Bom, agora é oficial. Demorou dezoito dias e provavelmente algumas centenas de mortos, muito por culpa da teimosia do presidente. Mesmo ontem quando disse que iria transferir poderes ao vice-presidente, a multidão não estava contente. Eu entendo: oprimidos durante trinta anos, queriam tudo. A cabeça do faraó em troca de paz. Esta tarde, circulavam noticias de Hosni Mubarak estava fora do Cairo, para Sharm el Sheik, mas que não indicava que tinha abandonado o poder. Ele largou as coisas, aos poucos, de forma irritantemente lenta, demasiado lenta para um povo que grita a plenos pulmões que quer ser livre.
Esta tarde, há pouco mais de uma hora, o vice presidente Suleiman disse na televisão as palavras que todos queriam ouvir: "Em nome de Deus, o misericordioso, cidadãos, durante as difíceis circunstâncias que o Egipto atravessa, o Presidente Hosni Mubarak decidiu deixar o cargo de Presidente e encarregou o Conselho Supremo das Forças Armadas de administrar o país. Que Deus ajude toda a gente", afirmou.
Algumas pessoas dizem que povo venceu o faraó, e com razão. Desfiaram primeiro a policia de choque, depois o recolher obrigatório. Depois as contra-manifestações violentas de esbirros pagos pelo regime e policias disfarçados, apenas com o objetivo de causar o caos. Foi sempre pacifico e resistente, e sempre com uma ideia em mente: fazer sair Hosni Mubarak. Foram dezoito dias onde foram testados ate ao limite. E conseguiram, dou os parabéns para isso.
Mas se quisermos usar a metáfora futebolistica, acabou agora a primeira parte do jogo. A segunda parte começa agora, quando os militares e o agora presidente Suleiman falarem com a oposição organizada, desde a Irmandade Muçulmana até aos intelectuais como Mohammed el Baradei, Amr Moussa e outros, e elaborarem um calendário de transição que permita as tais eleições livres e justas que querem e desejam. Que aquele povo, que saiu à rua aos milhões como se fosse o Maio de 68 nas margens do Nilo, que muitos temiam uma viragem para o pior, viva livre e procure a felicidade, tal como muitos procuram na América, Europa e Ásia. E depois da Tunisia, precisamente quatro semanas depois da fuga de Ben Ali, outro ditador cai. Resta saber onde este dominó irá parar, e se terá um final feliz.
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