A semana que passou marcou mais um capitulo na luta pelo controlo da marca "Formula 1". Primeiro, os habituais rumores e as tentativas de desementido - mesmo sitios respeitáveis como o Pitpass.com diziam que a oferta carecia de sentido - e depois o comunicado oficial de que a News Corp, em associação com a Exor Group, que tem como grande accionista o Grupo Fiat - que controla a Ferrari - estava a preparar uma proposta de aquisição dos direitos da Formula 1 à CVC Capital Partners, a empresa que os detêm.
Bernie Ecclestone jurou a pés juntos e gritou aos quatro cantos da Terra que as hipóteses de venda eram zero, mas como ele não controla a CVC Capital Partners, pode-se dizer que neste campo, não podia fazer muito. Alguns disseram que esta proposta é um "cheque ao rei" - afinal, a CVC é muito mais pragmática e menos sedenta de dinheiro e poder que o Tio Bernie - e que isto poderia ser o principio do fim da presença do "anãozinho tenebroso" na Formula 1. De uma certa forma, é verdade, mas até lermos a última página deste capitulo, muita água vai correr debaixo da ponte.
E é nesse periodo de tempo que as coisas vão aquecer. Mas do que especular sobre os parceiros da Exor quererem uma "Formula Ferrari" - francamente, não acredito - o que se pode tirar disto é que as equipas e a FIA veriam com bons olhos esta negociação. Todt nada diz, mas sorri, as equipas estão atentas mas tendem a condescer sobre este parceiro. O chato é que isto acontece quando se discute o novo Pacto de Concordia e Ecclestone faz finca-pé sobre a sua parte e tenta dividir a FOTA, abrindo os cordões à bolsa à única equipa que lá não está, a Hispania. E nas semanas que aí vêm, essa "guerra surda" ou "guerra fria" vai ficar cada vez mais barulhenta devido aos assuntos pendentes, como o GP do Bahrein.
Nesse campo, Ecclestone exagera na sua teimosia ao obrigar as equipas a irem para o agora problemático emirado e lá correr, mesmo que seja no dia 31 de dezembro às 11:59 da noite. O adiamento na decisão sobre a corrida coloca nervosismo nas equipas, nas televisões e na FIA, que querem deixar cair a corrida, enquanto que Ecclestone inventa comunicados a dizer que "está tudo bem e as equipas querem lá voltar o quanto antes". E aqui nem se coloca a questão dos 40 milhões que irá perder em caso de cancelamento, é uma questão de teimosia pura e dura.
E esse adiamento da decisão poderá enervar toda a gente, pois ninguém pode fazer planos com essa "espada de Dâmocles" sobre as suas cabeças. Aliás, uma das razões porque eles poderiam estar a simpatizar com a proposta da News Corp e da Exor é o controlo do calendário, que pretendem que seja mais europeu, em detrimento das aventuras ecclestonianas em paises exóticos, liderados por déspotas esclarecidos e cuja entrada da pista no calendário seria o capricho do lider local, e as pistas sejam construídas no monopólio tilkeano.
Claro, pode haver um lado mau nisto, que a Formula 1 seja uma actividade crescentemente vista por uma elite, em canais pagos principescamente. Num mundo cada vez mais digital e cada vez mais fragmentado, os europeus e americanos acabarão por ter de pagar mais para ver a Formula 1 em todo o seu esplendor, pois é isso que faz a News Corp com os seus canais temáticos. O futebol, o boxe, o rugby, etc... é visto nesses canais dessa forma, acabando com a ideia do serviço público e transformando a Formula 1 num desporto visto pelos fanáticos, em que tens de pagar para ver. Em Portugal é uma realidade, mas não o é no Brasil ou na Grã-Bretanha, onde é visto na BBC. Mas se o negócio for fechado, os dias da Formula 1 em canal aberto estarão certamente contados um pouco por todo o mundo.
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