Pessoalmente, considero que o Rally Dakar de 1986 foi um dos mais marcantes a nivel pessoal. No alto dos meus nove anos e no meu entusiasmo juvenil pelo automobilismo, vendo com a mesma devoção a Formula 1 e os Ralis - sim, confesso-me um previlegiado por ter visto os Grupo B e os motores Turbo em acção - vi o Paris-Dakar com um misto de entusiasmo e choque.
Digo "choque" porque aquele foi um Dakar trágico: o seu fundador, Thierry Sabine, morreu num acidente de helicóptero a 14 de Janeiro desse ano, numa duna do Mali, acidente esse que também reclamou a vida à jornalista Nathalie Odent, ao engenheiro de som Jean-Paul Lefur, e ao cantor Daniel Balavoine, um dos mais famosos da altura no país do hexágono. Mas esse foi o mais trágico de todos, pois antes tinha havido mais duas mortes, dois motards: o japonês Yasuo Kaneko, logo no primeiro dia, e o italiano Gian Paolo Marioni, que caiu no último dia da prova, a 40 quilómetros da meta, levantou-se e concluiu a prova, para depois ser levado ao hospital, onde contraiu uma infecção bacteriana e morreu.
Mas o que não sabia, ou já não me recordava, era que esta semana, essa edição do Paris-Dakar reclamou mais uma morte, a do motard francês Jean-Michel Baron. Como assim? Baron sofreu uma queda que o colocou num estado vegetativo durante 24 anos. Até agora. Quem conta a história é o Rodrigo Mattar no seu blog A Mil Por Hora.
Baron era piloto da Honda oficial, que tinha como pilotos os franceses Cyril Neveu e Gilles Lalay, que acabaria por morrer em 1992, nos Camarões, quando o Rally Dakar decidiu atravessar África de ponta a ponta e ir à Cidade do Cabo. Baron tinha na altura 31 anos quando sofreu um acidente no Niger e foi evacuado para França, onde ficou na sua casa a ser cuidado por familiares em quase um quarto de século.
Em suma, uma história impressionante, um último resquicio de um ano trágico no automobilismo.
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