Aquele fim de semana de Setembro de 1970 deve ter sido alucinante para Gianclaudio. Tinha trinta anos e finalmente estava no seu emprego de sonho: numa Ferrari, e na Formula 1. Ainda não tinha deixado crescer o bigode que o tornaria famoso, mas a sua rapidez tinha sido notada. E após cinco corridas, já tinha alcançado o pódio na corrida anterior, na Austria.
Iniciar a sua carreira na Formula 1 aos trinta anos já não era algo vulgar. Muitos já começavam a andar nesses bólidos numa idade bem mais jovem. Não nos 21 anos de Bruce McLaren, por exemplo, no já longinquo anos de 1958, mas ver alguém como Graham Hill, que aos 41 anos ainda pegava num carro todos os fins de semana, era uma visão cada vez mais rara. Mas nos dez anos seguintes, Clay Regazzoni provaria que qualquer idade é boa, desde que tenha a velocidade e a capacidade de superar o seu adversário para no final subir ao lugar mais alto do pódio.
Naquele fim de semana em particular de 1970, tinha visto mais uma vez a Morte a rondar, sem poupar ninguém. Viu o lider do campeonato e seu grande rival da Lotus, Jochen Rindt a terminar a sua carreira (e a vida) sendo mais uma das vitimas de Monza, quase no mesmo local onde nove anos antes, Wolfgang von Trips e outras treze pessoas perderiam também a vida. Foi uma amarga prenda de aniversário, pois fazia 31 anos nesse dia. Não sei, nem saberemos o que lhe passou na cabeça naquele dia, mas qualquer que tenha sido o seu medo, enfiou-o no bolso e preparou-se para correr no dia seguinte.
Aí, teve a sorte onde outros tiveram azar. Aproveitou a quebra de Jacky Ickx para herdar a vitória, dando à Ferrari algo que não comemoravam desde Ludovico Scarfiotti, em 1966. Não era italiano, mas falava e sentia como eles, e sentiu aquela vitória e aquele público como sendo seu. Ao quinto Grande Prémio da sua carreira, sentia o sabor da vitória. E provavelmente algo para adociar o mau fim de semana que a Formula 1 estava a passar, um belo começo para uma carreira que duraria mais dez temporadas, sempre com amor ao automobilismo, apesar das desilusões dos homens, especialmente na sua amada Ferrari.
Em 1980, aos 41 anos, não se importava de correr numa equipa do fundo do pelotão como a Ensign, depois de passagens pela BRM, Shadow e Williams, onde aos 39 anos, dava à equipa do Tio Frank a primeira das dezenas de vitórias que ele saboreou. Nessa parte, Regazzoni já tinha permanentemente o seu lugar na história. E a razão pelo qual continuava a correr, após aqueles anos todos, era o simples amor ao automobilismo.
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