A FOTA pode andar algo adormecida ao longo desta temporada, mas pode-se afirmar que não está a hibernar, porque no ano que vêm, vai ter de negociar com Bernie Ecclestone e a FIA, de Jean Todt, um novo Pacto de Concórdia. Esta semana, surgiram noticias de que a entidade que toma conta dos interesses das equipas contrataram uma empresa de advogados, a DC Advisory Partners, para os aconselhar sobre uma possivel aquisição desses direitos à CVC Capital Partners, e depois transofrmar a Formula 1 numa NBA sobre rodas. Livrando-se, claro, de Bernie Ecclestone.
Li sobre o assunto no blog do Joe Saward, mas só hoje é que olho para ele com "olhos de ver" E à sua maneira - ácida e sarcástica, sejamos honestos - explica porque é que Bernie Ecclestone tem ganho sempre que as equipas tentam tirar os direitos da Formula 1 das suas mãos:
"Um bando de capitalistas (CVC) emprestou dinheiro [a Bernie Ecclestone] para que este tivesse controlo do negócio, dando uma pilha de dinheiro ao 'senhor E', que 'trancou' tudo isso em fundos de investimento, para que as suas filhas gastassem tudo em casas e casamentos luxuosos. Desde então que a F1 está a pagar à CVC esse empréstimo, pois esta é uma 'galinha dos ovos de ouro'.
Só em tempos mais recentes é que as equipas chegaram à conclusão de que negociando coletivamente, como um bloco, é que terão mais poder. Tentaram isso anteriormente, mas em cada ocasião, Bernie conseguiu "dividir e conquistar", usando a mesma tática: separar a Ferrari das outras equipas por todos os meios possiveis, para depois chegar a um acordo por uma soma razoável. A Ferrari é uma construtora italiana de supercarros, que não está muito interessada em envolver-se nos aspectos negóciais deste desporto. E com a Ferrari neutralizada, as outras equipas tinham apenas de ficar com aquilo que apareciam.
Só que as coisas modificaram-se um pouco. A Ferrari chegou a conslusão de que pode conseguir mais dinheiro nos direitos da F1, e foi por isso que fundou a FOTA, para avisar à CVC de que a 'galinha dos ovos de ouro quer ser a dona do galinheiro'. É absolutamente lógico. Se um bando de financiadores empresta dinheiro para fazer funcionar o negócio, um grupo de equipas pode fazer a mesma coisa. A chave é construir o 'consórcio certo' para tratar do aspecto financeiro, e se este aparecer com o cheque com numeros suficientemente altos para impressionar os parceiros de Bernie, estes poderão ir embora tranquilamente com esse dinheiro e então o 'Senhor E' iria trabalhar em beneficio das equipas, para além de trabalhar para ele próprio."
O empréstimo que o Joe fala aconteceu no inicio deste século, e que valeu mais de mil milhões de dólares, que devem ser pagos em suaves prestações anuais, ao longo de muitos anos. Enquanto isso, ele e o seu cumplice, Max Mosley arranjou um negócio do qual ele teria os direitos da F1 - ou seja, a parte que cabia à FIA no Acordo de Concórdia - durante 99 anos, em troca de um valor anual dado á entidade máxima do desporto automóvel. Esse contrato, curiosamente, terminará em 2012.
É sabido que desde esta primavera que a EXOS, um consórcio onde estão envolvidos o Grupo FIAT e a Media Corp, do Rupert Murdoch, fez uma oferta para adquirir o negócio da Formula 1 ao tal grupo CVC. As negociações serão longas e complicadas, e poderão arrastar-se para 2012, altura em que tudo estará a ser negociado, como o Acordo da Concórdia. E claro, em 2014 teremos um novo regulamento em jogo na Formula 1, com o regresso dos motores Turbo de 1.6 litros, de seis cilindros em V.
Em suma, isto pode ser encarado como mais um episódio na contagem de espingardas. Se para Ecclestone, era fácil contornar a situação, porque tinha cumplices em todos os lados - como o Max Mosley na FIA - agora parece que as coisas serão mais complicadas. A Ferrari, que nada queria saber sobre os aspectos intrincados da coisa, agora quer o seu pedaço no bolo, e a FIA tem um Jean Todt que já demonstrou que pensa pela sua própria cabeça e ser tudo menos um "pau mandado" de Bernie Ecclestone. E nenhum desses lados vai ficar à espera que a Natureza siga o seu curso no caso do anãozinho tenebroso...
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