(continuação do capitulo anterior)
Coloco aqui hoje no meu blog a segunda parte da biografia escrita pelo Guilherme Miranda sobre o piloto de ralis italiano Attilio Bettega, um dos melhores da sua geração, desaparecido precocemente há 25 anos num Rali da Córsega, ao volante do seu Lancia 037.
"Só que o Grupo B estava em constante evolução, e em 1984 o Lancia 037 viu-se “a braços” com a oposição de luxo do Audi Quattro Sport e do Peugeot 205 T16, todos de quatro rodas motrizes. Apesar de não estar ao volante do carro favorito, Bettega teve a sua melhor época, terminando o Mundial de Ralis em quinto, com 49 pontos, e alcançando o seu melhor resultado em provas do WRC, o segundo lugar em Sanremo. Além disso, adicionou ao seu palmarés o Rallye di Monza, do Campeonato Italiano.
A temporada de 1985 parecia ser um ano difícil. Enquanto o novo modelo, o Delta S4, não estava pronto, a equipa oficial Martini Lancia estava “condenada” a usar os 037, que não tinham ritmo para acompanhar as equipas da frente. Nessa época, além do programa mundial, Bettega iria disputar as principais provas do Europeu de Ralis, aonde a Lancia ainda mantinha uma quase incontestada supremacia, ao volante da equipa Tre Gazelle-West, acompanhado do italiano Sergio Cresto, que já tinha sido seu co-piloto na Córsega e na Acrópole na temporada anterior.
A época começou mal, com uma sucessão de abandonos e, de regresso a ilha de Napoleão, Bettega pretendia inverter a malapata e estava a lutar pela vitória, ocupando o quarto posto à entrada da especial Zérubia-Santa Giulia, no Sudeste da Córsega, perto de Aullène. Pouco depois da partida do troço cronometrado, Bettega perdeu o controlo á saída de uma direita rápida, a cerca de 150 Km/h. O Lancia deslizou para a esquerda, bateu num poste e caiu numa ravina com cerca de 2,5 metros de profundidade, colidindo violentamente com uma árvore entre o tejadilho e o pára-brisas do lado direito do carro.
O impacto provocou morte instantânea a Attilio Bettega. O seu co-piloto, Maurizio Perissinot escapou incólume e subiu rapidamente para a estrada, de forma a alertar os outros pilotos do acidente. Biasion, Béguin e Chatriot pararam imediatamente as suas viaturas e a organização anulou a especial de imediato. A ambulância chegou ao local 20 minutos depois, mas os médicos nada mais pode fazer que constatar a morte do italiano.
A equipa oficial da Lancia retirou imediatamente Markku Alén em sinal de luto, enquanto que Miki Biasion, ao volante de um Lancia semi-oficial da Jolly Club abandonou após a sexta especial, pois não se sentia em condições de continuar. Quando a notícia da morte foi tornada pública, a equipa Tre Gazelle-West retirou os seus carros do Rally Zlatni Piassatzi, na Bulgária, aonde se disputava mais uma ronda do Europeu de Ralis.
Por ironia do destino, um ano depois, Henri Toivonen e Sérgio Cresto (que também tinha acompanhado Bettega) morreriam carbonizados após um acidente semelhante na prova corsa, ao volante do Lancia Delta S4. Tanto Bettega como Toivonen estavam inscritos com o número quatro, que nunca mais foi atribuído pela organização até 1996, quando Tommi Mäkinen o usou no seu Mitsubishi. Claro que o número não ditava sorte nem azar, mas ironicamente o finlandês viria a abandonar com o carro danificado, após atropelar uma vaca.
Bettega vivia com a sua mulher Isabella e com os seus dois filhos, Angela e Alessandro em Molveno, perto de Trento, aonde tinha um hotel junto ao lago, o qual contava gerir quando se retirasse. Alessandro viria a herdar a paixão pela velocidade do pai, e estreou-se nos ralis aos 19 anos.
Attilio Bettega ficará para sempre recordado como um dos melhores pilotos italianos dos Anos 80 e, se bem que nunca venceu uma prova no WRC, há que ter em conta que como colegas de equipa tinha homens como Markku Alén e Walter Röhrl, entre outros, além dos acidentes que sofreu. Quando morreu, aos 32 anos, estava próximo de atingir a maturidade como piloto e, ao volante de uma máquina competitiva, como o futuro Lancia Delta S4, Bettega seria provavelmente um dos candidatos a vitórias, tornando-se uma “ameaça” particularmente no asfalto, o seu terreno favorito.
Recordado como um piloto de talento, coragem e extremamente aplicado no desenvolvimento do carro, merece também ser recordado como Homem; uma pessoa apaixonada pela competição automóvel, mas extremamente humilde, simples e acessível, recordado ainda hoje pela simpatia que dedicava aos adeptos e respeito com que tratava os adversários; ambos, por isso, muito o admiravam e catalogavam de um dos últimos “Gentlemans” da competição. Apesar de italiano, não tinha temperamento latino, sendo aliás uma pessoa muito reservada, que até era conhecido por detestar o futebol italiano, pela violência que traduzia.
Para mim, este é e será sempre o legado que nos deixou Attilio Bettega."
Bibliografia:
Revista “Turbo”, nº 45, 06/1985;
Revista “MotorSport”, 06/1985;
Quero deixar também um agradecimento muito grande a Nanni Dietrich, um ex-jornalista italiano, autor do texto do site Motorsport Memorial, no qual me baseei extensamente (com a sua permissão), e que me forneceu mais informações depois de o ter contactado.
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