegaram à zona do Stadion, todos puderam respirar quando viram Beaufort na traseira de Van Diemen, lutando pela liderança, com Kahola e Monforte um pouco atrás, desta vez com o sildavo a passar o finlandês após a sequência, quando abordavam a primeira curva. Vista das boxes, o pessoal da Apollo vibrou com a manobra.
- Boa Alex! Passa esse miudo.
- Boa! És melhor do que eles todos.
Nas boxes da Matra, ao verem que tinha sido Carpentier o azarado da corrida e não Beaufort, voltaram a ficar fixos no que se passava nos tempos e numa pequena TV a preto e branco que tinham conseguido arranjar. Com uma antena colocada em posição periclitante, tentavam ver as imagens que as câmaras captavam no circuito para saber como andava a luta pela liderança, pois estava ao rubro, e prometia ficar assim até à bandeira de xadrez, caso nada de anormal acontecesse. E a mesma coisa acontecia na boxe da Ferrari, onde todos faziam figas para que o carro de Van Diemen aguentasse até ao fim e ficasse à frente de Beaufort. E se esse era o espirito em Hockenheim, em Maranello era a mesma coisa.
Mais duas voltas se passavam e nenhum dos quatro primeiros dava sinais de ceder, apesar de não haver trocas de posição deste então. Beaufort tentava lá chegar, mas não conseguia ter lugar e hora ideal para passar Van Diemen, enquanto que Monforte dava o melhor para se afastar de Kahola, mas o finlandês não desistia. Contudo, no caso do terceiro classificado, aos poucos se notava que o Apollo conseguia afastar-se. Pouco, mas conseguia. No inicio da volta 35, a diferença já era de quase dois segundos. Parecia que o piloto da Jordan tinha "rebentado".
- Está a ficar para trás, disse Sherwood.
- Mas está constante. Nâo é problemas com o carro. Acho que desistiu, quer levar o carro até ao fim. Será que o Bruce deu alguma ordem nesse sentido? perguntou Pete.
- Não ficaria admirado, mas não acredito.
Nisto, Teresa se aproxima dele e pergunta ao ouvido:
- O que se passa? O outro tem problemas?
- Não sei, mas parece que abandonou a luta.
- Vais dizer alguma coisa ao Alex?
- Não, não vou dizer nada. Ele que continue a acelerar.
- Mas é um risco.
- É por isto que estamos aqui, querida. Para correr riscos, gritava para poder ser ouvido acima dos ruidos dos bólides que passavam em plena recta da meta.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhH5Gngd74Rtcl1tnV6HB36TyfR_NeYzSHn6gu7XFA3xLfa52yRHqhX1uW9n6xJdaN8cAPPFRcHKyGY4NsHqNmSuqJW-lYzhN-Mhs6MGjZYMLoL0ypeq3uF-UIGJvRj2FiyFJPT4BNrB-M/s280/Alemanha+70+5.jpg)
Contudo, na frente, não havia sinais de abrandamento. Todos tinham os olhos nesta luta que parecia que só iria acabar na linha de chegada. Quando os carros aproximaram-se da 45ª e última volta, Van Diemen era o lider, mas Beaufort preparava-se para o ataque final. Tinha conseguido fazer a sequência do Stadium colado na traseira do carro vermelho e esperava fazer o mesmo quando abordassem a primeira curva. Os carros aceleravam na recta quando um dos comissários mostrou uma placa a dizer "FINAL LAP", ao mesmo tempo que os altifalantes se dizia "Letze runde, it's the final lap". Beaufort não largou a traseira de Van Diemen e quando os carros entraram na floresta, o Matra, ajudado pelo cone de ar formado pelo Ferrari, aproxima-se rapidamente e dá uma guinada para a direita, colocando-se lado a lado.
Com isso, Beaufort tinha ganho velocidade suficiente para colocar o seu nariz à frente do carro de Van Diemen, o suficiente para tentar chegar à liderança, dado que a chicane começava com uma curva à direita, para depois voltar à esquerda. Van Diemen teve de travar e ceder a posição para o francês, que se atrapalhou um pouco na abordagem, subindo no corrector. Mas Van Diemen não aproveitou e o francês ganhou uma vantagem que parecia ser decisiva.
O piloto belga aproximou-se dele na zona do Estádio, mas Beaufort tinha tudo controlado e tapou as hipóteses de ultrapassagem para o Ferrari, e na última curva, a diferença era de um carro. O director de prova já tinha a bandeira de xadrez na mão, a observar os carros a aproximarem-se, enquanto que na boxe da Matra, os mecânicos estavam na pista, prontos a comemorar mais uma vitória do seu piloto. E quando assim foi, a festa engrandeceu e o publico aplaudiu:
"Philippe Charles de Beaufort, da França, foi vencedor do Grande Prémio da Alemanha. O piloto guiou um Matra, completando as 45 voltas do do circuito em uma hora e 33 minutos". Pouco depois, a mais de quinze segundos, passava o Apollo de Alexandre de Monforte, seis segundos adiante do Jordan de Antti Kalhola, que tinha sido uma das surpresas da corrida. Pedro Medeiros e Manfred Linzmayer, que aproveitou o atraso do Peter Revson devido a um problema mecânico, fecharam os pontos.
Na volta de desaceleração, ambos os pilotos felicitavam-se pela boa corrida que tinham feito. Tinha sido bem disputada e nos limites, mas leal. Tinha sido algo que ficara na história do automobilismo e algo que seria contado nos dias seguintes nas revistas e jornais um pouco por todo o mundo. Beaufort tinha um largo sorriso na sua cara, primeiro escondido no capacete, e depois mostrado quando o tirou, e foi abraçado pelos membros da sua equipa, bem como o seu director. Abraçou também o seu adversário, Van Diemen e depois foi cumprimentado pelos outros membros de equipas e os outros pilotos.
No pódio, ele foi o primeiro a subir, onde recebeu a grande coroa de louros, o champanhe e o troféu de vencedor, antes que se tocassem os primeiros acordes da Marselhesa. O jovem e barbudo piloto suspirava de alivio ao ouvir os acordes do hino francês. Com isto, consolidava a sua liderança e vencer o campeonato era uma questão de tempo, pois a sua consistência era grande, em contraste com os seus adversários, boa parte deles desistiam ou atrasavam-se. Quando o hino acabou de tocar, os outros dois pilotos subiram ao pódio: primeiro Van Diemen, depois Monforte. Quando o belga recebeu os aplausos da multidão, Beaufort ergueu o braço dele e disse:
- Aplaudam-no, pois merece. Ele lutou para estar no mesmo lugar que eu.
Depois, abraçaram-se, enquanto que o belga recebia um troféu mais pequeno, a coroa de louros e a garrafa de champanhe. A mesma coisa se sucedeu a Monforte, que depois de receber da sua parte, o francês aproximou-se e disse:
- Parabéns. Vais ser um futuro campeão do mundo. Tens tudo para isso, só espero que tenhas tempo para lá chegar.
- Obrigado, Philippe.
- Acho até que serás o vice-campeão, tens consistência para isso.
- Ainda falta muita corrida, e só consegui dezanove pontos...
- E todos te invejam. A ti e à tua equipa.
Entretanto, Van Diemen disse que já era altura de abrir o champanhe. Assim fizeram e comemoravam um fim de semana em que tudo lhes correu bem. Um fim de semana raro naquele ano conturbado.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...