O caso do circuito de Austin, revelado nas últimas semanas mas que esta terça-feira rebentou em todo o seu esplendor (poucas horas depois de eu ter escrito isto) é o mais recente problema que Bernie Ecclestone têm nas suas mãos em relação a contratos futuros sobre circuitos e entidades que ele anda a negociar, algo que o faz há mais de 35 anos.
O problema de Austin é um duelo entre duas entidades, a que tem os direitos para construir o circuito, e a que tem os direitos de uma coisa abstracta chamada "Grande Prémio dos Estados Unidos". E como nenhuma das duas partes se entende neste aspecto, a entidade que está a construir o circuito decidiu parar as obras, afirmando que só volta quando tiver garantias de que irá ter a corrida em novembro de 2012. Ora, Ecclestone não está para brincadeiras e já disse que se isto continua assim, mais vale esperar mais um ano para ter a sua corrida nos Estados Unidos, mas em New Jersey, com Manhattan em pano de fundo.
Ecclestone funciona assim: quer um negócio feito, mas que sejam os outros a fazê-lo. Exige determinado caderno de encargos, mas são os outros que tem de arcar com essas despesas. Ele só vai lá para recolher o dinheiro e trazer o circo durante determinado período de tempo. Curioso é ele pedir sempre mais dez por cento a cada ano que passa, mesmo se o contrato em si já é bastante puxado. Mas se começarem a surgir problemas, ele pura e simplesmente se desliga do assunto e sai dali o mais depressa possível. É assim que ele funciona.
Agora que sabem disso, faço a pergunta que faz o título desta coluna. E porquê, duas semanas depois de ter escrito a mesma coisa? Porque os problemas continuam não só por resolver, porque também têm tendência para se agravarem. Nos últimos tempos tem surgido noticias de que as entidades que acolhem os Grandes Prémios tem chegado ao seu ponto de ruptura. Uns porque tem prejuízos constantes quando recebem a Formula 1 e afirmam que não conseguem mais pagar as exigências cada vez mais crescentes dele. Circuitos europeus como Hockenheim, Nurburgring, Spa-Francochamps, Barcelona e Valencia já disseram que quando terminarem os seus contratos irão exigir que ou que as suas exigências baixem, ou então que abdicarão de acolher a Formula 1. O ano de 2012 vai ser o penúltimo ou o último ano dos contratos de muitos circuitos, e quase todos já disseram que não querem continuar.
Até os circuitos asiáticos têm problemas. Singapura é um sucesso, mas os organizadores não tem pressa nenhuma em renovar o contrato, que terminará em 2012 e que custa aos cofres locais cerca de 50 milhões de dólares. E os problemas da Coreia do Sul, que lida com problemas com os habitantes locais, aliadas ao isolamento que o circuito de Mopko fica situado - demasiado longe de Seoul, a capital, e numa cidade que obriga parte da entourage da formula 1 a hospedar-se em... motéis - para além dos anticorpos que as equipas têm com o Bahrein, que vive tempos de agitação social, fazem com que se pergunte: quantos circuitos teremos em 2012?
Digo isto porque por esta altura já deveríamos saber do calendário definitivo para a temporada que aí vêm. Pode ser que saibamos em dezembro, depois da reunião do Conselho Mundial da FIA, mas como é Bernie Ecclestone que delineia o calendário e todos os outros só tem de abanar a cabeça, quais carneiros, o fato de os coreanos estarem dispostos a abdicar do seu Grande Prémio e dos construtores fazerem finca-pé no assunto Bahrein, e agora com os problemas de Austin, cada vez penso que não teremos vinte corridas em 2012. E se calhar poderão ser dezoito corridas.
Claro, pode haver beneficiados: sem o Bahrein, a Turquia, que saiu do calendário por causa do desinteresse das autoridades locais, está como reserva e poderia ter mais um ano de corridas do que aquilo que esperava. Porque há contratos a respeitar com as televisões, por exemplo, e Bernie Ecclestone sabe que caso hajam menos do que vinte corridas por temporada, as televisões irão reclamar indemnizações por quebra de contrato. E Ecclestone não está ali para perder dinheiro, claro.
Em suma: é estranho estarmos em novembro e não termos certeza sobre onde é que a Formula 1 andará dali a alguns meses. Creio que o "caso Austin" poderá ser apenas a ponta pública de um "iceberg" de proporçoes que só podemos imaginar, não é? E até pode ser que o Tio Bernie ande a perder o seu "toque de midas", devido ao sua excessiva obsessão com este negócio...
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