Depois de alguns meses de testes, especulações na "dança das cadeiras" e de carros feios como burro, chegamos neste meio de Março a Melbourne, o lugar onde todos queremos que a Formula 1 comece, porque é bem mais agradável e divertido do que o deserto. E depois de vermos - provavelmente com muita satisfação por parte de muita gente - que os bonitos McLaren tinham conseguido monopolizar a grelha de partida, toda a gente esperava pelo momento da largada para dizer que a longa temporada da Formula 1 de 2012 tinha, por fim, começado.
Com céu azul - a constrastar com o mau tempo dos últimos dois dias - a brindar Melbourne, toda a gente queria ver se os McLaren iriam dominar, se os Red Bull iriam aguentar, se Michael Schumacher iria subir ao pódio, se os Williams e a Lotus iriam fazer bonito, se a Ferrari iria minorar o seu fiasco... mas sobretudo, se a corrida iria valer a pena. E valeu, depois de apagarem as luzes, com Jenson Button a conseguir ser mais veloz que Lewis Hamilton na primeira curva, e a conseguir superar o seu companheiro de equipa onde deve ser. Atrás, Bruno Senna começava mal o seu campeonato, ao ser tocado pelo Toro Rosso de Daniel Ricciardo na primeira curva e a "posar para a fotografia". Mas iria continuar.
Quem já desistia era Nico Hulkenberg, e na volta seguinte, Romain Grosjean, que tendo partido mal, era tocado pelo Williams de Pastor Maldonado, e acabou por deitar fora a hipótese de um pódio. E na frente, Button tentava escapar de Hamilton, enquanto que Vettel chegava-se ao terceiro posto, numa altura em que Michael Schumacher parecia ir para uma boa corrida, mas esta acabou na volta 12, quando a sua caixa de velocidades abandonou-o.
Imediatamente a seguir houve as primeiras paragens nas boxes do ano, com Button e Vettel a fazerem-no ao mesmo tempo, tentando ganhar alguma coisa dos adversários. Hamilton parou na volta seguinte, e isso beneficiou Button, que de repente, ganhou uma vantagem de dez segundos para o seu companheiro de equipa. E atrás, havia recuperações: Alonso fazia o que sabia fazer com o seu Ferrari, com pneus mais duros e a não parar nas primeiras voltas, chegava-se ao quarto posto, mas atrás, o Sauber de Sergio Perez partia da 22ª e última posição e fazia a mesma coisa. Resultado: já estava no "top ten".
Na volta, 29 o Safety Car entra na pista por um motivo estranho, mas plausível: o Caterham de Vitaly Petrov para na reta da meta, devido a problemas mecânicos. A coisa durou três voltas, mas a razão veio depois: um camião-grua - provavelmente o mais veloz da Austrália - foi levado para o local para tirar dali o carro do russo, à falta de uma grua naquele local para o içar. Mas isto tinha acontecido na pior altura possivel, porque era na segunda janela de paragem nas boxes. Button tinha ido antes, mas Hamilton fora prejudicado por ela e acabou por ser passado por Vettel.
Feito o devido reboque, a corrida recomeçou e Button disparou para a frente, com Vettel em segundo a aguentar Hamilton, que queria redimir-se. Webber era agora o quarto e Alonso - que já tinha parado - a aguentar as investidas de Maldonado. E atrás, o Kimi Raikkonen também se chegava aos pontos, lutando com Nico Rosberg e os Saubers de Perez e de Kamui Kobayashi.
E atrás, as coisas andavam sombrias para Felipe Massa, que se arrastava na corrida, com Bruno Senna a tentar recuperar alguma coisa. Os dois acabaram por se encontrar... e chocar um com o outro. Senna teve um furo - que tarde tão azarada! - e arrastou-se até às boxes. Pouco depois, abandonava a corrida. Já Massa foi direito à garagem, acabando ali um fim de semana cinzento. O incidente foi colocado "sob investigação" pelos comissários de pista, que depois verão se é um puro incidente de corrida ou algo mais.
À medida que se aproximava do fim, parecia que tudo estava decidido na frente, e via-se as lutas no meio do pelotão. Hamilton segurava Webber. Alonso segurava Maldonado e os Sauber queriam pular mais posições, sob prejuízo de Rosberg e com Kimi à espreita. E era assim à entrada na última volta. E na luta pelo quinto lugar, Maldonado pressionava Alonso para tentar dar à Williams o seu melhor lugar desde 2009. Mas o espanhol teve sangue frio... e o venezuelano não. Ao bater no muro a meio da última volta deitou fora oito pontos certos e deu provavelmente um balde de água fria nos seu compatriotas e mostrou ao de cima a sua atitude dos tempos da GP2: muito veloz, mais muito inconsistente.
Nisso, Maldonado ainda tem de aprender que, para ser alguém tem que ter cabeça fria e ser pragmático. Aqui, só sai de Melbourne com uma vitória moral e a prova de que a Williams está viva.
Desconhecendo o drama que acontecia atrás, Button cruzava a meta com avanço sobre Sebastian Vettel, conseguindo a sua primeira vitória do ano, batendo os Red Bull. O alemão bicampeão do mundo era segundo, Lewis Hamilton o terceiro, aguentando Mark Webber. Fernando Alonso, aliviado da pressão de Maldonado, era quinto e um surpreendente Kamui Kobayashi era sexto, conseguindo passar duas posições na última volta, beneficiando do que aconteceu ao venezuelano e passando Rosberg, que se desentendera com Sergio "Checo" Perez.
O mexicano ficou com o oitavo posto, sendo passado por Kimi Raikkonen que, mostrando que não tinha desaprendido, conseguiu um ótimo sétimo posto neste seu regresso à Formula 1. A fechar o "top ten", ficaram o Toro Rosso de Daniel Ricciardo - os seus primeiros pontos da carreira - e o Force India de Paul di Resta, que conseguiram passar o outro Toro Rosso de Jean-Eric Vergne. Pastor Maldonado ficou com o 13º posto e Bruno Senna ainda se classificou na 16ª posição.
No final, um exultante Button agradecia à equipa: “O carro é bonito e é bom, obrigado rapazes...” demonstrando haver um bom trabalho nos lados de Woking, ao provar que os bicos de ornintorrinco estão errados. E no pódio, a cara tipicamente fechada de Lewis Hamilton mostrava que podia confiar no carro, mas que em termos de luta interna para o bicampeonato, partia a perder. E Sebastian Vettel, no segundo posto, pelo menos respirava aliviado a saber que as suas hipóteses de título, embora abaladas, se mantinham intactas.
E agora, de Melbourne passa-se para Sepang. Vai demorar uma semana, mas os adeptos da Formula 1 ficarão contentes. Depois da ausência de meses, uma overdose vinha mesmo a calhar.
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