Interessante saber que esta semana, quase por uma coincidência no calendário, os eventos do Bahrein e de Imola estejam separados por três dias... e trinta anos. Foram eventos totalmente diferentes, mas há algo a uni-los: Bernie Ecclestone. Em 1982, ele era o patrão da Brabham e da FOCA, a associação de construtores que queria o seu quinhão no dinheiro das transmissões televisivas, contra a FISA, então liderada pelo francês Jean-Marie Balestre, e que por causa de vários pretextos, como o uso dos motores Turbo - ironicamente, Ecclestone tinha começado a usar nesse ano motores BMW nos seus carros - até a questões relacionados com o efeito-solo - a abolição das saias, ordenada por Balestre em 1980, tinha sido o estopim - levou a que neste dia 25 de abril de 1982, apenas 14 carros tinham alinhado em Imola.
Nesse dia, as equipas de fábrica, quase todas não-britânicas, estavam lá: Renault, Ferrari, Alfa Romeo, ATS, Osella. Houve equipas britânicas que furaram o boicote, como a Tyrrell e a Toleman, mas no primeiro caso, tinha a ver com os patrocinadores italianos, trazidos por Michele Alboreto. No segundo caso era porque eles tinham motores turbo, preparados por Brian Hart. Curiosamente, todos os que boicotaram eram britânicos, excepto a Ligier, que tinha motores Matra V12, mas que decidiu ser solidária.
Não foi por ausência deles que a corrida não deixou de ser animada. E mais engraçado ainda: o circuito estava cheio de "tiffosi", sinal de que não estavam tristes por verem metade do pelotão. Queriam ver a Ferrari ganhar. De 14, apenas chegaram seis - depois de cortar a meta, o ATS de Manfred Winkelhock foi desclassificado - e a luta foi, até meio da corrida, entre Renault e Ferrari. Quando os carros franceses foram ao ar devido aos seus Turbos defeituosos, parecia que iria ser um passeio para Gilles Villeneuve e Didier Pironi.
Só que, claro, não foi. Apesar das ordens em contrário, Pironi decidiu mandar a hierarquia às malvas, o que teria significado seguir Gilles Villeneuve em comboio até à meta, e decidiu entrar em duelo com ele. Parecia sacrilégio, mas os "tiffosi" pensavam que fazia parte do espectáculo. Claro, aplaudiram o gesto, mas não sabiam que aquilo tudo era obra própria de Pironi. Villeneuve viu que a hierarquia tinha sido desrespeitada e andou atrás dele, até ficar com o comando, julgando que as coisas se acalmariam. Não foi, e Pironi só se acalmou depois da bandeira de xadrez, com ele no primeiro lugar. O canadiano ficou lívido, e sem saberem, tinham desencadeado a sequência de eventos que teriam um final trágico duas semanas depois, em Zolder.
Enquanto Bernie Ecclestone for vivo, a Formula 1 não verá nada parecido. Porque primeiro que tudo, é ele que manda, e a máquina está melhor oleada do que em 1982. Personalidade dominante, ele fez o possível nestes últimos 30 anos para que fosse ele a mandar, e sabendo que as equipas queriam apenas o seu quinhão do dinheiro, deu-lhes o que queriam. Aliás, depois da sua manifestação de força em Imola, as duas partes chegaram a um acordo, que chamamos hoje de Pacto da Concórdia, renovado a cada quatro ou cinco anos. Todos ficaram satisfeitos, especialmente o patrão da Brabham, que a partir dali, construiu grande parte da sua fortuna. Em 2012, ele é o quarto homem mais rico da Grã-Bretanha.
Vocês estarão a ver Felipe Massa a comportar-se como Didier Pironi? Claro que não. Teve a sua oportunidade e não a aproveitou.
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