Na mesma altura em que o Brasil elege o seu novo presidente, o calendário hoje lembra que faz agora 40 anos que Emerson Fittipaldi alcançou a sua primeira vitória na Formula 1, a primeira de uma saga, continuada por Carlos Pace, Nelson Piquet, Ayrton Senna, Rubens Barrichello e Felipe Massa. Neste dia, em Watkins Glen, Emerson tinha de impedir que o belga Jacky Ickx, no seu Ferrari, voltasse a ganhar corridas, para que o seu companheiro Jochen Rindt, morto trinta dias antes, pudesse ser coroado campeão do mundo.
Aquela vitória foi o primeiro corolário de uma vertigem com dezoito meses. No inicio de 1969, Emerson tentou a sua sorte na Europa, mais concretamente na Grã-Bretanha, onde em pouco menos de dezoito meses passou da Formula Ford para a Formula 3. No inicio de 1970, foi para a Formula 2, graças a Colin Chapman, que viu nele potencialidades semelhantes as de Jim Clark e Jochen Rindt.
A 18 de Julho de 1970, teve a sua estreia na categoria máxima do automobilismo, onze anos depois de Fritz D'Orey, o último brasileiro a competir num Grande Prémio. Mais tarde, disse sobre esse dia memorável: "Alinhei na última fila, ao lado de Graham Hill, meu ídolo de infância. Se morresse nesse momento, morria feliz. Tinha atingido o meu sonho - alinhar num Grand Prix de Formula 1". Acabou a corrida no oitavo lugar, a uma volta do vencedor, o seu companheiro Jochen Rindt.
Num pelotão em mudança, adaptou-se rapidamente. Na segunda corrida, na Alemanha, acabou na quarta posição, e tudo indicava que iria ser o piloto da Lotus em 1971. Mas as circunstâncias anteciparam os planos. Em Monza, nos treinos de Sábado, Jochen Rindt teve o seu acidente fatal, curiosamente, no modelo que Fittipaldi teria usado nesse dia, caso no dia anterior não tivesse batido com o carro de Rindt no mesmo local, na curva Parabolica.
Colin Chapman decidiu logo a seguir que Emerson seria o seu piloto, uma responsabilidade enorme para um jovem tão inexperiente. Algo que ele próprio não esperava, e do qual tinha naturalmente algum receio. Mas não virou a cara, pois estava disposto a ajudar a equipa numa hora de grande aperto. A ajudá-lo nesta tarefa estava um estreante sueco chamado Reine Wissel, que substituira John Miles.
Ausentes de Mont-Tremblant, palco do GP do Canadá, estavam lá em Watkins Glen, palco do GP americano. Precisamente trinta dias depois de Rindt morrer, o carro numero 24 de Emerson largava da terceira posição, à frente do BRM de Pedro Rodriguez e atrás do Tyrrell de Jackie Stewart e do Ferrari de Jacky Ickx, o homem que tinha de impedir de alcançar o título que Rindt merecia. Largou mal, mas aos poucos foi subindo na classificação, aproveitando os problemas de Stewart, Ickx e uma paragem não programada de Rodriguez, a oito voltas do fim.
Já quando Ickx tinha parado nas boxes, o seu objectivo tinha sido cumprido. A vitória era apenas a cereja no topo do bolo, mas deu também o título de Construtores à Lotus, premiando o carro que Colin Chapman tinha criado, o Lotus 72. A vitória tinha deixado muita gente espantada num Brasil que vivia nas trevas da Ditadura Militar, e que ainda sorria com os feito da Selecção em Junho, tricampeã e detentora definitiva da Taça Jules Rimet. Dois anos depois, Fittipaldi iria ser campeão do mundo e os brasileiros descobriam que o automobilismo poderia ser motivo de orgulho nacional.
Para final, uma historieta: quando ele e a sua mulher Maria Helena chegaram a Nova Iorque para se hospedarem num pequeno hotel na zona da Broadway, afirmou que tinha sido reconhecido pelo porteiro porto-riquenho como "o rookie que tinha ganho os 50 mil dólares do primeiro prémio. Ele não tirava os olhos da minha mala preta e me apontava para todos os hospedes. Nessa noite, eu e Maria Helena trancamos a porta do quarto com o armário e no dia seguinte mudamos de hotel..."
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