Há dez anos, quando entrei na universidade, uma das minhas colegas de turma do meu curso de jornalismo era a Viviane, uma venezuelana filha de pais portugueses. Tinha vindo de Valencia, no centro do país e era provavelmente a mais engraçada de todas, pois fisicamente fazia-me lembrar uma "Barbie": loura, magra e olhos claros. Logo, quando vi, percebi a razão porque a Venezuela ganhava tantos concursos de Miss Universo...
Mas a Viviane não era nenhuma cabeça de vento: era anti-Chavez e lembro-me dos dias agitados de abril de 2002, quando se tentou apear Hugo Chavez do poder. Ela andava agitada pelos corredores, a fazer a festa, dizendo no seu portunhol que "por fim o povo está a livrar-se de um ditador", entre outras coisas. Só que as coisas não resultaram e Chavez ficou, mas ela continuou a manter a sua retórica anti-chavista. No final daquele ano, pediu transferência para outro lado e perdi contato com ela.
Eu falo do exemplo dela para terem um exemplo de como as coisas se passam por aqulas bandas e o que representa o Hugo Chavez: ou se ama, ou se odeia. E se muita gente aplaude os seus feitos, tem muitos que o criticam, seja o seu estilo autoritário, sejam as suas politicas algo erráticas, seja o fanatismo das suas gentes, etc, num país crescentemente violento, onde se mata mais gente do que no Brasil, por exemplo.
Porque falo da Venezuela e do Huguito? Porque uma das coisas em que deu dinheiro foi no automobilismo, através da petrolifera PVDSA. Patrocina tanto na IndyCar como na Formula 1 através, respectivamente, de Ernesto Viso e Pastor Maldonado. Maldonado, campeão da GP2, "comprou" a sua passagem para a Formula 1, mais concretamente à Williams. Sabia-se que teria sido por muito dinheiro, mas nunca se soube realmente quanto. Graças à Serena, sei agora: 36 milhões de dólares por ano, 180 milhões de dólares durante cinco anos. Grande negócio, hein?
Ora, o problema não é o negócio em si, mas sim a maneira como foi feito. Basicamente, foi o "sim" do Hugo Chavez e nada mais. Todos os outros, como o Congresso, deram o seu aval, mas eram todos "chavistas". Agora, há mais pessoal da oposição, e um deles, Carlos Ramos, enviou no passado dia 14 uma carta a Frank Williams para pedir uma cópia do contrato, para que possa fazer uma investigação parlamentar sobre a legalidade desse contrato. E disse que aos olhos da lei, esse contrato é ilegal.
Li o assunto no Joe Saward e no final do dia conversei com a Serena sobre este fato. E das conversas que tivemos deu no post que publicou esta tarde. A Williams não respondeu ao pedido do congressista, até agora, mas este problema aparece na pior altura possivel, pois a equipa, mesmo com este dinheiro, tem problemas de fundos, perdendo patrocinadores a uma velocidade alucinante, e não consegue contratar o nome mais sonante e disponivel do momento: Kimi Raikkonen. Pelo menos, não da maneira como se esperaria que fosse. Para além de outros problemas que já falei no passado, como as brigas entre Adam Parr e o resto da equipa.
Assim sendo, mesmo que no próximo ano eles recebam de volta a Renault para reativar uma parceria de sucesso (1989-97), e mesmo que desejem outro mega-patrocinador e se esforce para que o FW 34 seja um carro revolucionário, parece que Frank Williams, um dos homens mais admirados da história, pode ter assinado um pacto com um "Diablo" mais lunático do que os sheiks árabes com quem lida há mais de trinta anos...
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