segunda-feira, 23 de abril de 2012

Bahrein, ou como a Formula 1 esteve no lado errado da História

Eu sei que sou um chato do galocha por insistir no caso do Bahrein, mas não queria deixar de passar em claro a noticia que li esta tarde na BBC, enquanto fazia a crónica anterior sobre o GP bareinta. O jornalista Andrew Benson, um dos editores de desporto do canal de televisão britânico e que claro, esteve ao longo do final de semana no pequeno emirado, ouviu o que os "insiders" da Formula 1 falaram sobre os eventos e ficou com a ideia de que ficaram zangados pelo facto do seu nome - e o da Formula 1, claro - estar neste lado errado da história.

"Contaram-me por fontes bem credíveis, dentro do mundo da Formula 1, que muitos dos patrões desportivos ficaram espantados com o até que ponto o bom nome deste desporto foi arrastado pela lama ao longo deste fim de semana, bem como o grande interesse que as grandes cadeias televisivas estiveram no assunto.

Mais do que as questões morais e de segurança que estiveram em jogo, existe claramente uma preocupação comercial, porque a Formula 1 "vende" sonhos e desejos. Mas o sonho tornou-se num pesadelo este final de semana, e nada disto irá beneficiar a imagem que este desporto está a apresentar ao mundo.

A Formula 1, por ser aquilo que é, se existir algo que poderá despertar para as potenciais consequências de correr num lugar como o Bahrein, este pode ser a altura".

O incómodo até pode ser dito por portas e janelas travessas, mas como disse, os factos estão lá. E provavelmente as pessoas começam a ficar incomodadas com o estilo de negócio de Bernie Ecclestone e começarão a olhar mais do que uma vez sobre a competição e sobre algumas palavras infelizes de pessoas como Martin Withmarsh e Sebastian Vettel. É que estes soundbytes tão cedo não serão esquecidos.

Esta noite, andei a ler um amigo meu na blogosfera, o Daniel Médici. Dele, coloco o seguinte extrato do seu post de hoje:

"Há alguns dias, quando questionado sobre como era correr num país em estado quase equivalente ao de guerra civil, o bicampeão Sebastian Vettel citou que não era algo legal, comparando a situação à do Brasil, mas que, dentro do autódromo, só pensava em correr. 

Isso causou mal estar entre alguns brasileiros. A verdade é que, embora a situação dos dois países não possa ser mais diferente, os arredores de Interlagos no domingo à noite após um GP não são nada seguros. Não há coquetéis molotov passeando pelo céu, mas existem (com o perdão do tucanês) cidadãos marginalizados e armados que não hesitam em complementar a renda do mês depenando pertences de gringos e não gringos. 

Por outro lado, a posição de Vettel suscita outro ponto de discussão: fazer um GP na China (sede de incontáveis violações do Estado aos direitos humanos mais básicos) ou no Brasil (onde um Estado negligente dá margem à violência endêmica) seria tão condenável quanto realizar uma prova no Bahrein?


ENCENAÇÃO


O fato é que nem a China nem o Brasil passam, atualmente, por uma crise de legitimidade política. Pode-se questionar os governantes, mas o sistema de governo em si não está em discussão. Além disso, a Fórmula 1 não está tão atada à elite política em nenhum lugar do mundo quanto no Bahrein. Some-se isso e há uma situação impraticável.

Por mais vergonhoso que tenha sido, e o foi, a Fórmula 1 insistiu em montar seu teatrinho em Sakhir e botou seus carros na pista. A categoria perdeu credibilidade ao se prestar a fazer esse papel. O governo barenita, que queria mostrar ao mundo que tudo estava bem, perdeu ao fingir tudo estava bem. E o povo barenita perdeu ao ser ultrajado pelo próprio governo, que esnobou seu clamor. (...)"

Há quem ache - e já estou a ser criticado por isso - que não tenho ou não devo ter opinião politica sobre o assunto, e que deveria ficar-me pelo automobilismo. As pessoas podem ter o direito de colocar as mãos nos ouvidos e cantarem uma ladainha qualquer, esperando que o problema passe por si. Ou meter a cabeça na areia, qual avestruz, ou pior, varrer o lixo para debaixo do tapete. Lamento, mas a minha consciência me impede  de fazer isso, principalmente quando o mundo lá fora decide invadir a Formula 1 e a usa para os seus propósitos pessoais.

É por isso que não gosto de Bernie Ecclestone: podemos estar eternamente agradecidos por ter moldado a Formula 1 ao que é hoje, modernizado e espalhado a todo o mundo, mas usá-la como uma prostituta de luxo, para os pbjetivos politicos do regime A ou B, deveria ser ofensivo para nós, os fãs de automobilismo. E pelas reações que coloco por aqui, não está a ser só o adepto comum que sentiu o incómodo. Ainda bem que aqueles que podem ter algum poder sobre a formula 1 também se tenham ficado incomodados, porque agora tem doze meses para o governo reverter ou modificar alguma coisa no sentido de ouvir o povo e ir de encontro às suas aspirações. Porque no ano que vêm, a Formula 1 voltará ao Bahrein. 

E será todos quererão passar pelo mesmo?

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