Passadas as atribulações do GP do Bahrein, do qual já foi devidamente e exaustivamente explicados nos dias e semanas anteriores a esta corrida, seguimos para três semanas sem Formula 1, pois as coisas se arrumam para a Europa, mais concretamente para Barcelona, palco do GP de Espanha. Mas pelo meio teremos uma sessão de testes, a começar na terça-feira, 1 de maio, no circuito italiano de Mugello. Algo que os pilotos - e algumas equipas, claro - recebem de braços abertos, para recuperarem dos maus arranques da temporada.
Nesta terça-feira, véspera de feriado por estas bandas, houve algo que me chamou a atenção. Ao fazer a minha visita habitual ao Joe Saward quando li o seu post sobre as negociações do Pacto de Concórdia e a sua proposta de alargamento do calendário. Segundo ele, Bernie Ecclestone anda a tentar convencer as equipas de que, no novo Pacto de Concórdia, o limite de corridas no calendário passasse de 20 para 24.
Mais quatro corridas significariam - caso façamos as contas pela média de 40 milhões por corrida - 160 milhões de dólares nos cofres da FOM e de Bernie Ecclestone. Mas há limites: as equipas exigem um mínimo de doze semanas entre uma temporada e outra, e as habituais três semanas de pausa no verão, habitualmente em agosto, o mês de férias por excelência no Hemisfério Norte. E de acordo com o atual acordo, pelo menos metade dessas corridas tem de acontecer na Europa e nos Estados Unidos.
Por mim, à partida sou favorável ao alargamento. Mas qualquer negociata com Bernie Ecclestone por trás, tem algo mais pertinente. O dinheiro é o mais óbvio: mais 160, 200 milhões nos bolsos da Formula 1 são bem vindos, mas essas quatro viriam de onde? Vejamos as hipóteses: um regresso à Argentina e à Africa do Sul, dois clássicos, poderiam tornar a competição mais mundial. Mais uma prova no Qatar poderia fazer a competição mais centrada no Golfo Pérsico, e mais uma prova nos Estados Unidos, como está previsto para New Jersey a partir de 2013, seriam as hipóteses mais plausíveis.
Mas depois fico a pensar: uma "nascarização" da Formula 1 significa aumento de custos, caso esse alargamento seja à custa da Europa. Corridas em quatro semanas consecutivas seriam certamente plausíveis no Velho Continente, mas por exemplo fazer um Malásia-China-Bahrein cada uma com uma semana de intervalo, será seguramente mais complicado. O aumento de custos por parte das equipas e principalmente, aqueles que acompanham o automobilismo, como por exemplo, os jornalistas, irá certamente afastar muita gente da competição, como Joe Saward afirma no post. A NASCAR faz isto bem porque 98 por cento das suas provas são nos Estados Unidos, que apesar de ser um pais grande, tem uma máquina bem oleada. E não há as barreiras alfandegárias que tem o resto do mundo.
E claro, há o custo humano em termos de mecânicos, engenheiros e pilotos. Colocá-los fora dos seus entes queridos e respectivas familias pelo menos em metade do ano é um fardo enorme para essas pessoas. Haverá uma altura em que terão de escolher entre o automobilismo e a familia, e certamente haverá uma altura em que se fartarão de passar dias a fazer percursos aeroporto-hotel-circuito. Poderá ser uma maravilha para os que estão sentados em casa a ver as corridas, mas para os que acompanham, será uma competição de desgaste tão rápido como na pista.
Mas este artigo de Joe Saward também significa uma coisa: o Pacto, que muitos achavam alinhavado e definido, ainda não foi fechado. Aliás, estou desde há muito convencido que a "fonte" das noticias sobre o Pacto é o próprio Ecclestone, que coloca a sua versão como um "fait accompli", o que, como podem ver, está longe disso. Os eventos no Bahrein não deram muito para discutir mais pormenores, mas sabe-se que a Mercedes está a colocar muita oposição a ela, porque quer receber dinheiro não só dos seus tempos na Formula 1, mas pelas equipas que estiveram ali antes: Brawn GP, Honda, BAR e Tyrrell. Em suma, tudo o que alcançou desde 1970, que é tanto como a McLaren, por exemplo.
Em suma, o alargamento do calendário é mais um dos pormenores de um Pacto que por muito que Ecclestone diga o contrário, ainda está por fechar. Ainda faltam dois meses e pouco para o verão, altura que espero ver esse dossier fechado.
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