Todos nós sabiamos que não podia passar de hoje a decisão do título de 2010. Sebastien Vettel, Fernando Alonso e Mark Webber estavam de olho para o título, com Lewis Hamilton a fazer o papel de "joker" nessa luta pelo campeonato, pois o piloto da McLaren até poderia ser campeão, se vencesse e os outros desistissem, por exemplo. E quando se viu a performance dos carros de Woking no Sábado, meti-me na cabeça de que esta gente iria ter uma palavra a dizer na corrida. Não me enganei, mas não sabia que o verdadeiro decisor seria uma equipa de cor amarela... e um heptacampeão do mundo.
Quando os carros partiram, Vettel foi para a frente para não mais ser visto, seguido pelos dois McLaren e por Fernando Alonso, que apesar de ter Mark Webber imediatamente atrás, nunca foi ameaçado por ele. Mas um pouco atrás, uns metros mais à frente, Michael Schumacher perdeu o controle do seu carro, fez um pião e por pouco não perdia a cabeça quando viu o Force India de Vitantonio Liuzzi a bater forte no seu chassis. Resultado: seis voltas de Safety Car e muitos pilotos que tinham partido com pneus moles a irem às boxes. Entre eles, o Renault de Vitaly Petrov.
Quando a corrida recomeçou, Vettel continuava na frente, mas no meio do pelotão, os ferrari começaram a trocar de pneus mais ou menos na primeira parte da corrida. Primeiro Felipe Massa, depois Webber e por fim Alonso. E as coisas mostraram o tipo de carros que são: incapazes de apanhar o seu adversário e ultrapassá-lo, Massa não conseguia apanhar Webber, esta não apanhava Alonso e este ficava "entalado" atrás de Petrov. No duelo directo entre motores, nenhum deles era suficientemente rápido, e o russo, que fazia o seu melhor para conservar o seu lugar para 2011, conseguia ser um involuntário protagonista da decisão do título mundial. A ideia de um "joker", levantada ontem, estava a concretizar-se.
Com isso, a corrida tornou-se depois tensa. A falta de ultrapassagens numa pista como Abu Dhabi, para além dos duelos entre os carros, onde há um "chove não molha", mostrou que os pit-stops foram decisivos nesta corrida, tal como era no ano passado, quando os reabastecimentos eram permitidos. E os pilotos bem tentavam se superar, com as várias saídas de pista protagonizadas por Webber e depois por Alonso. O espanhol dava tudo, mas via-se que estava a ver escapar entre os seus dedos as hipóteses do tricampeonato.
Na frente, Hamilton dava o seu melhor, espacialmente depois de ficar bloqueado atrás de Robert Kubica. Até ficou com um pneu "quadrado", graças ao seu estilo agressivo, mas não estragou a corrida de ninguém e acabou no segundo posto, à frente do seu companheiro Jenson Button, que foi conservador, conseguiu fazer render os pneus o mais que pode e venceu a medalha de bronze. Pelo conjunto, o grande vencedor de hoje foi a McLaren. E se não fosse o estilo demasiado agressivo de Hamilton, que lhe causou duas desistências seguidas, poderia ter chegado a Abu Dhabi com hipóteses para lutar pelo seu bicampeonato.
No final, fez-se história. Viu-se Sebastien Vettel, o piloto que sempre acreditou até ao último metro, até à última hipótese possivel, que podia ser campeão, a conseguir o título, sem ordens de corrida, sem ultrpassagens "fabricadas", dando uma bofetada de luva branca à Ferrari e a aqueles que achavam que a Red Bull deveria ter dado prioridade a Mark Webber. Dietrich Mateschitz e Christian Horner disseram "não", não cederam ás pressões e aí está a recompensa: conseguiram os dois títulos.
E para finalizar: ao ver o mau perder de Alonso, reclamando a Vitaly Petrov de que ele o tinha bloqueado, reparei que não só não tinha a cabeça no seu lugar, como demonstrou que não sabe e nunca saberá perder. O Principe das Asturias no seu pior veio ao de cima, descobrindo da pior maneira possivel, na pior altura possivel e no pior lugar posivel de que nem toda a gente "abre as pernas" como fez o seu companheiro de equipa na Alemanha. Em suma, Fernando Alonso é o Alain Prost dos nossos dias.
Quanto a Abu Dhabi... como disse atrás, esta corrida teve mais de tensão do que de emoção. A pista, como acontece em quase todos os tilkódromos, é aborrecida, quase faz adormecer elefantes. Ainda bem que no ano que vêm, a temporada acabará em Interlagos e não em Abu Dhabi, porque se o título de 2011 for jogado nos mesmos moldes deste ano, ao menos que acabe num local mais tradicional.
2010 acabou, agora teremos mais quatro meses de espera até ao Bahrein, de novo o local do arranque da próxima temporada, que será definitivamente a mais longa de sempre na história da Formula 1.
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