Com a azáfama dos dias, passou-me totalmente de lado que na passada segunda-feira comemoraram-se os 40 anos sobre o acidente fatal de Pedro Rodriguez na pista alemã de Norisring, em Nuremberga. Bom, como mais vale tarde do que nunca, aí vai.
Para quem nunca o viu correr ao vivo, digo-vos que era rápido e bom naquilo que fazia. Em qualquer carro. Ele nunca soube, mas nós sabemos agora, que partilha a sua data de nascimento com Gilles Villeneuve - os dois nasceram com exatamente dez anos de diferença - e especialmente à chuva, Rodriguez era um piloto que se dava como peixe na água. Talvez seja por isso que adorava Spa-Francochamps, pois é uma pista cujo microclima é variável e frequentemente era palco de fortes chuvadas...
Nós, os mais novos, não sabemos, mas quando os irmãos Rodriguez - ele e o irmão Ricardo - apareceram, foram logo chamados de "meninos prodigio", pois nos anos 50, eram meros adolescentes quando tomaram de assalto as pistas americanas, o palco ideal para demonstrar o seu talento nos automóveis. Eram tão bons que os donos de equipa lhes concederam carros potentes quando tinham recém-completado a maioridade. Ou nem por isso, no caso de Ricardo. Só para terem uma ideia: quando correram na Nassau Speed Week, mas Bahamas, em 1957, Pedro tinha 17 anos e guiava um Ferrari, enquanto que Ricardo tinha apenas... 15 anos e andava num Porsche. E mostraram ser tão bons naquilo que faziam, pois nessa corrida, Ricardo ganhou na clase de 1.5 litros.
Ricardo provou ser um piloto muito bom, mas a sua carreira foi permatura. Chegou à formula 1, conseguiu um pódio em Le Mans, mas morreu aos 20 anos ao volante de um Lotus da Rab Walker Racing durante os treinos do GP do México, na temida Curva Peraltada. Ricardo pensou sériamente em abandonar a competição, mas continuou a correr. Estava mais interessado em correr na Endurance, onde fez história como um "all-rounder" onde era bom em qualquer máquina, seja na Can-Am ou NASCAR. Até me meteu nas corridas de gelo, sendo campeão americano em 1970.
Pedro marcou a sua posição como grande piloto, especialmente à chuva. Foi um dos que ganhou com o Ford GT40 em Le Mans, em 1968, ao lado do belga Lucien Bianchi, e foi um dos que deu nome aos Porsche 917. Piloto da Wyer competition, no famoso Porsche 917K com as cores da Gulf, Rodriguez travou uma rivalidade e companheirismo com o suiço Jo Siffert. As suas vitórias nos 1000 km de Brands Hatch e nos 1000 km de Spa-Francochamps, em 1970 e 71, demonstraram que era um dos melhores do seu tempo. E adorava o velho Spa-Francochamps, pois foi dos poucos a vencer ali quer na Endurance, quer na Formula 1. Nem mesmo Jacky Ickx conseguiu tal proeza!
Na Formula 1, a sua participação tinha sido esporádica, até que certo dia, em 1967, decidiu correr uma temporada pela Cooper. E na sua primeira corrida, em Kyalami, Rodriguez conseguiu sobreviver ao inferno caloroso do Verão austral, naquele dia de Ano Novo, para ser o primeiro - e até agora unico - mexicano a vencder uma corrida. A partir dali, ficou na categoria máxima do automobilismo de forma permanente, na Cooper, BRM e Ferrari, antes de regressar à BRM... e ao lado de Jo Siffert, seu companheiro na Wyer.
Em julho de 1971, Pedro Rodriguez, no alto dos seus 31 anos, estava a ter uma boa temporada. Tinha sido coroado campeão do mundo de endurance com o seu Wyer-Porsche - embora o título era oficioso e não oficial - e na Formula 1, estava a ter uma boa temporada com o seu BRM. Tinha feito uma grande corrida em Zandvoort, semanas antes, onde lutou pela vitíoria com o Ferrari de Jacky Ickx no GP da Holanda. O belga levou a melhor, mas ele não estava lá quando Rodriguez foi correr as 200 Milhas de Norisring. Não tinha necessidade de lá ir, mas o seu amigo Herbert Muller o convidou para correr com ele, num Ferrari 512.
Era a máquina mais potente do pelotão, e cedo se viu na liderança com o carro. Na volta onze, passava o retardatário Kurt Hild quando de repente, perdeu o controlo do seu carro - aparentemente devido a um furo - batendo a mais de 220 km/hora na ponte. O impacto foi tão forte que foi parar do outro lado da pista, onde o seu carro pegou fogo. Os bombeiros demoraram dois minutos para o tirar, mas ele já estava mortalmente ferido, com uma fratura cranio-encefálica e queimaduras graves no seu corpo.
O legado é grande: há o mais notório, com o Autódromo mexicano a ser batizado com o seu nome e do seu irmão. Ambos estão enterrados lado a lado no maior cemitério da cidade, no Panteón Español, e a primeira curva do circuito de Daytona foi dado em seu nome, pois ele venceu aí por quatro vezes, a última das quais no inicio de 1971, com o seu Porsche. Hoje em dia, o México está de novo na Formula 1 graças a Sérgio Perez. Mas certamente há muita gente, especialmente os mais velhos, se lembra dos manos Rodriguez quando o vê correr.
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