De sábado para domingo, fiquei até às cinco da manhã para ver futebol. Não era um jogo qualquer, era uma final de um Mundial de futebol da categoria sub-20, totalmente falada em português. Portugal vs Brasil. A final foi bem disputada, muito equilibrada (ao contrário de alguns "comentadores" brasucas que julgavam que ganhariam de goleada. Perderam uma oportunidade para estarem calados...) e foi a prolongamento. No final, venceu o Brasil, aproveitando o cansaço dos jogadores portugueses. Mas o contrário poderia ter acontecido e não teria sido injusto. Estou feliz pela trajetória destes sub-20, mas não sinto o orgulho bacoco que já li em alguns lados, porque pelo que vi do jogo, senti que tinhamos o pássaro na mão e deixamos voar.
Mas hoje eu quebro o silêncio sobre futebol para falar sobre o tratamento que eles têm agora e o que tinham antes de começarem esta trajetória, há quase mês e meio. Sendo um leitor diário de jornais deportivos, digo-vos isto: é como se fosse da noite para o dia. No inicio de julho, nenhuma televisão filmava os treinos desta seleção no Jamor e fazia matérias nos seus telejornais. Nem para os canais de noticias existentes... agora, quando chegarem a solo português, terão não só milhares de pessoas a aplaudirem-os no aeroporto, como também terão os canais de noticias a fazerem diretos atrás de diretos, depois de terem aberto telejornais com os seus feitos futebolisticos. Especialmente depois do jogo da meia-final.
Eis um exemplo: orgãos de comunicação social como o jornal "A Bola" seguiram esta equipa nacional desde a concentração - digo isto porque o jornalista que o acompanhou é meu amigo dos tempos da universidade - e em termos de televisão, a Eurosport acompanhou este mundial desde o primeiro jogo. A RTP, que deveria nos dar serviço público de televisão, decidiu acompanhar esta seleção... a partir dos oitavos de final. E passaram do oito ao oitenta: ontem, no jogo da final, tinham dois enviados-especiais, fizeram três diretos na hora do Telejornal e uma emissão especial que começou... duas horas e meia antes do jogo.
Bem dizia o comentador do Eurosport que "não apanhamos o comboio a meio". Se isto não é oportunismo, então não sei o que é.
De uma certa forma, é a mentalidade que existe, nos dois lados do Atlântico. Aqui há um respeito pela seleção, quem quer que seja, no Brasil, nem tanto, por causa daquela mentalidade de "o segundo classificado é o primeiro dos últimos". Leio frequentemente comentários de amigos meus em Terras de Vera Cruz que os chamam - não interessa o escalão - de "Selecinha" ou "SeleNike", que curiosamente é a mesma marca que veste a seleção portuguesa. Podemos ser agora vice-campeões do mundo de sub-20, mas não passa pela nossa cabeça chamamos a essa gente de "SeleNike"...
Mas por outro lado, podemos ver que os brasileiros aproveitam muito melhor os seus talentos do que nós. Eles fazem isso para os exportar para a Europa, que graças á famigerada "lei Bosman", abriu as comportas para que o talento puro e duro vindo da América do Sul possa permanecer nos clubes europeus, sem quaisquer restrições. São baratos, estão à mão e já deram provas, ao contrário dos portugueses ou outros europeus. Daí que no nosso caso, a quase esmagadora maioria dos nossos Sub-20 são suplentes nos seus clubes, emprestados na II Divisão ou até "exilados" no estrangeiro. O Danilo, aquele "bisonte" central desta seleção, o Benfica deixou escapar para o Parma, e provavelmente quando voltar a jogar num clube português, será por um clube rival. Quando acontecer - sim, tenho a certeza que vai acontecer - , vou chamar a esses responsáveis de "idiotas" até dizer chega.
Mas enfim, sejamos honestos: neste mês e meio, um pais inteiro descobriu uma equipa. Agora chamam-lhes "geração coragem", especialmente por causa do espirito de grupo e pelos feitos incriveis, especialmente o fato de terem chegado à final sem sofrer qualquer golo. No inicio de julho, só os especialistas, os que seguem atentamente o futebol é que sabiam quem era o Mika, o Danilo, o Sérgio Oliveira e o Nelson Oliveira, e pensavam que o Caetano era o pai, e não o filho, e julgavam que o Nuno Reis era um dos DJ's da Antena 3. Agora, descobrimos esta gente toda e a garantia de que a atual geração tem substitutos à altura. Desde que os clubes os acarinhem e não os exilem para o APOEL de Chipre...
Espero e desejo que a partir de agora, os clubes nacionais comecem a aproveitar os talentos dentro dos seus clubes, dando oportunidades para jogar no plantel principal e não os vão buscar à Colômbia, Argentina ou Brasil. Eu sei que é uma utopia, porque os "burros velhos não aprendem linguas novas", mas às vezes vale a pena sonhar.
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