sábado, 1 de janeiro de 2011

Youtube Motorsport Classic: Le Mans, 1977



No dia do seu 66º aniversário natalicio, não podia esquecer um dos mais completos pilotos do século XX. Nâo é francês, britânico ou alemão. É belga e chama-se Jacky Ickx. Há precisamente um ano, escrevi uma extensa biografia sobre este virtuoso das pistas, no qual conseguiu ganhar em quase todas as categorias onde andou e cuja unica grande falta foi o de não ter vencido o título mundial de Formula 1, apesar de ter andado por perto em 1969 e 1970, respectivamente ao volante de um Brabham e de Ferrari, esta última a equipa no qual guiou durante a melhor fase da sua carreira.

Mas o video que coloco aqui é o de uma das suas vitórias em Le Mans. Ickx faz parte da lenda desde a sua primeira vitória, na edição de 1969, quando foi o último a entrar no seu carro, num protesto silencioso pelas condições confusas da partida na mítica prova de Endurance, e depois na diferença de 120 metros com que bateu, ao fim de 24 horas e ao volante do seu Ford GT40, o Porsche 908 de Gerard Larrousse e Hans Hermann.

Em 1977, já na sua carreira descendente na Formula 1, continuava activo na Endurance, e corria nessa edição na equipa oficial da Porsche, no modelo 936, um modelo de cockpit aberto. No final dessa corrida, Ickx iria ganhar pela terceira vez na sua carreira, mas provavelmente esta foi a edição mais épica, pois teve de guiar dois carros, com o primeiro - partilhado com o francês Henri Pescarolo - a abandonar cedo, e depois entrou no carro do alemão Jurgen Barth e do americano Hurley Haywood. Esse exemplo de resistência fisica e mental é descrita pelo próprio nas linhas seguintes:

Comecei ao volante do Porsche 936 numero três, ao lado de Henri Pescarolo. Mas rapidamente tivemos de desistir por causa de um motor partido. O segundo Porsche, o numero quatro, teve também um problema mecânico que foi resolvido pelo pessoal da Porsche. Mas tinha sido uma reparação demorada, e quando largou, estava na 49ª posição, várias voltas atrás do líder. Qualquer esperança de uma boa classificação estava destruída, especialmente porque sabíamos que os nossos rivais, a Renault, tinha uma excelente armada e estava determinada a vencer esta prova. Escusado será dizer que a moral da equipa estava em baixo.

Então, o director da equipa obrigou-me a guiar o Porsche numero quatro, conduzidos pela dupla Barth e Haywood. Tinha chovido durante toda a noite e conduzi boa parte do tempo, até onde os regulamentos permitiam. Tinha dado o meu melhor e à medida que conduzia nos meus limites, percebi que estava num estado de graça divina. Aquela era uma noite mágica para mim, e a equipa, que de inicio estava psicologicamente devastada, começou a acreditar num milagre, especialmente quando começaram a ver a subida na classificação. Com isso, todos começaram a dar o seu melhor, e quando disse, durante um dos reabastecimentos, que iria continuar, o meu engenheiro alemão somente dizia, enquanto abanava a cabeça: 'Não acredito…!'

Ao alvorecer, estava completamente exausto. Tinha levado o carro até ao segundo posto, atrás do Alpine-Renault de Jean-Pierre Jabouille e de Derek Bell, e pouco depois, esse carro desistia com um motor partido. O carro acabou em mau estado, porque tinha o motor a funcionar em somente cinco cilindros. Apesar de estar nos limites, eu mesmo e o carro, tinha sido um momento fantástico.

E são episódios destes que acrescentam mais um bocado à lenda. "Joeyeux Anniversaire, Jacky Ickx!"

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