quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Grand Prix (numero 91, Watkins Glen)

(continuação do episódio anterior)

Watkins Glen, 2 de Outubro de 1970

Pouca gente em Watkins Glen tinha notado no final da tarde de quinta-feira pela chegada de um camião pequeno da Greatyear. Ou se notaram, não fizeram qualquer caso disso, julgando que era mais um camião cheio de pneus. De facto, assim era, mas lá dentro, os pneus que lá repousavam não eram uns quaisquer. Eram feitos do mesmo composto que Alexandre de Monforte e o pessoal da Apollo tinham testado mais de dis meses antes, no "countryside" britânico.

Os famosos pneus slicks sem rastos, que a fábrica tinha dito que seriam bem mais rápidos do que os da concorrência, composta pela Dunlap e Firebug. Mas o representante da marca tinha dito a Pete Aaron que aqueles pneus tinham um composto ainda melhor daqueles testados no Verão. Pete ficou espantado, pois sabia o que tinham valido os anteriores, e começou a pensar que eles poderiam dominar o final de semana americano. Mas só quando calçassem os pneus é que iriam ver até que ponto conseguiam superar a concorrência.

Naquela sexta-feira, o sol já se tinha levantado há algum tempo no "countryside" do estado de Nova Iorque, do qual Watkins Glen fazia parte. Já desde cedo que os mecânicos andavam atarefados à volta dos carros de toda a gente. Os pilotos já tinham chegado e já tinham começado a falar com os directores, engenheiros e mecânicos. E todos comentavam o regresso da Matra à activa, quase um mês depois da morte de Philippe de Beaufort. De facto, dois carros estavam inscritos pela equipa francesa, que corria com a cor azul clara. Gilles Carpentier tinha agora a tarefa de defender as cores francesas, enquanto que a seu lado estava Pierre Brasseur, que já tinha se estreado nas lides em Charade, não muito longe do local onde tinha crescido, pois era de Clermont-Ferrand, e ele já era praticamente o campeão da Formula 2 naquele ano, depois de lutar contra Michele Guarini e depois dos desinteresses e azares de outros potenciais candidatos ao título como Pedro Medeiros, Antti Kalhola e Alexandre de Monforte.

Em relação à lista de inscritos, apareciam os mesmos pilotos que correram no Canadá, mais dois veteranos que naquela ocasião não podiam participar devido a uma corrida da Can-Am: o mexicano Antonio Molina, no terceiro carro da BRM, ao lado de Bob Turner e Anders Gustafsson, e um canadiano chamado Patrick Truffaut, que vinha correr num segundo Jordan de 1968 inscrito pela equipa de Stefan Levesque. Truffaut era jovem, tinha 22 anos e no Inverno... corria de em snowmobiles, um desporto que começava a ser tão famoso no Canadá como o hóquei no gelo. Aliás, toda esta aventura de Levesque, que era doze anos mais velho que Truffaut, era parcialmente patrocinada por um fabricante de "snowmobiles". E adaptava-se tão bem em qualquer coisa que um fabricante americano de chassis, a Shadow, o tinha convidado para correr num dos seus carros na Can-Am, com bons resultados.

Concentrados na tarefa que os esperava, os pilotos esperavam pela hora do inicio da qualificação para começar a rodar no asfalto americano. Os primeiros foram os Temple-Jordan, para se adaptarem às condições de pista e arranjarem as primeiras afinações para o resto do fim de semana. Depois vieram os outros: Ferrari, Matra, Jordan, McLaren, BRM.

Pelo meio da sessão, os Apollo também já tinham ido para a pista, mas com os pneus tradicionais, e andavam em posições sem destaque: Monforte tinha o sétimo tempo, Solana o nono e De Villiers era décimo, numa tabela liderada pelo Ferrari de Patrick Van Diemen, seguido pelo BRM de Bob Turner, o Matra de Gilles Carpentier e o segundo Ferrari de Toino Bernardini. Dentro da boxe da Apollo, havia um conjunto de pneus cobertos por um pano negro, trazidos pela marca. Estavam num canto, prontos para serem usados, e o pano servia para o esconder de olhos curiosos. Vigiado discretamente por Alex Sherwood e pelos mecânicos e técnicos da Greatyear, ao final desse tempo, quando o último dos carros chegou à boxe, Pete deu aos mecânicos o sinal:

- "OK boys", coloquem os "slicks".

