O assunto desta semana é mais que conhecido, pois andamos a ver isso todos os dias nas nossas televisões: os ventos de mudança no Médio Oriente e a velocidade no qual isto pegou fogo. Se falassemos nessa ideia em Dezembro, provavelmente iriamos rir na cara da pessoa, afirmando que era algo impensável nos tempos mais próximos. Afinal de contas, bastou uma pessoa pegar fogo a si mesmo na Tunisia pare que verificasse que todo o Médio Oriente era uma vasta pastagem de erva seca, pronta a ser queimada. As redes sociais deram uma ajuda e em poucas semanas dois velhos dinossaurios, Ben Ali da Tunisia e Hosni Mubarak do Egito, sairam do poder, de onde toda a gente pensaria que só sairiam dali depois de mortos.
As coisas ainda andam frescas, mas o desejo de mudança continua mais do que presente em muitos locais, e estes não tardarão a pegar fogo. Siria, Yemen, Irão, Libia, Argélia, estão agitados ou em vias de agitar, e outros paises, como a Jordânia e Marrocos, já tiveram algumas agitações, mas os regimes vigentes conseguiram acalmar os ânimos, fazendo algumas mudanças e fazendo algumas concessões.
O que isto tem a ver com a Formula 1? Bom, se falarmos sobre o pequeno emirado do Bahrein... tudo. Independente desde 1971, acolhe desde 2004 a Formula 1 e tornou-se na prova de abertura do mundial nos tempos mais recentes. O seu circuito pode ser arquiteturalmente muito bonito, mas em termos de emoção, é uma treta. Aborrecido para os nossos olhos, é o exemplo mais acabado da politica atual de Bernie Ecclestone, que procura os petrodólares do Golfo, pois são os unicos que satisfazem as cada vez maiores exigências de dinheiro por parte do octogenário anão.
Só que agora, a musica é outra. Bernie Ecclestone é um homem preocupado. Quer saber se tem garantias de que no próximo dia 13 de Março o seu Grande Prémio não será incomodado pelos manifestantes locais. Caso as coisas por lá andarem à mesma velocidade do que na Tunísia e no Egito, ele deve recear que dentro de um mês a família real barenita esteja num curto voo só de ida rumo ao seu vizinho saudita...
Os locais, que reclamam justamente por uma maior democracia e igualdade entre sunitas e xiitas, que no caso particular do Bahrein, representam a maioria da população, mas são governados por uma elite sunita, já disseram que iriam usar o Grande Prémio para verbalizar as suas reivindicações. Mas antes disso, nos primeiros dias de Março, a Formula 1 fará testes no circuito, em preparação para a corrida. Ecclestone quer saber se tem garantias de que as coisas correrão "business as usual", sem ser incomodado pela "arraia míuda", pois caso contrário, ou adia para o final do ano, ou simplesmente cancela a corrida e se corre com 19 Grandes Prémios.
Nesse aspeto, os dias que se seguirão irão certamente dar uma resposta a essa dúvida.
Por outro lado, ao ver a agitação no Médio Oriente, certamente há uma certa ideia do Tio Bernie que caiu por terra. Quando abre a boca para dizer as suas asneiras, uma das mais habituais é o elogio aos ditadores, como o Adolf Hitler (que ironia, é judeu...) Robert Mugabe ou a Margaret Thatcher (não foi ditadora, mas não a chamaram de Dama de Ferro por nada) e a boa razão pelo qual perfere ter corridas na Russia, China, India ou Malásia é porque esses regimes pagam muito e a sua população não faz muitas perguntas.
E os pedrodólares, como é óbvio, vêm a calhar. Ter duas corridas no Golfo Pérsico e com a possibilidade de mais uma no Qatar sempre no horizonte, tem a sua vida feita. Mas com este barril de pólvora a explodir, ele começará a pensar duas vezes antes de ter a politica, ou se perferirem, a realidade a bater à porta do seu mundo fantasioso, elitista, asséptico, cheio de caras bonitas e famosos cheios da pasta. Para ele, já é tarde para que mude, será assim até morrer, mas acho que a Formula 1 precisa um pouco mais de bom senso e menos dos seus promotores, que para terem a Formula 1 nos seus países, precisaram de fazer pactos com o Diabo...
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