Esta noite, tomei conhecimento de que o meu blog chegou a mais uma marca na história: 900 mil visitas. Definitivamente, é um marco muito importante, pois acontece a escassos dois dias deste espaço comemorar o seu quarto aniversário. E é provavelmente o mais recente feito desta semana agitada para mim e para o automobilismo.
Como vocês sabem, no Domingo tivemos o acidente de Robert Kubica. Foram dois dias a correr para fazer várias coisas. Atualizações no blog e no sitio no qual eu colaboro agora, o Pódium GP, e isso implicou fazer algumas coisas em cima da hora. Com as apresentações dos carros, cheguei a só ter tempo para respirar. Foi ótimo, e o blogue beneficiou com isto: passou de mil e cem "pageviews" diários para cerca de 1800 durante dois a três dias. Agora os numeros parecem ter voltado um pouco ao normal, mas vi que devo ter ganho mais alguns seguidores. É um lado bom nesta situação.
Contudo - e isto pode ser entendido como uma antecipação do que irei escrever no aniversário do blog - aquilo que ando a ganhar é só prestigio e respeito. Mais nada. Em quatro anos de existência deste blog, ganhei convites para colaborar noutros sitios, mas para ser honesto, não ganhei um tostão que seja a escrever sobre automobilismo. Sei que grande parte de vocês não ganhou algo ou tenta ganhar, mas francamente, gostaria.
Digo-vos porquê: estou numa situação de "freelance", digamos assim. É precária e não se ganha dinheiro. A vida não está fácil, vivemos numa crise enorme do qual parece não vermos o seu final. Sente-se, pelo menos por aqui em Portugal, que estamos no fundo do vale e não vemos maneira de como sair do poço. Em termos de projetos, sejam na área jornalistica ou empresarial, parece que vivemos numa espécie de "Idade do Gelo", porque nada aparece, e é grave. O desemprego é muito e na minha geração, é ainda maior. Pessoalmente, gosto do que faço, mas adoraria ainda mais se fosse pago para isso. Que aparecesse um trabalho na área ou então um financiador para que pudesse arrancar o meu próprio projeto. Alguém que, mostrando o meu plano, estivesse disposto a investir em algo que valesse a pena. Ou então, terceira solução, me desse uma oferta de emprego num país estrangeiro. Enfim, algo que dissesse que vale a pena arriscar.
Escrever por escrever, faço desde há muito. Aqui ou noutros lados, sem me queixar, sem reclamar. Houve uma exceção, há ano e meio, quando me envolvi num projeto local. No papel soava lindamente - e ainda soa. Mas na prática, o projeto começou pelo telhado, não tinha um plano definido, era demasiado improvisado para o meu gosto e ao fim de três meses, terminou com salários em atraso para toda a gente, incluindo eu. Essa pessoa deve-me cerca de dois mil euros, que me poderiam ter sido incrivelmente úteis nestes tempos dificeis.
Em suma, o cansaço e a tensão acumula-se. A sensação neste país é que as pessoas começam a cansar-se do sistema, dos politicos. Agora a canção do momento é uma em que tem como refão "Que parva eu sou" onde "para ser escravo é preciso estudar". De fato, em 1994, a minha geração foi chamada de "rasca", porque fomos à rua e chegamos a mostrar o rabo aos politicos, por não nos ligarem nenhuma. Desasseis anos mais tarde, os miudos de dezoito anos tem agora 35 e foram para a universidade, estudando... os cursos errados.
As consequências estão aí: se não estão desempregados, estão precários, a ganharem pouco, saltitando de lugar para lugar, sujeitos a péssimos patrões, que nos tratam mal ou não nos pagam, sem proteção social, a viver na casa dos pais, sem poderem ter a oportunidade de se emanciparem, de casar, ter filhos. E quando nos queixamos, a resposta que ouvimos por vezes é "para crescer". Confesso que isso me revolta. A sensação que tenho é essa geração mais velha não nos ouve, ou não nos quer ouvir. Se calhar nos irá ouvir quando emigrarmos todos para fora, ou então quando virem que aparecerão cada vez mais filhos ou então fazemos como fazem agora no Egito...
Perdoem o meu desabafo. Apenas o faço porque sinto a caldeira a estourar, e acho que todos vocês têm os vossos dias de cão. Tenho alguns, mas o meu grande defeito é que guardo-os para mim.
Uma das razões que fiz este blog, para além do meu amor ao automobilismo, foi tamém uma oportunidade de praticar a minha vontade de escrever. Senti ao longo deste tempo que paulatinamente conquistei o meu espaço e sou reconhecido pela minha qualidade. E ainda por cima, o meu prestigio é internacional, graças à atenção e carinho que recebo no Brasil. É otimo e espero que continue assim.
Desde há uns tempos que decidi que me iria dedicar à escrita, escrever livros. Tento todos os dias, para além de escrever aqui ou no Pódium GP (um projeto que gosto de ver crescer a cada dia que passa) escrever algumas páginas de ficção. Nem sempre alcanço isso, mas faço questão de ter isso em mente. Para além disso, já publiquei faz agora um ano, um livro sobre o blog. Foi uma experiência interessante para saber como é que as coisas funcionam. Agora sei que da próxima vez que me aventurar numa coisa destas, irei pedir ajuda profissional...
Em suma este desbafo, ou pedido de ajuda, se perferirem, é uma forma de libertar os meus fantasmas e expressar os meus desejos. Tem alturas em que adoraria fazer o meu próprio projeto, com mais algumas pessoas, no sentido de fazer o meu próprio jornal ou revista. Não no automobilismo, mas no desporto em geral, usando este admirável mundo novo que é a Internet. Mas com alguns elementos tradicionais, como um jornal, bem estruturado e financiado, com pés e cabeça, pequeno mas honrado, equilibrado e eficaz. Seria local, porque graças a experiência anterior, o potencial existe. Mas há um defeito: não consigo fazer isto sozinho, e sem ajuda e numa era como esta, continuará a ser um sonho.
Mais uma vez, desculpem o desabafo. Aquilo que quero desejar agora ao blog é uma longa vida. Vontade para escrever sobre o automobilismo haverá sempre, e a barreira de um milhão é agora uma questão de... dois a três meses. Não é uma ficção, é uma realidade cada vez mais próxima, graças a vocês.
Longa vida ao automobilismo! E amanhã será outro dia.
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