Um a um, os mecânicos tiraram os pneus com rasgos e ao seu lado, do tal monte coberto com um pano preto, vinham os tais pneus lisos, "slicks". Foram primeiro colocados no carro de Monforte, depois no de Solana e depois no novato sul-africano. Após ter sido colocado no último carro, todos sairam do seu sitio em fila indiana, esperando pelo sinal verde dado pelo comissário à entrada da pista. Em intervalos de vinte segundos, os carros entraram na pista.

- Agora veremos até que ponto eles são bons, disse Pete.
- Em principio eles serão, respondeu o técnico da Greatyear. Este composto já foi testado nas nossas pistas, tem uma eficácia comprovada.
- Mesmo assim, só acredito vendo, respondeu Pete.

Teresa e Pam estavam nas boxes a tirar tempos, enquanto que Alex Sherwood mostrava uma placa aos pilotos com a palavra FULL, indicando que ele queria que os pilotos guiassem ao seu máximo, pois queria ver até que ponto eles eram capazes, com os tais novos compostos. Quando passaram pela meta, elas sabiam que o melhor tempo do dia tinha sido o de Van Diemen, com 1.13,6 segundos, e o melhor que Alexandre tinha feito era 1.15,2, quase dois segundos mais lento do que o belga. Os três carros aceleravam pela pista, aproveitando todos os cantos e guiando no limite. Alexandre, que estava na frente, tinha a pista livre, enquanto que Teddy e Philipp tentavam apanhá-lo, numa espécie de jogo.

As distâncias mantinham-se equivalentes, enquanto que os segundos se passavam, lenta, mas tensamente. Após esse tempo, apareceu Alexandre à vista, quase a atravessar com o seu carro. Teresa estava atenta pela passagem do seu namorado pela linha branca e quando parou o cronómetro, teve alguns segundos para assentar mentalmente o tempo que tinha marcado. Depois, de modo hesitante, disse a uma plateia expectante:

- Acho que é erro, mas eu tenho aqui 1.12,3.

O tipo da Greatyear sorria, enquanto que Pete estava espantado. Logo a seguir era a vez de Teddy, também a dar o seu máximo, passar pela meta, e Pam disse:

- 1.12,4, é muito bom, Pete.

O sorriso do homem dos pneus alargava-se mais.

E depois veio de Villiers, o campeão sul africano de Formula 1. Também vinha a dar o seu melhor, e o seu resultado era ainda mais espantoso:

- 1.12,0, é o "poleman"!

E era o delírio nas boxes. Momentos depois, o resto do pelotão estava a ver a nova arma secreta que a Apollo trazia nos bastidores, e que tinha espantado toda a gente. Com a entrada deste novo factor, alguns tinham ficado curiosos, enquanto que outros ficavam preocupados. Especialmente uma certa equipa de vermelho... Os Apollos continuavam a guiar à volta da pista e os tempos voltavam a cair. No final da sessão, Monforte tinha 1.11.7 segundos, 0,2 segundos mais rápido que de Villiers e mais 0,5 segundos de Solana.

Van Diemen conseguiu depois baixar para 1.12,9, mas foi no limite e a puxar pelo seu motor V12, enquanto que eles diziam que tinham dado muito, mas não tudo. Os pilotos falavam com o técnico da Greatyear para saber como poderiam retirar o máximo possível daqueles pneus, pois sabiam que poderiam melhorar a sua performance. Teddy dizia até que se estivesse num BRM ou Ferrari, poderiam baixar para 1.10, facilmente.

- Esta é a nossa arma para o fim de semana. Rapazes, aproveitem-na bem, disse Pete.
- Eu concordo, poderemos parar os Ferrari e interferir na disputa pelo título, respondeu Alexandre. Mas será que eles vão-nos deixar correr com isto?
- Claro. Os comissários autorizaram estes pneus, estão de acordo com as regras, e nada nelas impede que usemos "slicks", respondeu o técnico da Greatyear.
- Só uma coisa - perguntou Teddy - o que impede a Firebug de trazer pneus iguais amanhã, por exemplo?
- Nada. Eles até podem trazer. Não é por aí que nos vão igualar. É o composto. Vocês vão voar nesses pneus, e até podem usá-los para a corrida. Mas de futuro estamos a experimentar pneus ainda mais velozes, mas mais frageis, que só durarão duas voltas.
- E eles estão cá?
- Não, mas posso telefonar à sede para os trazer amanhã para aqui.
- E são assim bons?
- Bons? Bombásticos!
- Então traz. Este fim de semana vamos arriscar tudo, eu não saio daqui sem a taça de vencedor na mão. Devo isso a mim e ao Beaufort, concluiu Pete Aaron.

(continua)

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