E era assim que a Formula 1 chegava ao México: um ambiente descontraído para todos, que preparavam a próxima temporada. Falava-se de evoluções, aparições e lições tiradas para esta época. A Ferrari iria ficar com dois carros e evoluir o seu carro, e o Commendatore tinha escolhido ficar com Andrea Bernardini, apesar de não ter ganho qualquer corrida neste ano, enquanto que Michele Guarini teria de procurar outras paragens. Ele já tinha escolhido correr pela rival Lamborghini, mas não comunicaria a decisão antes do dia de Ano Novo de 1972.
A Matra tinha tido um ano para esquecer, mas mantinha a confiança na dupla gaulesa constituída por Gilles Carpentier e Pierre Brasseur. O carro seria novo e esperavas-se que recuperaria o esplendor de anos anteriores, embora não fosse fácil, pois também apostavam na Interseries, a par da Ferrari, Porsche e futuramente Lamborghini e Alpine- Renault.
A BRM queria manter Teddy Solana e Anders Gustafsson na sua equipa, mas desejava o patrocinador que Bob Turner tinha arranjado para o seu pupilo Brian Hocking. O carro de Turner era vermelho e branco, da tabaqueira Marlboro, e tinha imenso dinheiro para dar. Ele esperava que com eles a bordo, poderia dar o passo para construir o seu próprio chassis, o mais tardar em 1973, com motor BRM. Contudo, Louis Stanley convenceu a tabaqueira para ficar com eles, tudo isto nas costas de Bob Turner, e o anuncio do acordo tinha sido ali mesmo, no México.
Turner, um cavalheiro respeitado e respeitável, manteve a fleuma britânica e o bom humor, afirmando um pouco sarcasticamente para os seus amigos no “paddock” que “tinha muitas cicatrizes nas pernas, mas facadas nas costas era algo novo”, e o ambiente nesse final de semana na boxe da BRM era tenso.
Na sexta-feira à noite, Pete Aaron e Bob Turner encontraram-se ao jantar e conversaram sobre o futuro próximo. Entre os pratos tipicamente mexicanos e garrafas francesas de vinho, ambos falaram sobre 1972.
- Então, estás a absorver a facada nas costas?
- Não, e é horrível. Ainda por cima neste fim de semana que tenho de aturar o Stanley.
- De facto, ficaste de repente sem patrocinador…
- É verdade, embora tenha conseguido amealhar dinheiro. Arranjo outro mais tarde, quando regressar à Grã-Bretanha. Basta o meu charme e o meu nome para arranjar um logo, logo.
- Desejo-te sorte. E vais continuar com a BRM?
- Francamente, não. Mas também não vou construir ainda o meu chassis. Ainda acho que é mais barato arranjar os dos outros do que fazer o meu. Pode ser que em 1973 ou 74 tente isso, mas falta-me experiência…
- E o motor?
- O vosso serve-me perfeitamente.
- Nosso?
- Ora, não andam com os Cosworth V8?
- Ah pois… esqueci-me desse promenor. E o piloto?
- O Brian continua a alinhar comigo. Vai ser um só carro, mesmo que arranje dinheiro para dois, três ou cinco…
- Tantos?
- Então não sabes? O Stanley quer fazer da BRM um chassis de referência. Alugar carros para pilotos pagantes, como aconteceu a mim. Acho que o muito dinheiro que conseguiu arranjar lhe subiu à cabeça. Aliás, até me tinha pedido que ficasse em 72.
- E que respondeste?
- Disse que ia pensar, mas confesso que é só de boca para fora…
- E já que recusas a BRM, que alternativas tens?
- Bom, sempre posso encomendar um. March, Lola, Chevron… quem sabe, tu.
- Quanto estarias disposto a pagar?
- Talvez 30 mil.
- Isso é dinheiro.
- Os valores sobem cada vez mais. Este ano a Marlboro deu-me quase 50 mil para pintar o carro com as suas cores, e isso fez-me andar descansado, nem procurei por mais patrocinadores. E se calhar para o ano vão gastar muito mais. Ouvi falar em vinte vezes mais.
- O quê, estás a falar a sério? Um milhão de dólares?
- Foi o que ouvi falar. Mas não deve ser para um só ano. Talvez sejam mais. E tu?
- Tenho o meu patrocinador principal, e estou satisfeito.
- Mas precisas de mais.
- A Goodyear já me dá o que quero. E até tive proposta da Elf.
- E o que fizeste?
- Recusei.
- Porquê?
- Eles impunham um piloto francês. Não tenho vontade para colocar um terceiro carro na pista nem dispensar qualquer um dos pilotos.
- Ahhh…
- Achei estranho eles terem feito isto. Pensava que estavam felizes na Matra.
- A Matra não está no seu melhor ano, meu caro.
- Lá isso é verdade. Mas porque não injectam dinheiro na sua equipa. Enfim…
Pete sorriu e lenvantou o copo. Brindou afirmando:
- A ti, amigo. Espero que consigas o que procuras.
- Desejo o mesmo a ti.
(continua amanhã)
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